Profª Drª Andreza Maynard
Universidade Federal de Sergipe
Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Em 15 de março de 2026 acontece a 98ª cerimônia do Oscar, uma das mais prestigiadas premiações do cinema mundial. O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, foi escolhido para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional. Curiosamente, é mais um filme ambientado na ditadura militar.
A trama se passa em 1977 e tem como protagonista Marcelo, um professor de tecnologia vivido por Wagner Moura, que retorna ao Recife tentando recomeçar, mas acaba envolvido em espionagem, paranoia política e segredos do passado.
O longa foi muito bem recebido internacionalmente, inclusive conquistou prêmios no Festival de Cannes de 2025 para Melhor Diretor, Kléber Mendonça Filho, e Melhor Ator, Wagner Moura. Agora disputará com obras de outros países uma vaga entre os cinco indicados ao Oscar 2026.
O prêmio é concedido desde 1929, reconhecendo excelência cinematográfica em várias áreas. Ele possui grande poder simbólico, pois uma indicação já aumenta o prestígio internacional de um filme, facilita sua distribuição, pode influenciar o sucesso comercial e abrir várias portas. Além, é claro, de ser uma vitrine global.
No Oscar 2025 Ainda estou aqui, de Walter Salles, recebeu indicações para concorrer nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. Não por acaso, o filme quebrou recordes de bilheteria e se tornou um dos mais assistidos na história do cinema nacional. Caso seja indicado, O Agente Secreto colocará ainda mais em evidência o cinema brasileiro contemporâneo.
Há muitas alegorias que associam o cinema a um estado de sonho e a um exercício permanente de escapismo. E isso é verdade. Entretanto, como lembra Marc Ferro, os filmes mantêm uma forte ligação com a realidade em que são concebidos. Seguindo esse raciocínio, embora Ainda estou aqui e O Agente Secreto se passem na década de 1970, ambos revelam mais sobre a sociedade brasileira atual do que se poderia supor.
Em um contexto de narrativas negacionistas sobre a ditadura militar brasileira e a proliferação de Fake News, filmes como O Agente Secreto evidenciam a ausência de democracia no país. A importância de dar visibilidade a produções cinematográficas como esta vai além da estatueta. Trata-se de reconhecer o valor de obras que dialogam com a memória histórica, a ditadura, a política e a identidade nacional.