Guia de estilo para quê?

Poucas coisas me incomodam tanto quanto a ideia de que os chamados “truques de estilo” são infalíveis. Truques tipo os que a modelo Ines de la Fressange, apresenta em  A Parisiense que mesmo lançado há meses, continua na estante dos “mais vendidos” de uma livraria de Aracaju. Achei meio deprimente. Afinal por que alguém, aqui em Sergipe, iria querer se vestir nos moldes de lá?   Ah, porque se convencionou que as mulheres de Paris são lindas, são elegantes e são retratos daquele charme levemente despretensioso que tanto se busca. Em todo caso, o livro não foi escrito por uma parisiense nata. Ines é de Saint-Tropez.

O livro conta com ilustrações da própria Ines (foto: divulgação)

Lançado no Brasil pela editora Intrínseca e escrito em parceria com a jornalista Sophie Gachet, o livro tem uma capa que atrai. O acabamento também é um charme e se converte numa verdadeira tentação para os apaixonados pelos mimos do mercado editorial. Mas o conteúdo, aquilo que, supostamente, deveria me convencer, não convence. Ainda que Ines tenha sido musa da Chanel nos anos 80 e possua mais de 20 anos de experiência no mercado da moda, o livro não vai muito além de uma reunião de clichês e discursos vazios disfarçados com boas fotos e ilustrações atraentes.

Ines fica naquela velha história do “invista no clássico” – e clássico, aqui, são brincos de diamantes que a parisiense dirá, humildemente, se tratar de bijuterias quando alguém questionar a procedência -, “use apenas o que fica bem em você”, “não se torne uma vítima da moda” e outros desses conselhos que, antes de tudo, são questões individuais e de bom senso. Bem, se algumas meninas não aprenderam ou não quiseram aprender até agora, não é um livro escrito por um ícone fashion europeu que vai inverter o quadro. E acredite: não querer aprender também pode ser uma escolha consciente, diferente do que se prega por aí mesmo nesses tempos de falatório sobre diversidade e “liberdade fashion”.

É, o livro é superficial, cheio de “fórmulas” e não retrata a essência desse campo tão complexo e cheio de possibilidades que é a moda. Os chamados “clássicos”, por incrível que pareça, não funcionam para todo mundo. E isso é ótimo, ou as ruas seriam uma extensão dos corredores de escola, com todo mundo vestido mais ou menos igual. Buscar referências para compor nosso próprio estilo é um ótimo exercício. Já adotar, sem nenhum questionamento, algumas das 16 dicas que “ajudam a ter estilo sem esforço” é, no mínimo, deprimente.

Admito que entre um e outro conselho dispensável, Ines escreve algo bacana. Ela comenta, por exemplo, que as parisienses da margem esquerda do Sena fogem de brilhos e etiquetas e não gastarão fortunas para ostentar uma marca. Hábito que muita gente por aqui ainda insiste em perpetuar. Você, certamente, conhece alguém que para valorizar os atributos de uma peça não achou argumento além do fato de que “é de marca”. E muitas vezes, nem justifica, viu! Ela também incentiva a fazer combinações inusitadas, sair da mesmice. Ponto. Gosto de pessoas com espírito mais livre. De qualquer forma, o ápice do livro é quando ela diz que algumas regras são para ser quebradas, inclusive, as daquele guia. 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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