Ozzy Osbourne: a despedida da vida, a eternização da obra

 

Mônica Porto Apenburg Trindade

Doutora em História Comparada pela UFRJ

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) e do Laboratório de Pesquisa do Mundo Contemporâneo (Contemporaneus/UFRR/CNPq)

Fonte da imagem: https://ndmais.com.br/musica/ozzy-osbourne-vocalista-do-black-sabbath-morre-aos-76-anos/

 

O “Príncipe das Trevas” está morto. Nesse dia 22 de julho de 2025, os fãs do heavy metal ficaram órfãos. Recebemos a triste notícia do falecimento de Ozzy Osbourne, vocalista do Black Sabbath, aos 76 anos. Nascido em 03 de dezembro de 1948, em Birmingham, Inglaterra, Ozzy se configurou como um dos artistas mais consagrados e polêmicos do metal. Sua trajetória foi destacada pela excelência musical e por uma personalidade marcante, graças à voz que revelava identidade própria ou pelo uso majoritário da cor preta e dos crucifixos em sua indumentária, cuja estética sombria despertava curiosidade e atraía cada vez mais fãs pelo mundo.

Além disso, o cantor inglês também mergulhou no submundo das drogas, praticou alguns delitos, foi preso e mordeu um morcego em pleno palco. Todas essas controvérsias, para citarmos apenas algumas delas, somadas ao indiscutível talento de Ozzy, contribuíram para a significativa notoriedade alcançada pelo Black Sabbath, dentre outras bandas de heavy metal que despontaram conjuntamente com o grupo britânico desde o final dos anos 1960.

A última aparição de Ozzy como artista ocorreu em 05 de julho de 2025, há poucas semanas antes de sua partida, na cidade de Birmingham, onde aconteceu o festival “Back to the Beginning”, show de despedida do Sabbath. Na ocasião, o artista impressionou o público presente no festival, bem como aos fãs que acompanham a carreira do músico, ao conseguir cantar várias canções da banda, apesar das limitações impostas pela doença de Parkinson. A força e a vitalidade do heavy metal estavam visíveis não somente na voz de Ozzy, embora muitas vezes trêmula, mas também no olhar, nos gestos e no corpo debilitado do cantor.

Em “Back to the Beginning”, o então “Príncipe das Trevas” fez jus à “sua realeza”, demonstrando o motivo pelo qual era digno de carregar a “coroa do metal”. Nem mesmo a senilidade, o Parkinson ou os resultados nefastos de uma vida entregue ao hedonismo exacerbado fizeram Ozzy sucumbir. Ele foi maior. A música e o próprio heavy metal ajudaram Ozzy a dar o seu “último suspiro” ou o seu “último grito”. A despedida do Black Sabbath em julho de 2025, se configurou como a despedida de Ozzy Osbourne dos palcos e, infelizmente, da vida. O próprio cantor havia relatado em entrevistas anteriores o desejo de, quem sabe, morrer no palco ou após um show de despedida. Parece que os “deuses do rock” ouviram seu pedido.

A trajetória do Ozzy Osbourne, bem como a fundação do Black Sabbath teve início em 1968. Dois anos depois, numa estratégica sexta-feira 13, a banda lançou seu primeiro álbum, o “Black Sabbath”. O referido disco já demonstrava desde a estética sombria da capa, até as músicas com letras profundas e um som pra lá de pesado, os próprios fundamentos do que viria a ser conhecido mais tarde como heavy metal. Talvez, por uma ironia desses mesmos “deuses do rock”, Ozzy se despeça do metal não numa sexta-feira, mas aos 76, que somados, resultam justamente no número 13, data marcada pela estreia e, ao mesmo tempo, pelo fim.

Refletir sobre a brevidade da vida é algo realmente inquietante. Ela nos coloca em confronto com a realidade mais concreta que temos desde o nosso nascimento: a certeza de que um dia iremos partir, de que encerraremos o nosso ciclo terreno. Lidar com a morte não é fácil. Saber que não veremos mais alguém a quem estimamos ou não ouviremos mais a voz daqueles que temos como referência é inimaginável, soa estranho e, talvez por isso, preferimos adiar ao máximo essa hipótese. Entretanto, por acaso ou por capricho do destino, o inevitável acontece e nos deparamos finalmente com a perda.

Porém, devemos compreender que a finalização de um ciclo não implica necessariamente no término de tudo. As boas recordações e as obras deixadas pelos sujeitos acabam por eternizá-los, mesmo após se despedirem da vida. A imagem do cantor quase levantando da cadeira no último show, esquecendo-se, por um instante, de sua própria limitação ficará registrada na memória.  A potência do metal na trajetória do Black Sabbath e na carreira do Ozzy como vocalista da banda entrará para a história da música. É assim que Ozzy Osbourne se despede. A morte pode até retirar o roqueiro inglês de cena, mas a obra do “Príncipe das Trevas” ficará eternizada por gerações.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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