O Ofício do Historiador e o modo como vivemos hoje

 

Diego Leonardo Santana Silva

Pós-doutorando no PROFHISTÓRIA/UFS

Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

E-mail: diego@getempo.org

Imagem retirada de: https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2022/08/18/19-de-agosto-e-o-dia-do-historiador

 

Certa vez, o historiador francês Marc Bloch (1886-1944) recebeu uma pergunta de seu filho. Afinal, para que serve a história? Perguntou a criança. Bloch acabou usando esse questionamento para, em um dos momentos mais angustiantes de sua vida no qual estava sob poder dos nazistas, escrever um dos livros mais célebres sobre a prática historiográfica chamado “Apologia da História ou o Ofício de Historiador”. Quase um século se passou e a pergunta ainda inquieta alguns. Afinal, para que serve a história?

O manual do historiador nos manda olhar para o passado. Partindo do presente, é claro. Fazendo este exercício, quando observamos o momento em que Bloch estava, em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em uma França tomada pelos nazistas, percebemos que em dias como aqueles a história acabaria servindo como um registro para que coisas desse tipo jamais se repetissem. Mas também, olhar para ela seria observar uma trajetória de ações que levaram àquele extremo. Guerras mal resolvidas, uma histórica perseguição às minorias, a ganância, o preconceito, a intolerância e outros acontecimentos. Para Bloch, a história seria a ciência dos homens no tempo. Tudo que é ação humana poderia ser objeto de estudo da história.

Tais considerações nos levam a outros questionamentos. Como olhar para a história nos ajuda a compreender o hoje e qual sua utilidade no mundo atual? Nos situando em nosso tempo, estamos em uma época na qual informação se dissemina com imensa velocidade. O pensador polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) afirmava que estaríamos vivendo em uma modernidade líquida na qual as relações sociais, as ideias e as próprias estruturas sociais seriam mais flexíveis. Teria ocorrido uma mudança de uma modernidade sólida para uma modernidade líquida e tal processo trouxe transformações na sociedade. Com a prática historiográfica teria sido semelhante? Estaríamos vivendo em uma era de uma história líquida, flexível? Mas, para onde a prática historiográfica iria neste processo?

Muitas vezes ser historiador é nadar contra a correnteza. Em um mundo líquido, a história teria que ser sólida. O historiador possui uma função social e nossa atividade pode servir como um guia, como um lembrete. Seguindo aquele velho ditado, cabe ao historiador lembrar daquilo que muitos querem esquecer. O modo como vivemos hoje nos faz querer esquecer de determinados acontecimentos para sufocar angústias e deslegitimar lutas. Por essa razão, a prática historiográfica é tão necessária nos dias atuais.

 

Para saber mais:

BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Editora Schwarcz. Companhia das Letras, 2007.

BLOCH, Marc. Apologia da história ou o Ofício de Historiador. Zahar, 2002.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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