Ailton Silva dos Santos
Mestre em História (PROHIS/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: ailton@getempo.org
O teatro no brasil do século XIX, período de estruturação política e econômica, foi impulsionado pelo desenvolvimento intelectual e artístico que emergia e se desenvolvia segundo as características da época. Dentro desse movimento, chega ao país as ideias do teatro realista europeu; principalmente o importado da França.
No Rio de Janeiro, capital do império, o teatro se desenvolveu com a estrutura que hoje conhecemos: a partir de autores, intérpretes e público. Nascendo no cerne do Romantismo, teve como destaque personalidades como o poeta Gonçalves Dias (1823 – 1864) – que retorna da Europa em 1845 com dois dramas para iniciar sua carreira – e João Caetano (1808 – 1863), que ficou conhecido como o primeiro grande ator brasileiro.
Entretanto, mesmo com o crescente desenvolvimento das artes no geral, e no teatro em específico, o país não possuía escritores que desenvolvessem uma produção regular de peças; nem uma produção característica própria, sendo dependente das peças e/ou modelo importados. Nesse contexto surge a figura do empresário João Caetano que acentuou essa dependência, sobretudo do modelo francês.
Contudo, esse modelo diferia muito da realidade do nosso país, pois era composto por uma visão moderna e civilizada pela ética burguesa. Portanto, o Brasil vivia uma realidade de formação que era moldada pelo modelo francês de sociedade expresso na dramaturgia.
Na cena teatral sergipana, podemos perceber essa mesma relação e que, dessa forma, Aracaju não estava atrás de outras regiões do país. Na edição de 10 de Junho de 1894, o jornal O Dia (Ano I) divulgou que o teatro estabelecia “uma corrente magnética entre as almas que produzem fielmente as ideias de uma época esboçadas pelo gênio criador do poeta”.
Belas e vivas cores de uma prática libertadora, e de transformação social, formaram uma bela época para os teatros sergipanos, que era um novo roteiro sendo escrito com a pena das intenções em experimentar a mesma catarse que era vivenciada na Europa e na capital do império Brasileiro. E, por sua vez, os sergipanos eram desejosos de tal experiência, como apontou a edição do dia 28 de fevereiro de 1894, pois muito “antes do dia marcado para a peça subir a cena já a casa se achava quase toda vendida e no próprio dia do espetáculo, não houve entradas para satisfazer a procura dos diletantes”. Nesse dia, se apresentou a “Trupe Appollonia”, dirigida pela atriz nacional Appollonia Pinto; uma evidência de que Sergipe fazia parte do cenário nacional de teatro.
Assim como na Capital do império, os teatros aracajuanos comportavam peças que descreviam os costumes da burguesia, característica da estética francesa que fora defendida por intelectuais como Machado de Assis, mesclando com o contexto brasileiro e criando assim um desdobramento surpreendente ao desvelar “aos olhos dos contemporâneos as chagas purulentas da nobreza” em um quadro que representava a “luta pelo direito dos homens propagados pelos lábios vermelhos e crispados da Revolução Francesa”. Tal descrição, acalorada, fora feita para a peça “Fé, esperança e caridade”, noticiada no jornal O Dia (ano I em 28 de fevereiro de 1894).
É interessante notar que havia uma constante preocupação com a vida artística em Aracaju, no tempo em que a cidade já detinha uma formação intelectual e de entretenimento, vivendo o gosto de sentir esse mundo mágico da representação. O teatro adentrou as especificidades de cada lugar, nas sociedades da época como um todo, acelerando ou não a percepção de suas necessidades, e, na capital de Sergipe, foi uma forma que tudo o que se poderia encontrar na capital do império, em termos de produção artística, era encontrado aqui. Portando, os sergipanos que não evadiram para o norte não perderam muito no que diz respeito ao consumo de dramaturgia.