Jairo Fernandes da Silva Júnior
Mestre em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (PGH/UFRPE)
Integrante do Laboratório de História do Tempo Presente (HTP/UPE)
E-mail: jairo.fernandes1994@gmail.com
Disponível na grande rede, o website The infinity conversation tornou-se destaque nos debates entre especialistas da área de tecnologia da informação. Criado pelo artista e programador Giacomo Miceli, o artefato digital promove uma conversa inexistente, e que pode ser infinita, entre o diretor alemão Werner Herzog e o filósofo esloveno Slavoj Zizek. Para reproduzir as vozes reais, é utilizada inteligência artificial com código aberto e de linguagem relativamente simples.
Diante dessa volatilidade, este texto tem como objetivo levar a reflexão para especialistas na área de educação e História, sobretudo historiadores digitais e do Tempo Presente, que utilizam fontes digitais como parte do trabalho investigativo da reconstrução do passado. Educadores estão por redefinir as formas de comunicação, interação e mediação, incluindo assim metodologias de ensino diante das tendências educacionais como ferramenta de auxílio na sala de aula. Esse tipo de artefato abre um campo de debates que desafia o ensino e a escrita da História.
Artefatos de inteligência artificial são comuns nas redes, principalmente na chamada Era Digital, mais especificamente no campo das mídias sintéticas. O Chat GPT e podcasts com falsas entrevistas são elementos que acendem um alerta, sobretudo, de preocupação prática com relação ao trato da informação.
Há preocupação latente com relação ao futuro das mídias, que estão ameaçadas pela capacidade ampla de criação de conteúdo e de disseminação de notícias falsas. Registrados no meio digital e perpetuados como notícia por meios de comunicação formal e informal, são criados diálogos sobre diversos assuntos que jamais foram pauta entre pessoas, ou seja, sons e imagens produzidos por máquinas capazes de gerar interações novas, respostas e realidades não existentes.
Com as interligações digitais do nosso tempo, a sociedade encontra-se em um momento de desejo pela velocidade das informações, gerando dificuldade significativa na capacidade de interligar o passado, presente e o futuro.
A consequência disso é a baixa compreensão, dificuldade para fazer análises simples e concatenar ideias, além da falta de clareza nos temas sensíveis a grupos específicos. Tal fenômeno causa o que o historiador François Hartog chama de um Novo Regime de Historicidade, que provoca a morte do espaço e do tempo. O The infinity conversation provoca esse tipo de ação desconhecida, por criar uma realidade não existente.
Diante da efemeridade das informações, desafios são propostos para registro dos processos, sobretudo, com o trato das fontes e a relação representativa das teorias da história. Com relação aos métodos educacionais, o debate sobre eficiência de tecnologias da informação em sala de aula foi ampliado, visto que provocaram inquietações, críticas e reflexões para os docentes, discentes e responsáveis.
Educadores preveem a utilização de inteligência artificial para facilitação de processos do ensino-aprendizagem em sala de aula. Para possibilitar essas ações, se faz necessária a formação da comunidade escolar em cultura midiática e letramento digital, que se tornaram emergência diante da imersão coletiva nessas redes de comunicação.
O uso político de ferramentas com inteligência artificial ameaça o que antes era conhecido por nós seres sociais e promovem o que jamais foi visto. A historiadora Anita Lucchesi alerta para a não separação entre seres humanos e máquinas; entretanto, o problema estrutural das legislações digitais gera a incapacidade de prever ou delimitar o que é liberdade, colocando as leis de proteção de dados do lado oposto à ética e aos processos de ensino.
Está previsto para os próximos anos, portanto, um longo e difícil trabalho de consciência histórica e a necessidade de inovação pedagógica mediante os lugares educacionais. O engajamento da sociedade civil precisa ser crítico e consciente para reflexão sobre memórias criadas nessas brechas do tempo, evitando a elaboração de passados que jamais existiram.