Letícia Conceição Silva
Bolsista do projeto “Transformações no cotidiano de Aracaju durante a Segunda Guerra Mundial” (CNPq/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente
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Na noite de 15 de agosto de 1942, os passageiros do navio Baependi, que navegava pelo oceano Atlântico rumo a Aracaju, foram atacados por torpedos alemães que, em pouco tempo, afundaram a embarcação e mudaram abruptamente a vida dos sobreviventes e dos habitantes da capital sergipana. Ataques semelhantes atingiram outros quatro navios mercantes nas costas de Sergipe e Bahia, sendo o estopim para a entrada do país na Segunda Guerra Mundial. Em meio ao caos, na tentativa de salvar a própria vida, muitos atiraram-se ao mar. Foi o caso do tenente José Castelo Branco Verçosa.
Após saltar com sua mulher e filho no oceano, um vergalhão os separou, levando o tenente Verçosa ao desespero. Ele foi colocado em uma baleeira em estado de pânico, confuso, incapaz até mesmo de gravar os nomes dos demais náufragos que o acompanhavam. Quando, enfim, ele e outros náufragos chegaram a Santo Antônio, o militar se recusou a seguir com os demais para Estância, ficando à espera de seus familiares, na esperança de que eles também chegariam vivos àquele local, o que não aconteceu.
Após muito relutar, Verçosa foi convencido a ir para a cidade na manhã do dia 17, quando soube que uma mulher de sobrenome Castelo Branco, também passageira do Baependi, havia se salvado. Infelizmente, sua alegria não durou por muito tempo, logo descobriu que se tratava de Vilma Castelo Branco, passageira salva na mesma baleeira em que ele mesmo esteve.
Mesmo após chegar à capital, o tenente Verçosa manteve a esperança de encontrar a mulher e o filho, vagando pelas praias de Atalaia e Mosqueiro na expectativa de achar ao menos os cadáveres, o que acabou acontecendo algum tempo depois. A sua imagem, registrada pela revista “Agressão”, publicação do Departamento de Imprensa e Propaganda (lançada ainda em 1942) inteiramente dedicada a narrar o ataque e seus desdobramentos, apresenta o momento de perda completa da esperança de um homem após encontrar os corpos dos seus entes queridos. Sozinho e inconsolável, Verçosa exemplifica a aflição e a impotência diante da perda numa guerra.
A indignação, a revolta, a angústia, o medo e o pânico foram sentimentos que se espalharam entre os aracajuanos na medida que os cadáveres chegavam às praias e as histórias dos náufragos eram contadas.
A partir das versões dos sobreviventes cujas memórias dos torpedeamentos foram construídas e transmitidas, é importante analisar esse evento pela perspectiva das vítimas e não somente como marco político para a declaração de guerra, permitindo assim os historiadores a compreensão de ângulos diferentes dessa tragédia. Casos como o de José Verçosa nos ajudam a entender a dimensão dos traumas do ataque e seus efeitos no cotidiano da capital sergipana.