GRACCHO CARDOSO E A EDUCAÇÃO

Ao assumir o Governo de Sergipe, no dia 24 de outubro de 1922, Maurício Graccho Cardoso apresentou aos deputados à Assembléia Legislativa uma plataforma repleta de boas idéias, com ênfase ao programa educacional que prometia realizar em favor dos sergipanos. O presidente, filho de um grande professor – Bricio Cardoso – tinha sua própria experiência cultural, em parte pela participação na vida política e administrativa do Ceará, ou como deputado federal, acompanhando os movimentos intelectuais do País, nas primeiras décadas republicanas. Graccho Cardoso demonstrava sua adesão ao ideário da Escola Nova, colocando as teses que destacariam a ação administrativa em Sergipe, de 1922 a 1926. Graccho Cardoso reconhece o esforço feito, uma década antes, em Sergipe favorável a educação, que dava ao Estado uma posição destacada, em relação ao País, principalmente no combate ao analfabetismo, mas faz duras críticas a escola, considerando-a distante dos princípios da Escola Nova, ineficiente em seus propósitos e que fracassou no contexto da evolução geral da sociedade. Para ele “a escola que possuímos alfabetiza, mas deixa o menino na ignorância absoluta do que seja a vida, do ônus que à coletividade pesa, no sentido de melhorá-la”. Defendendo uma orientação profissional aos educandos, Graccho Cardoso disse que “importa que a ciência da vida e a economia do trabalho penetrem nos programas escolares” Para aquele governante em primeiro lugar deve estar a saúde da criança, depois a educação e por último a instrução, e compara: “um ano de estudos perdido não é uma desgraça irreparável; antes uma saúde prejudicada constitui causa permanente de impotência, debilidade e amargura.” Mais adiante na sua exposição arremata: “É que a cultura do caracter deve preponderar sobre a da inteligência. As qualidades morais, mais que os dotes do espírito, senhoreiam a harmonia social e a felicidade individual. Jovens ativos, leais, generosos, senhores de si próprios são, em todos os tempos, por maior que seja a sua incultura, cidadãos úteis à pátria.” Na sua plataforma o presidente do Estado estabelece quatro itens, que são: 1. Reduzir o número de horas de trabalho escolar aplicando o excesso a jogos, desportos, exercícios ao ar livre e diversões educativas; 2. Reformar os métodos e descongestionar os programas, estabelecendo o princípio da diferenciação entre o ensino e os respectivos núcleos, a partir de um certo grau em diante; 3. Implantar o auto-governo na escola e desenvolver a vocação dos alunos, num ambiente saturado de boa vontade e alegria; 4. Criar o ensino para a vida cívica e para a escolha de uma profissão futura. Graccho Cardoso vai mais adiante na sua reorganização escolar, prometendo regionalizar o ensino, tomada a criança do ponto de vista de sua procedência: da cidade ou do subúrbio, da zona industrial, agrícola ou pecuária, conforme o ramo de vida e influência de cada uma delas. Dentre essas crianças, umas seriam destinadas às profissões liberais, outras ao comércio, as artes e indústrias, encontrando cada uma delas o ensino correlato, adequado às respectivas aspirações vocacionais. A reforma do ensino incluiria uma mudança no funcionamento da Escola Normal, para que formasse os professores para a zona rural e equilibrasse o ensino entre as ciências e as letras. Já em 23 de novembro de 1922, através do Decreto 736, Graccho Cardoso restaura o curso comercial do Ateneu, de funcionamento noturno, acrescido da cadeira de Higiene Geral, mas em 9 de abril de 1923, pelo decreto 798, desintegra do Ateneu o curso comercial, criando uma Escola de Comércio, que a partir de 4 de agosto tomou o nome de Conselheiro Orlando, um afamado bacharel do Recife (Decreto 838). Pela Papeleta de Serviço o presidente proíbe as crianças das escolas de comparecerem à manifestações oficiais ou particulares, “tendo em vista a falta de resistência física e o prejuízo do ensino.” Por outra Papeleta, de 24 de maio de 1923, proíbe que sejam dados pelas professoras, às crianças, discursos para declamarem em festas cívicas, e outros relativos à comemorações de datas festivas. Também em 1923, pelo Decreto 836 de 28 de julho, Graccho Cardoso cria a Biblioteca Infantil Protógenes Guimarães, destinada “ao ensino moderno das crianças pela gravura, pela fábula e pelo cinema.” Uma novidade que, lamentavelmente, não vingou. Em 1924 criou, no Centro Agrícola Epitácio Pessoa, no Quissamã, o ensino agrícola, no Patronato São Maurício, levando para a zona rural um esforço educacional assemelhado ao que fizera, em Aracaju, para atender à indústria, com o Instituto Profissional Coelho e Campos. Outras boas novidades do Governo Graccho Cardoso foram as Faculdades de Direito Tobias Barreto e a de Farmácia que recebeu o nome de Aníbal Freire da Fonseca. A primeira, criada por uma sociedade civil, teve no próprio presidente do Estado o seu Diretor, a de Farmácia foi dirigida pelo médico Augusto Leite. Ambas deram os primeiros passos, chegaram a organizar as suas congregações, abriram matrículas, mas não chegaram a funcionar como prometido. De qualquer forma as duas Faculdades inauguraram a história do ensino superior em Sergipe, retomada somente em 1948, no primeiro Governo do professor José Rollemberg Leite, com a criação das Escolas de Economia e de Química e o favorecimento financeiro para a constituição das Faculdades de Direito e de Filosofia. Graccho Cardoso construiu diversos grupos escolares, transformou a cadeia de São Cristovão no Grupo Escolar Vigário Barroso e a cadeia de Lagarto no Grupo Escolar Silvio Romero, construindo uma imagem positiva da sua gestão como presidente do estado de Sergipe. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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