Mônica Porto Apenburg Trindade
Doutora em História Comparada (PPGHC/UFRJ)
Mestra em Educação e Licenciada em História (PPGED/DHI/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: apenburg@getempo.org
O mundo encontrava-se sob o período da Guerra Fria (1947-1991) quando, em 20 de julho de 1969, a humanidade se deparou com um acontecimento, até então, inédito que marcaria significativamente a história do século XX: pela primeira vez, o homem conseguia chegar à Lua. No entanto, tal façanha realizada pelos norte-americanos não havia ocorrido de forma inesperada, mas foi possível graças ao incentivo e investimento na educação e tecnologia por parte dos EUA e da URSS, que disputavam entre si o predomínio em relação à expansão de um novo tipo de território. Essa modalidade de competição ficou conhecida como “corrida espacial” (1957-1975).
A corrida espacial teve início a partir do arremesso de satélites artificiais, sondas e expedições tripuladas ao espaço e se constituiu como uma tarefa estratégica dentro do contexto de guerra, pois o controle desse novo limite resultaria numa demonstração clara e inequívoca de superioridade e força do país vitorioso, enquanto potência mundial. Nesse sentido, a URSS despontou na dianteira da corrida, em 1957, lançando os satélites Sputnik I, primeiro satélite artificial em órbita, bem como o Sputnik II, que levou a bordo a cadela Laika, primeiro ser vivo a chegar ao espaço. Além disso, os soviéticos saíram na liderança ao lançarem, em 1959, a Lunik I, primeira sonda a orbitar o Sol e no envio do primeiro homem a uma expedição espacial, Iuri Gagarin (1934-1968), em 1961, seguido também da primeira mulher, Valentina Tereshkova (1937-), no ano de 1963.
Porém, o lugar de destaque apresentado pelos soviéticos na corrida espacial começou a ser confrontado de maneira marcante no momento em que a espaçonave norte-americana Apollo 11, tripulada pelos astronautas Neil Armstrong (1930-2012), Edwin Aldrin (1930-) e Michael Collins (1930-2021), pousou na Lua em julho de 1969. Essa empreitada partiu de um programa denominado “Apollo”, criado ainda em 1961, pela NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço), durante o governo de John F. Kennedy (1917-1963), objetivando promover uma série de missões espaciais, com o intuito de levar o homem à Lua. Assim, oito anos após a concepção desse Programa, Armstrong e Aldrin conseguiram, enfim, pousar na superfície lunar. Os dois astronautas coletaram amostras de rochas e solo, além de terem realizado diversos registros fotográficos do local. Enquanto isso, Collins permaneceu no módulo de controle da nave, em órbita da Lua.
Dessa forma, esse advento não somente notabilizou os EUA perante a URSS no final dos anos 1960, mas também foi noticiado pelos jornais estadunidenses de grande circulação, a exemplo do The New York Times, que salientou, numa matéria publicada em 27 de julho de 1969, o reconhecimento de Moscou pelo sucesso da expedição norte-americana, bem como através de periódicos de outros países, como O Globo, no caso do Brasil, cuja edição publicada em 20 de julho daquele mesmo ano apresentava como manchete o fato de o homem ter conseguido atravessar a barreira do impossível ao pisar na Lua, e até mesmo de jornais como A Defesa, proveniente da cidade de Propriá, no estado de Sergipe, que parabenizou a conquista estadunidense numa matéria publicada em 31 de agosto de 1969, sem deixar de enfatizar o gesto de Edwin Aldrin, ao levar consigo o pão que representava o símbolo da Santa Ceia e comungar em solo lunar, numa demonstração, segundo o periódico, de “fé e coragem”.
De toda a maneira, seja movido pela fé e coragem ou em busca de aventuras pautadas em experimentações científicas, a verdade é que após a viagem espacial de 69, foram realizadas mais algumas expedições à Lua, todas enviadas pela NASA e nomeadas de “Apollo”, sendo a última delas a Missão Apollo 17, ocorrida em 1972. Desde então, não houve mais a presença humana na Lua. No entanto, essa espécie de “hiato expedicionário” pode estar com os dias contados. Existem especulações em torno de uma retomada dessas “aventuras lunares” em 2024, objetivando não mais a visitação, mas, sim, o início de um processo de colonização. Cabe aqui, a reflexão sobre tal iniciativa, bem como o seguinte questionamento: 2024 será o ano que marcará a primeira ida do homem à Lua no século XXI?