Dilton Cândido Santos Maynard

Setembro, mês em que oficialmente a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim, foi o escolhido pelo Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS) para o lançamento do Portal “Memórias da Segunda Guerra”. Dono do endereço www.2guerra.org e explorando o episódio dos torpedeamentos de navios mercantes brasileiros nas águas de Sergipe pelo submarino nazista U-507, em agosto de 1942, o site apresenta fontes históricas, mapas, artigos, entrevistas, livros e até planos de aulas enfocando aspectos do devastador conflito. Nele, o local e o global estão conectados.
A principal preocupação do ambiente é fornecer informações de qualidade sobre o maior confronto bélico do Século XX, com um olhar especial sobre Sergipe. Ali será possível realizar um instigante passeio virtual por locais da capital Aracaju nos momentos dos ataques submarinos, assistir a entrevistas com especialistas no assunto, ler fontes históricas, aprender com verbetes especialmente produzidos para o site, fazer o download gratuito de livros e aprender bastante sobre um momento traumático da história do Brasil e de Sergipe.
O sítio eletrônico “Memórias da Segunda Guerra” é uma versão aperfeiçoada de outra página, idealizada ainda em 2011, o portal “Segunda Guerra: cotidiano, fontes & narrativas”, cujo endereço era www.memoriasegundaguerra.org.Também criado pelo GET/UFS, o ambiente eletrônico deixou de estar disponível em 2014.
Passada mais de uma década, o que motivou a proposta de reconstruir um lugar virtual de memória? Principalmente a incômoda constatação de que, apesar da relevância do acontecimento quando falamos de Sergipe e do Nordeste nos tempos da Segunda Guerra, e também para a história contemporânea do Brasil, não há nenhum lugar de memória disponível para visitação pública, algo como, por exemplo, um museu dedicado a oferecer informações sobre o assunto. As promessas de um memorial exclusivo e físico tem esbarrado nas dificuldades orçamentárias e mesmo no consenso sobre a condução da iniciativa.
No que se refere a lugares da memória, em Sergipe é possível apontar basicamente a existência de um “Cemitério” e de uma rodovia “dos Náufragos”, ambos no lado sul da cidade. Porém, isso não diminui o silêncio. São lugares apenas nomeados, mas não problematizados. E, sem os devidos cuidados, são pouco utilizados como espaços pedagógicos ou destinos turísticos. Por sua vez, ainda que a recente historiografia local tenha produzido trabalhos que buscam abordar o assunto, isso ainda não conseguiu estreitar o abismo entre a produção acadêmica e aquela destinada a um público mais amplo.
O impasse acima só torna ainda mais relevante a iniciativa do site “Memórias da Segunda Guerra” do ponto de vista historiográfico, museológico, cultural e turístico. Até mesmo porque no âmbito nacional, também é perceptível o silêncio sobre o assunto e a falta de acesso a muitas informações.
E é buscando oferecer uma plataforma para que tais acontecimentos sejam conhecidos, um espaço dedicado não só a reunir documentos, mas também para inspirar e produzir narrativas sobre esse tempo tão complexo, atribulado e marcante, que levamos adiante o projeto de reconstruir um portal sobre a Segunda Guerra, uma iniciativa que conta com o apoio da FAPITEC, do CNPq e da FUNCAP. O novo portal aproveita parte do acervo produzido para o seu antecessor, agregando ainda novidades em termos de recursos para navegação, materiais inéditos e exclusivos.
Apesar disso, é necessário insistir e dizer que os tempos da Segunda Guerra em Sergipe merecem, na verdade, exigem, algo além de um site. A criação de um espaço físico, um museu dedicado à temática, é algo mais do que justificado. Estamos há décadas atrasados nessa tarefa. Porém, o surgimento de um memorial virtual como o www.2guerra.org, pensado para funcionar inclusive como apoio a professores e estudantes da educação básica, mas também do ensino superior, um site com opções de acessibilidade e concebido por um grupo de especialistas no assunto, é uma ação que arrefece a ausência. Esperamos que seja o começo de boas novas na necessidade e na obrigação que temos de contar a nossa história às futuras gerações.