Golpismo enrustido

O noticiário nacional só fala sobre negociatas escandalosas de políticos. Parece ser da natureza do brasileiro esta preferência pelos recorrentes comentários negativos. E porque há nisso um grande mercado, para a mídia não existem homens públicos sérios, sobretudo os que adquiriram algum sucesso, se perpetuando em mandatos estendidos sucessivamente.

Agora mesmo, porque a classe média não consegue deglutir os extensos percentuais de popularidade do presidente Lula, a desvairada elite paulicéia, sempre golpista e insubmissa ao poder central federal, ataca o ex-presidente Sarney, um velho despojo nordestino mal digerido, tentando atingir o barbudo presidente e a sua rombuda governabilidade no senado.

E o resto da imprensa, que podia pensar em cada estado, um pouco bem diferente, prefere descabeçadamente reverberar o eco paulistano Brasil a fora. Parece que o que é bom para São Paulo não merece em outra paróquia um ruminar dissidente do esgar mal escutado. Há um recalque menor na imprensa local, uma espécie rotineira de moléstia insidiosa que estimula a indolência reflexiva, um medo de ousar pensar divergente, ou ainda pensar por si mesmo ou diferente. Preferimos preguiçosamente repetir fotos, textos e manchetes, num CTRL-C, CTRL-V equivocado, escancarado e mal rascunhado. E ainda pagamos por isso, afinal os jornalistas de fora ocupam os espaços dos nossos jornais, e são regiamente remunerados por tal acinte.

Assim, não só os jornalistas paulistanos como até os sergipanos que não têm nada com a briga, todos querem tirar o coro do maranhense, se possível a ferroadas de fogo, só para utilizar o mote do seu poema “Marimbondos de Fogo”, que ninguém, leu, lá e aqui, e por isso gosta menos, como sói acontece com os que resenham os textos, hepaticamente, em refluxos muriáticos.

Contemplando esta aridez temática de acidez midiática em que estamos imersos, sem bóia apiedada a recorrer, creio menos na boa fé e na despretensão do noticiário e muito menos no seu zelo à causa pública. Creio mais ainda, que o divulgador e o escriba redator, anônimo ou ghost writer, acrônimo de sigilosa fonte ou em uso criminal pseudônimo e ainda o venenosamente inominado, se não estiver em busca do lucro irresponsável e da fama intolerável, persegue a demolição moral, infelicidade que anima a vida de muitos, de boa pena.

É triste ver uma obra deletéria de denúncias nunca provadas nem julgadas servir apenas como linchamento moral, uma espécie de carniça, lançada para chamariz de abutres e repasto de rapina, que depois é esquecida como jamais existida, em mera contrapartida de sorriso de hiena.

E é uma pena a grande imprensa se estiolar num noticiário mesquinho e vazio, e achar que isso não lhe dá retorno em perda de assinantes no longo prazo. Porque o assinante de jornais deseja ser bem informado, com isenção e inteligência. Um escândalo que só alimenta o espírito medíocre afasta o bom leitor, atraindo o deletério farsante e a tartufice farisaica, despertando o homem-mundiça, presente em todos nós e que precisa ser domado, amestrado e suavizado, jamais estimulado nem despertado.

Em me enojando com o tolo noticiário, estarei a defender a impunidade do erro? Jamais! Em absoluto! Mas é preciso da manchete separar a ganga de má fé e dos interesses escusos da verdade cristalina não profanada. Os homens não são santos, nem o serão nunca nesta terra, sobretudo os políticos ruins e os articulistas tirados a querubins, aí incluindo também a mim, que tento ser menos chinfrim e ousar pensar diferente com a própria cabeça: a de cima; equivocadamente talvez.

Acho que não agir assim em desconfianças e dúvidas, é ingressar neste lugar comum lamacento, de profunda aridez em brilho, cuja fragrância parece imitar o miasma da sarjeta. E neste lodaçal unânime, de certezas absolutas, não consigo enxergar nenhum gesto bravio, muito menos um agir em pleno brio. Também não acho que seja da imprensa o papel de julgar, punir e executar, ensejando o linchamento, sumário e irresponsável.

E mais, se aceitássemos tal procedimento, não estaríamos a um passo dos pogrons, das noites dos cristais, e outras coisas tais, como o empastelamento de jornais? Ou há na democracia um antídoto contra a devolução das agressões humanas proferidas?

Por outro lado, é preciso saber retirar do escândalo o benefício político motivador. E a oposição ao Presidente Lula por falta de um discurso que enseje a alternância do poder, tenta equivocadamente safar-se de novas derrotas em seu viés privatista, de dilapidação do patrimônio público, querendo se bancar em excessiva pureza. Quem quiser que os compre!

Já a imprensa, porque é mais fácil demolir que construir idéias e procedimentos, cobra ética sem exibir a sua, querendo se pontificar acima da lei, abusando da impunidade decorrente da ausência de uma legislação que a regule, sobretudo quando se acha um poço de honestidade e seriedade, gigolotando do uso sigiloso da fonte covarde e irresponsável; um abuso de caráter tão horroroso quanto vergonhoso e ominoso.

A ausência de lei de imprensa está dando a alguns jornalistas uma carapaça de escargot ou caramujo. Não há vôos, nem sonhos. Sobram sabores duvidosos, rastros viscosos, ou  nefasta helmíntiase da sociedade

Neste particular da impunidade perante a lei, o repórter está se tornando um caracol de rastro visguento e escabroso, arrastando-se pela vida, enfiado em carapaça sinistra como caramujo; armadura que o faz hospedeiro da venalidade e da maldade, um disseminador helmíntico de contaminação da sociedade.

Como periodista gastrópode e onanista, ou como repórter hermafrodita difamador, o colunista escargot pode até despertar apetites e se achar bem bonito, como um buzo a deixar pelo caminho um rastro viscoso e asqueroso. Sim, porque em todo escândalo explicitado, está por traz fomentando um fuçador de misérias. E é abominável o indivíduo que se nutre da desgraça dos outros, teimando em desconstruir as instituições e os homens, sem nada erigir de valor no seu lugar.

Nós, os humanos, temos as nossas imperfeições e traumas. Primar pela desconstrução, teimando em erodir os outros, preferir usar a maleficência para ferroar-lhe a impudiscência ou imprevidência, não é olvidar a própria fragilidade incomodada na insatisfação dos próprios sonhos e na sua diminuta dimensão?

Faço este questionamento geral e irrestrito, incluindo-me também, porque todos nós temos os nossos recalques de avestruz, teimando em não enxergar as nossas imperfeições; uns por incapazes de despertar amores, outros por miudez nunca negada em espelhos, sem falar nos bolhelhos e pentelhos, adquiridos em promíscuas sujeiras e fuleiras conspícuas, de chatice vária, em pruridos e coceiras, quando é só nosso, por escolha e inerência, a imundície perquirida e o próprio existir em mesquinhez.

Assim, desconfio de todo linchamento nascido na rotativa da grande imprensa nacional. Ele é fruto do golpismo enrustido que rotineiramente quer atacar a nossa democracia, que é farta de exemplos em descaminho.

Depois tudo resta igual ou pior: Da noite das garrafadas aos gabinetes do império, da república mal proclamada às quarteladas juvenis. Da vacina rejeitada pelo obscurantismo senil, às revoluções e novembradas. Com direito a aplauso de vivandeira, desfiles de granadeiros fardados e muitos anistiados regiamente premiados.  Porque o herói de hoje será sempre o vilão esquecido de amanhã, e vice-versa, sem exceção, afinal nos orgulhamos em ser um povo mestiço e pouco castiço, muito bom de bola e,… E real inzoneiro, o que ninguém sabe o que é, mas que lhe falta bastante vergonha.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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