Diego Leonardo Santana Silva
Doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com bolsa Capes
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: diego@getempo.org
Nas últimas semanas, a Netflix lançou a adaptação audiovisual de The Sandman, consagrada obra de quadrinhos que faz parte do universo da DC Comics e tem como seu criador Neil Gaiman. A produção conta com 10 episódios que compõem a primeira temporada e 1 episódio adicional em formato de epílogo, totalizando 11 capítulos disponíveis.
A produção da Netflix adaptou dois arcos dos quadrinhos, sendo eles Prelúdios e Noturnos e A Casa de Bonecas. Seu protagonista é Morpheus (Tom Sturridge), que também é conhecido por outros nomes como The Sandman e rei dos sonhos. Ele faz parte de um conjunto de seres conhecidos como os perpétuos que representam aspectos da vida humana como os Sonhos, o Desejo, a Morte, a Ganância entre outros. Em seu reino, Morpheus cria seus servos que são sonhos e pesadelos que são apresentados como personagens que devem servir aos mortais. Os pesadelos serviriam para colocar as pessoas em conflito com seus medos enquanto os sonhos inspirariam as pessoas.
No primeiro arco (Prelúdios e Noturnos), o personagem principal, Morpheus, é aprisionado por obra de um feiticeiro, Roderick Burgess (Charles Dance). O período ao qual o rei dos sonhos ficou aprisionado corresponde ao século XX, época sombria da humanidade. Sombrio, não de trevas. Enquanto Morpheus estava aprisionado, seu reino no Sonhar foi abandonado e a humanidade decaiu.
A alegoria utilizada por Gaiman também menciona uma epidemia de sono que teria ocorrido nesse universo, uma referência ao período da Encefalite Letárgica, epidemia que ocorreu entre 1915 e 1926. Sem os sonhos para nos dar luz e com os pesadelos à solta, os horrores se multiplicaram causando grande dano à existência humana. Ao ser libertado, Morpheus visa recuperar seus poderes e reconstruir seu reino.
Em uma época na qual a intolerância e o preconceito são, por parte de alguns, normalizados, sonhar se torna cada vez mais necessário. Sonhar com um mundo mais tolerante e que a experiência dos horrores do século XX nos sirvam como exemplo daquilo que não queremos para o nosso tempo presente.