Quando o rock invadiu a UFS

Luiz Eduardo Oliveira

Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Cartaz do acervo pessoal do autor.

 

 

A história do rock independente em Sergipe não nasceu apenas em bares, garagens e escolas. Nasceu também dentro da UFS, que, entre 1984 e 1987, tornou-se um dos principais palcos da cultura alternativa no estado. A UFS foi o lugar onde bandas, fanzines, cursos universitários e juventudes distintas se cruzaram, fazendo da universidade um centro de criação musical e de circulação de ideias.

Em 1984, em plena ditadura militar, o Perigo de Vida realizou uma apresentação marcante no Restaurante Universitário (RESUN). O show teve presença do DCE, estudantes de vários cursos e um clima de descoberta coletiva. Era o rock autoral entrando pela porta principal da universidade, num momento em que a instituição abriu suas portas para a circulação de produções independentes, como os fanzines Boca Quente, Clube do Ódio e O Espectro, produzidos por Luiz Eduardo, Wilton James, Roberto Aquino, Tarcísio, Helder, entre outros. Os desenhos eram de Helder e Beto Vela, que também ilustravam os cartazes da cena. Em 1985, a UFS abrigou também um show do Karne Krua, no qual teve uma confusão registrada num texto publicado por Tony Almada, baterista da banda, no Boca Quente.

Ainda sob resquícios do regime militar, a universidade era espaço de tensão política, mas também de liberdade criativa. Já em 1986, alguns dos integrantes das bandas já pisavam nos corredores da graduação: Eduardo, Helder e Wilton cursavam Letras, Passos e Odara estavam em História e outros chegariam logo depois. Nessa época, a presença do rock na universidade já era evidente. Surgiam cartazes como o criado por Helder, um dos poucos registros visuais sobreviventes daquela época. Esses materiais mostram como a UFS funcionava como ponto de encontro entre músicos, estudantes, militantes e artistas.

Em 1987, o movimento universitário se ampliou. A UFS sediou o Encontro Nacional dos Estudantes de Letras (ENEL), atraindo participantes de vários estados, ocasião em que recebeu apresentações de artistas que estavam no início da carreira, como Amorosa, e de nomes já importantes na música sergipana, como Joésia Ramos, que dividiram o palco – montado no espaço onde se tornou décadas depois o Memorial da Democracia – com o Crove Horrorshow. A diversidade era grande, mas a energia era sempre a mesma: juventude, experimentação e coragem.

Entre 1984 e 1987, a Universidade Federal de Sergipe fez mais do que abrigar shows. Ajudou a formar públicos, conectou movimentos e ofereceu palco, som e visibilidade para bandas independentes que não encontravam espaço em outros lugares. Assim, a UFS foi um respiradouro cultural para uma geração inteira.

E a pergunta que permanece é esta: sem aquele RU de 1984, aquele auditório da reitoria e aquele cartaz de 1986, ou aquele encontro estudantil de 1987, teríamos hoje a mesma história do rock independente em Sergipe?

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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