Maria Luiza Pérola Dantas Barros
Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: perola@getempo.org

Na maior parte das vezes, a paz é algo que almejamos enquanto seres humanos, como costumamos cantar: “dias de paz, dias a mais, dias que não deixaremos para trás”. Tal desejo pode ser acentuado em dias tensos, em contextos de crises ou mesmo de guerras. E não é difícil pensar que, no cotidiano da população imersa cada vez mais naquele que pode ser considerado o pior conflito do século XX, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), isso não seria diferente.
Logo no início da guerra, quando o Brasil ainda não estava envolvido, já era possível perceber na imprensa brasileira a manifestação de anseio pela paz mundial, como no editorial publicado pela Revista da Semana que, com assombro, via que tudo estava envenenado pelo sôpro universal da morte” (16/12/1939, p. 3). E, quando os brasileiros já tinham morrido lutando, destacava-se que o sangue deles estava “sendo sacrificado para a conquista de dias melhores que serão mais dos nossos filhos que propriamente nossos” (16/12/1944, p. 49).
As propagandas veiculadas nesse periódico também buscavam projetar as melhorias para o futuro em que o inimigo já estivesse derrotado, desde coisas simples como sabonetes ou produtos de beleza femininos, passando por versões de rádios melhoradas em virtude da tecnologia desenvolvida na guerra. Se aquele presente não estava favorável, o futuro sem guerra era almejado em todo o seu potencial.
As notícias publicadas pela revista ao final do conflito na frente ocidental exaltavam o caráter de impetuosa comemoração pelo ocorrido, enfatizando a necessidade de seus contemporâneos envelhecerem “descansados e em paz”. Os bons tempos das manifestações carnavalescas, cuja alegria fazia vibrar a Cidade Maravilhosa, para muitos, voltavam naqueles dias (19/05/1945, p. 3 e 6), pois a alegria já não era mais um crime.
Porém, para além dessa alegria e da realização de um presente promissor, o que se seguiu com o anúncio do fim da guerra foi uma realidade complexa: mesmo com a derrota de Mussolini e Hitler, havia o perigo sempre iminente da assombração fascista (12/05/1945, p. 6); o drama da fome não tinha sido extinto e a miséria era apontada como a envolver a população brasileira, por exemplo, na capital do país, deixando o questionamento “quando virá, afinal, êsse tão falado ‘mundo melhor?’” (12/05/1945, p. 3); os racionamentos continuaram ainda por um bom tempo, como a contenção de papel e de outros elementos técnicos a privar os leitores do periódico de uma edição mais elaborada (30/06/1945, p. 14), e dos gêneros alimentícios que ainda insistiam em faltar no final daquele ano (29/12/1945, p. 3). Além disso, com o final da guerra no Pacífico, e o episódio das bombas de Hiroshima e Nagasaki, o medo do futuro e a possibilidade de um novo conflito rondava a muitos, e se criticava que “a bomba atômica subiu à cabeça de muita gente “fan” da guerra, “fan” de palanque, a distância, com os bolsos cheios” (13/10/1945, p. 3). Os julgamentos de crimes de guerra também não tardaram a iniciar, resultando em fuzilamentos na França e na condenação de mulheres e homens nazistas, vistos no periódico com bestas humanas, pelos crimes que estavam vindo à tona e chocando a opinião pública, como os cometidos no Campo de Concentração de Belsen (27/10/1945, p. 4 e 5).
Assim vemos como aquele singelo sonho de paz e de dias melhores alimentado por muitos no decorrer daquele conflito, deu lugar a uma realidade bem mais complexa em todas as suas instâncias. Pensando nisso, o Grupo de Estudos do Tempo Presente está promovendo nesses dias 04 e 05 de dezembro, na Universidade Federal de Sergipe, o VI Seminário Debates do Tempo Presente: 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. De caráter nacional, com uma programação que conta com conferências, mesas redondas, simpósios temáticos e oficinas, esse evento pretende reunir pesquisadores dos mais diversos níveis para debater o impacto do final desse conflito e seus diversos desdobramentos que marcaram a humanidade e que ainda, em muitos aspectos, ressoam entre nós.