De Birmingham ao mundo, de volta ao começo: o legado do Black Sabbath

Mônica Porto Apenburg Trindade

Doutora em História (Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ)

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Integrante do Laboratório de Pesquisa do Mundo Contemporâneo (Contemporaneus/UFRR/CNPq)

E-mail: apenburg@getempo.org

Imagem retirada de: https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2025/07/05/ao-vivo-assistir-despedida-show-black-sabbath-ozzy-osbourne/

 

Para os fãs do heavy metal, 05 de julho de 2025 ficará marcado como o fim de uma era. Em sua cidade natal, Aston, distrito de Birmingham/Reino Unido, após um hiato de 20 anos, o vocalista Ozzy Osbourn (1948-), o guitarrista Tony Iommi (1948-), o baixista Geezer Butler (1949-) e o baterista Bill Ward (1948-), componentes originais do Black Sabbath, subiram juntos ao palco no festival Back to the Beginning, show de despedida da banda.

Com um caráter beneficente, cujo lucro arrecadado foi destinado para instituições de caridade e pesquisa, dentre elas, a Cure Parkinson’s, que apoia e financia estudos voltados para o retardamento ou interrupção da doença de Parkinson, o megaevento Back to the Beginning (De Volta ao Começo) não somente abrigou fãs de várias partes do mundo e internautas que acompanharam as apresentações de forma online, como também contou com a participação de artistas renomados do universo do metal, a exemplo de bandas como Metallica, Guns N’ Roses, Slayer, Pantera, Anthrax, dentre outros nomes do heavy metal.

Além dessa característica filantrópica, o intuito central do evento foi homenagear o Black Sabbath, encarada por alguns estudiosos do rock e por uma parcela dos críticos musicais como uma das bandas pioneiras do heavy metal britânico. Criado oficialmente em 1969, o referido grupo, formado até então por jovens rapazes que procuravam escapar do difícil cotidiano de trabalho fabril em Birmingham, encontrou na música, uma maneira de ganhar dinheiro e de desabafar suas insatisfações e inquietações perante o contexto vivido da Guerra Fria (1947-1991).

Logo, o Sabbath lançou mão dos riffs marcantes em suas canções, as mudanças constantes de compasso, o volume extremo e a composição das letras que enfatizavam o sombrio e o macabro. Desta maneira, os garotos de Birmingham imprimiram seu registro enquanto um dos principais representantes do heavy metal à época. O primeiro álbum da banda, o “Black Sabbath”, lançado em fevereiro de 1970, numa estratégica sexta-feira 13, conquistou rapidamente o sucesso, ficando entre os dez discos mais vendidos da Inglaterra, seguido pelo lançamento também, no mesmo ano, do segundo disco, “Paranoid”, que conquistou a décima segunda posição nos EUA e a primeira no Reino Unido em um período de 27 semanas. O significativo sucesso do Sabbath, apresentado praticamente um ano após o sua criação, deveu-se ao fato de que nenhum outro disco da época apresentava o tipo de som tocado pela banda, nem exibia uma estética ligada à simbologia do mal ou da figura do diabo, sem contar com um vocalista que cantava em tom de desespero como o Ozzy Osbourn.

De qualquer forma, a ascensão da banda foi se constituindo em ritmo crescente, conquistando cada vez mais um público diversificado, oriundo de diferentes localidades do mundo, que lotavam os shows, compravam os discos e que se identificavam com o som, as mensagens transmitidas mediante as letras das canções e com a estética marcante dos componentes do grupo. Ao todo, o Black Sabbath vendeu mais de 75 milhões de álbuns, sem contar com o amplo acesso do público às plataformas de streaming, onde também constam os álbuns, singles, vídeos e demais produções do grupo.

Portanto, não é exagero afirmarmos que o poder de alcance apresentado pelo Black Sabbath ao longo de sua trajetória é indiscutível. Mas, ao percebermos tal aspecto, atentamos para algo maior, para o poder do próprio heavy metal. O referido subgênero do rock despontou no final dos anos 1960, na Inglaterra e nos EUA, como uma espécie de porta-voz de uma geração mergulhada na desilusão com o presente e em meio ao pessimismo perante o futuro. Diante disso, os jovens à época, atingidos pelo desemprego e impacientes perante uma guerra que já durava cerca de duas décadas, encontraram no heavy metal (metal pesado), a força e o impulso vital para continuar.

Desta maneira, compreendemos não só o contexto que levou ao explosivo sucesso e notoriedade do Black Sabbath, mas entendemos também, como o heavy metal conseguiu imprimir nas vidas desses atuais “jovens senhores”, o poder e a força visceral que impulsiona, que desperta a alma e o corpo adormecido pela imposição dos anos e dos problemas de saúde. Quase 60 anos após o seu surgimento, o Sabbath demonstrou ao público que acompanhou sua trajetória, bem como aos fãs mais jovens, a arte de voltar ao passado, de buscar no começo ou origem a sua própria vitalidade e força inicial que ajudaram na definição de sua própria identidade no presente.

Assim, o Black Sabbath sai de cena, deixando um rico legado para as gerações futuras. Sua obra, estética e incongruências resultantes de sua ligação com o rock e o próprio contexto da guerra fria ficarão para a posteridade e para a história. Mas é salutar dizermos que, embora os “jovens senhores” de Birmingham representantes do heavy metal despeçam-se dele, o heavy metal não finaliza juntamente com o Black Sabbath. Ao contrário, a força do metal continua como essência seja impulsionando o cansado e debilitado Ozzy Osbourne acometido pelo Parkinson a quase levantar-se do seu trono enquanto cantava no derradeiro show ou quando precisamos gritar no dia a dia contra os nossos medos e encontramos um último fôlego de vida para superarmos as limitações que nos impedem muitas vezes de seguirmos em frente.

Por fim, conhecer a importância e o legado do Black Sabbath é saber a influência da banda e do heavy metal para a história da música. Mais, além disso, é aprendermos também sobre as percepções de vida, acerca da nossa identidade, qual a finalidade de estarmos no mundo e como podemos trabalhar para mudarmos a nossa própria realidade perante as insatisfações. Viva o Black Sabbath! Viva o Heavy Metal!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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