Havia um Lago no império dos Sarney

A lei é dura e rasa, mas é lei. E a Justiça é caolha. O que é mais ofensivo ao bem comum, aos interesses coletivos, à cidadania: um governador denunciado por participar da assinatura de convênios quando era candidato ou uma família poderosa que explora um Estado há 40 anos, responsável pelo atraso desse lugar paupérrimo, com os piores índices sociais e econômicos do Brasil?

 

Na última quinta-feira, os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitaram, por unanimidade, os últimos recursos contra a cassação do governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), e do vice Luiz Carlos Porto. Quem volta ao cargo como governadora é a segunda colocada no pleito de 2006, a atual senadora Roseana Sarney (PMDB).


A decisão confirma o julgamento realizado no último dia 3 de março, quando o plenário decidiu pela cassação do governador por abuso de poder político e captação ilícita de votos. Na última sessão, foi retirada a acusação de compra de votos.


O governador foi denunciado por assinatura de convênio entre o governo do Maranhão e a prefeitura de Codó, quando estariam presentes o então governador José Reinaldo Tavares e Jackson Lago, então candidato. Em outro caso, Lago participou de reuniões do programa Prodim, do governo do estado em parceria com o Banco Mundial, que visava a doação de bens e serviços a pessoas carentes.


Ao votar, o presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Britto, justificou os fundamentos “para a manutenção da cassação do mandato do governador” e sustentou que abuso do poder político e uso eleitoral da máquina administrativa “são irmãos siameses”, e que o patrimonialismo, “essa terrível doença institucional do país”, compreende a indistinção entre o público e o privado.


Pois é, ministro, mas quem mais baralha interesses públicos e privados senão as oligarquias? E que família melhor representa a oligarquia patrimonialista no Brasil de hoje senão os marimbondos de fogo do Maranhão?

 

O Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDSE), novo indicador elaborado e divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), confirma que o Maranhão é o segundo estado mais subdesenvolvido, à frente apenas do Piauí. Mas a pesquisa também mostra que o Maranhão foi o terceiro que mais evoluiu nos últimos anos.

Ao concluir o voto, o presidente do TSE reiterou que “não basta ganhar, é preciso ganhar legitimamente, é a opção que faz a nossa Constituição em homenagem, sobretudo, à ética e à vontade livre e soberana do eleitorado. Se não fosse pelo uso de meios escusos, o resultado da eleição poderia ser diferente”. Está certo o ministro. Se no Brasil fosse de fato aplicada a tolerância zero para todos os crimes esses erros não aconteceriam com a repetição amiudada com que tristemente ocorrem. E nem Sarney seria o rei do Maranhão.

 

Ping-pong com Jackson Lago

 

Por que o senhor resiste a deixar o governo?
Nossa presença aqui tem tornado possível mostrar a todo o País, através dos grandes meios de comunicação, a violência que está sendo cometida contra a vontade da maioria do povo, que me elegeu. A minha resistência faz o País conhecer melhor o Estado do Maranhão. O País só tem a versão do grupo dominante daqui, que é a família Sarney e detém todos os meios de comunicação.

O sr. acha que teve um julgamento injusto pela Justiça Eleitoral?
Alguém pode ter dúvidas do quanto fui injustiçado? Um cidadão como eu, que tem quase meio século de vida pública, atuou contra a ditadura, foi retirado do governo, um governo eleito pelo povo, para se colocar a filha do José Sarney no poder. É preciso muita ingenuidade para não se achar que fui injustiçado.

O sr. foi aliado histórico do presidente Lula. Hoje, ele é aliado da família Sarney. O sr. se sente abandonado por ele?
Não recebi nenhum tipo de solidariedade do presidente Lula. Mas não me sinto abandonado por ele. Até porque, quando ele vinha antigamente ao Estado, sempre estávamos juntos para combater os Sarney. Mas agora ele mudou de lado e a companhia dele é o Sarney.

Vários aliados seus, como o ex-governador José Reinaldo, não estão hoje aqui. O sr. também perdeu o apoio da maioria dos deputados estaduais e prefeitos do Maranhão…
O Maranhão é um Estado que foi governado durante 40 anos, sem alternância, pela oligarquia do Sarney. Não se pode pensar em uma classe política de outro nível. O Zé Reinaldo pode até ter tentado falar comigo, mas não conseguiu porque passei o dia inteiro com o telefone desligado.

O sr. vai passar o governo para a governadora Roseana Sarney?
Não vou passar protocolarmente o governo, em respeito à população que me elegeu.

Qual o legado que o senhor deixa para a nova governadora?
Vou deixar mais de R$ 380 milhões em caixa, sendo que cerca de R$ 200 milhões serão para pagar a folha de pessoal no fim do mês. Nesses dois anos e três meses de governo, construí 181 novas escolas, 700 salas de ciência e muitas estradas no Estado. Nos oito anos que governou o Maranhão, a Roseana Sarney endividou o Estado e foi mais radical do que a Margaret Thatcher (ex-primeira ministra da Grã-Bretanha) no campo das privatizações. A Roseana desmontou a administração pública do Maranhão. Espero que ela ao assumir continue fazendo o que fiz: a descentralização administrativa do governo. (O Estado de S. Paulo)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais