Uma coroação sombreada 

Profª Drª Andreza Maynard

Universidade Federal de Sergipe

Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Fonte da imagem: https://www.newyorker.com/culture/cover-story/cover-story-2023-05-08 Acesso em 10/05/2023.

 

Reis e rainhas, chefes de estado, artistas, personalidades conhecidas e desconhecidas pelo grande público atenderam ao convite para assistir à cerimônia de coroação dos monarcas do Reino Unido, ocorrida no último dia 6 de maio, em Londres.  Esperava-se reduzida graciosidade dos personagens principais da celebração, e eles não decepcionaram. 

A exuberante apatia dos coroados rendeu destaque a outros participantes do evento, como Penny Mordaunt, a primeira mulher a entregar a espada numa cerimônia desse tipo. Além dela, a princesa Anne, irmã de Charles, também chamou a atenção. Com 72 anos, ela roubou a cena ao participar do cortejo montada num cavalo, após a coroação, como Gold-Stick-in-Waiting, posição de prestígio, pois o posto que remonta ao século XV indicava que ela deveria proteger os monarcas.  

Outra presença que gerou especulação antes e depois da cerimônia foi a do filho mais novo do Rei, o Duque de Sunsex. Em ocasiões como essas, o interesse pela família real se renova e o passado dos monarcas veio à tona, incluindo o envolvimento amoroso e proibido, entre os recém-coroados.  

Antes de se unir a Camilla, Charles foi casado com Diana Spencer. Eles tiveram dois filhos: William, em 1982, e Harry, em 1984. Mas o conto de fadas iniciado com o matrimônio, em 1981, terminou em 1996 com um divórcio precedido por escândalos, incluindo a publicização do relacionamento extraconjugal entre o então príncipe de Gales e Camilla, que também era casada à época.

 Charles nasceu para ser rei e se preparou para esse momento por toda a sua vida. Ele já foi o homem mais cobiçado do Reino Unido. E quando estava à procura de uma esposa, declarou que independente de quem fosse, ela deveria viver à sua sombra. Contudo, desde o início do seu relacionamento com Charles, Diana exerceu um magnetismo sem precedentes. A mídia a perseguia porque qualquer foto e informação sobre ela geravam grande interesse e consequente recompensa financeira.

Diana se tornou uma figura pública com maior destaque que Charles e a própria família real. Sua morte, em 1997, não arrefeceu o interesse do público pela plebeia que se tornou a princesa de Gales, ou a “rainha no coração do povo”, como desejou ser considerada a própria Diana, em entrevista concedida à BBC, em 1995. Entretanto, essa não foi a única mulher a sombrear o novo rei.

Quando a rainha Elizabeth II faleceu, em setembro de 2022, deixou um legado de estabilidade. A monarca foi habilidosa em driblar os escândalos familiares sem abalar a estrutura da família real mais famosa do planeta. Uma forma de se medir a popularidade de Elizabeth II consistia em notar o reduzido número de apoiadores da república.

Liderar a monarquia mais famosa do mundo não é uma tarefa fácil. Em primeiro lugar, é preciso manter a família unida. Um desafio que ficou evidente tanto pela intrigante participação de Harry na coroação, quanto pelas declarações que ele tem feito em entrevistas recentes. Além de chamar Camilla de “vilã”, de acusá-la pelo divórcio dos pais, ele deixou claro que não pretende retomar suas obrigações (e privilégios) junto à Casa de Windsor.

Além disso, a morte da rainha Elizabeth II e a sucessão ao trono por Charles III aumentam as possibilidades de surgirem crises também na Commonwealth. Há tempos, a Austrália tem demonstrado interesse em se tornar uma república, o que pode incentivar outros países a fazerem o mesmo, como o Canadá.

O fato de Charles III não ser tão popular quanto a sua mãe pode lhe gerar problemas para manter a inviolabilidade da própria monarquia enquanto instituição política. Apesar da monarquia britânica ter o apoio da maioria da população, suas taxas mais altas de aprovação estão concentradas na população com mais de 65 anos, enquanto os que estão na faixa dos 18 a 24 anos tendem a preferir um líder eleito. 

Essa foi a primeira vez em 70 anos que o mundo assistiu a uma cerimônia de coroação no Reino Unido. Haverá outras? Só o tempo dirá. Por hora, pode-se afirmar apenas que Charles realizou a aspiração pueril de se tornar rei ao lado de uma figura feminina que não lhe faz sombra.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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