The Last of Us e a vida após o apocalipse

Diego Leonardo Santana Silva

Doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ)

Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Bolsista Capes

E-mail: diego@getempo.org 

Imagem de divulgação da série. Fonte: https://www.rtvmaniak.pl/9625259/the-last-of-us-co-sie-stalo-z-frankiem-i-billem-w-grze/

 

The Last of Us é uma das franquias de jogos de videogames mais bem sucedidas das últimas décadas. Após conquistar uma legião de fãs, ela chamou a atenção da HBO, que acabou produzindo uma série inspirada no jogo. Sua história parte de uma premissa conhecida. Em uma realidade alternativa, o mundo acaba passando por um apocalipse zumbi no qual pessoas infectadas, nesse caso por um fungo, desenvolvem características monstruosas e tentam passar essa doença adiante. Aqueles que não foram afetados pela doença tentam se salvar em meio ao caos no qual a violência e a barbárie tomam conta enquanto vivem na esperança de um dia encontrarem uma cura.

Enquanto outras produções do gênero dão ênfase ao momento em que o Apocalipse Zumbi acontece, a trama dirigida por Craig Mazin, diretor com produções como a série Chernobyl, se passa 20 anos após a infecção acontecer. Ou seja, ela ocorre em um mundo que está há décadas assombrado pelo horror. Nele, Joel (Pedro Pascal), um sobrevivente do apocalipse, sai em uma missão para levar Ellie (Bella Ramsey), uma jovem que é imune ao vírus, até pessoas que possam analisá-la e ver se nela estaria a cura para a infecção. 

A trajetória de Joel e Ellie é marcada por interesse, companheirismo, lealdade, violência, morte, horror e esperança em um mundo onde pessoas que perderam tudo. A série demonstra como situações de caos escancaram o melhor e o pior de nós e como as circunstâncias da vida acabam influenciando em quem nos tornamos. Joel era um homem comum que perdeu sua filha e sua mulher e teve que matar para sobreviver. Ellie nasceu em um mundo onde a morte é banal, todos ao seu redor morrem e ela vive com medo da solidão. Ellie tem curiosidade para saber como as coisas eram antes, um mundo que para Joel é difícil lembrar.

Perder alguém também passa a ser ressignificado. Embora a morte seja um elemento presente em nossas vidas, não estamos acostumados a perder pessoas que conhecemos e amamos a todo o momento como acontece com os sobreviventes da série. Isso faz com que os personagens ali existentes criem vínculos fortes com aqueles que conhecem ao mesmo tempo em que não querem criar esse vínculo com medo de se apegar a uma pessoa que pode morrer a qualquer momento naquele caos.

Histórias que se passam em realidades caóticas chamam atenção e exercem fascínio em parte do público. O gênero de apocalipse zumbi permeia a décadas, vindo e voltando com uma série de histórias que nos fazem pensar em quem seriam os zumbis, o que seria a infecção e como agiríamos caso algo desse tipo ocorresse. A figura do zumbi passa por interpretações quanto ao seu sentido dentro de cada história variando desde uma analogia a revoltas anticoloniais até críticas ao capitalismo ou sendo fruto de mutações consequências do aquecimento global (que é o caso da série).

Infelizmente, experiências recentes com a pandemia de covi-19 ou o forte embate político que permeia os últimos anos no Brasil nos mostram que em momentos de dificuldade a alteridade passa longe de nós e que, em meio a situações extremas, ignorar o outro e negar o diferente acabam se tornando atividades padrão. The Last of Us nos leva a uma reflexão do que somos enquanto humanidade e de como as circunstâncias da vida podem nos levar a caminhos que jamais poderíamos imaginar.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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