Um olhar diferente sobre Anne Frank e a Segunda Guerra

Profª Drª Andreza Maynard

Universidade Federal de Sergipe

Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Fonte da imagem: https://catracalivre.com.br/entretenimento/filmes-fascismo-nazismo/#google_vignette Acesso em 13/10/2025

 

Como contar uma história já muito conhecida e divulgada? Esse é o desafio do filme Anne Frank, Minha Melhor Amiga. A produção holandesa de 2021 é um drama baseado em fatos que revisita a trajetória da adolescente judia mais famosa do mundo, entretanto o faz sob a perspectiva de Hannah Goslar, sua amiga.

A narrativa percorre desde o período da ocupação nazista em Amsterdã até o doloroso reencontro das duas num campo de concentração. No início do filme, Anne e Hannah vivem os dias típicos da adolescência, repletos de risadas, sonhos e pequenas travessuras. Entre uma brincadeira e outra, o espectador percebe o contraste entre a inocência juvenil e o avanço da violência nazista, que se faz presente nas ruas e na rotina da cidade ocupada.

Em uma das cenas, as amigas vão ao cinema às escondidas, numa tentativa de manter alguma normalidade em meio ao caos. Anne sonha em ser artista, talvez atriz, e conquistar a fama em todo o mundo. O filme resgata esse desejo com sensibilidade, mostrando uma jovem cheia de vida, sem imaginar o destino trágico que a aguardava. 

Anne Frank, Minha Melhor Amiga não tem como objetivo recontar a história de Anne Frank, tarefa já cumprida com excelência por outras produções que adaptaram o diário para o cinema. Também não se preocupa em explicar por que a família Frank não fugiu para a Suíça. A obra parte do pressuposto de que o público já conhece o essencial, ou seja, que a família viveu escondida entre 1942 e 1944, até ser delatada, descoberta e enviada para campos de concentração. A proposta do filme é, portanto, oferecer um novo ponto de vista, o de Hannah, e revelar como a guerra marcou a vida de quem sobreviveu.

Oitenta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, O Diário de Anne Frank continua sendo um dos testemunhos mais emblemáticos sobre o Holocausto. A história da adolescente cheia de sonhos, interrompida pelo conflito militar, foi impactante, mas não única. Outro aspecto que merece destaque são as redes de apoio estabelecidas por mulheres dentro dos campos de concentração, essenciais para a resistência diária.

No longa, o roteiro alterna entre as memórias de Hannah e os dias que ela passa no campo de concentração. As lembranças trazem de volta as aventuras com Anne, as descobertas sobre garotos, beijos e curiosidades típicas da adolescência, como entender “de que forma os bebês vão parar na barriga das mulheres”, até as duras imposições aos judeus. Mesmo diante da repressão, as duas acreditam que a guerra logo acabará e que tudo voltará ao normal. 

Sob a direção sensível de Ben Sombogaart, o filme aposta mais na emoção do que na grandiosidade histórica. Sem recorrer a artifícios dramáticos excessivos, Anne Frank, Minha Melhor Amiga convida o público a revisitar a Segunda Guerra a partir do olhar de quem viu barbárie de perto e mesmo assim escolheu ter esperança e resistir.

 

Para saber mais:

FRANK, A. O diário de Anne Frank. Edição integral. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2000.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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