Homenagem a Pinduca

Desde o ano passado, quando sugeri ao prefeito Marcelo Deda uma Medalha comemorativa dos 150 anos Aracaju ao maestro Luiz D’Anunciação, ou apenas Pinduca, músico que tem parte de sua vida ligada, com intimidade, à história do rádio e dos clubes aracajuanos, que a eficiente responsável pelo Cerimonial da Prefeitura anunciou que a honraria seria outorgada. O tempo passou, e com ele a festa da cidade, e Pinduca não foi agraciado. Agora, a Sociedade Filarmônica de Sergipe fez o resgate justo e, na modéstia das suas possibilidades, prestou a homenagem da entrega de uma placa, significando o apreço, o reconhecimento, a admiração da parte da cidade que a SOFISE representa, músicos, cantores, maestros, e outros artistas, ao grande músico.

Luiz D’Anunciação nasceu em Própria, em 1928 e desde menino aprendeu a tocar com o seu pai, na banda local. Aos 8 anos tocava piano e assombrava os ouvintes, sendo trazido para Aracaju e mostrado, com sua precocidade, como um artista talentoso e de futuro. Cresceu com a música e formou, ao lado de jovens de sua idade para mais velhos, grupos musicais que marcaram época na capital sergipana. Murilo Mellins, seu primo e contemporâneo, brilhante memorialista de Aracaju, encarregado pela professora Olga Andrade, dirigente da SOFISE, percorreu as ruas do passado, cassinos, clubes, reuniões, farras, festas, tudo enfim que emoldurava a vida da cidade. Pinduca, com sua Rádio Orquestra, esteve no centro dessa geração que ganhou notoriedade com a instalação, pelo Governo estadual, da Rádio Difusora ( hoje Aperipê), instalada inicialmente no Palácio do Governo, para servir de comunicação ao DEIP – Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda – instrumento do Estado Novo, e depois, em prédio compartilhado com o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Tempos bons, de Alberto Horácio Bissextino de Carvalho Teles, simplesmente Bissextino, baterista, cantor, nascido em 29 de fevereiro de 1924, que também foi Escrivão, já falecico; Urcino Fontes de Araújo Góis, o Carnera, nascido em Boquim, em 26 de julho de 1920, reinventor do modo de tocar violão, vida longa, morto há pouco tempo; Cláudio Silva, nascido em Riachuelo, em 30 de outubro de 1903, era o mais velho do Grupo e tinha a família, a começar por Wolney Oliveira Silva, que nasceu em 15 de abril de 1932, foi locutor da Voz da América, emprestou sua voz a eventos especiais no Rio de Janeiro e morreu, de repente, no trânsito carioca, deixando mais dois irmãos ligados ao rádio: José Romário e Paulo Silva; Oscar Pessoa dos Santos, o “Seu” Oscar, pandeirista, diretor de Escola de Samba, presença freqüente nos auditórios das rádios sergipanas, vítima de preconceito, porque apresentado como “o pretinho da alma branca. “Seu” Oscar era, também, de Riachuelo, e nasceu em 21 de fevereiro de 1914. Outros nomes surgiram: João Melo, o cantor máximo de Sergipe, criado em Boquim, José Santos Mendonça, Arnulfo Santos Santana, José Ribeiro, com o pseudônimo de Sodré Júnior, de uma família de radialistas e radiologistas, Nelson Souza, que nasceu na Bahia e fez rádio e política em Sergipe, Alfredo Gomes, e muitos e muitos outros, que trafegaram nos mesmos espaços, e reuniram o que de melhor Sergipe produzia naquele tempo, e que digam Carvalhal, José Moreira, e o próprio Pinduca.

Mais do que um músico de múltiplas faces, capaz de sair da Bahia, onde fazia sucesso, para comprar um instrumento usado, em Aracaju – um Vibrafone -, enfrentando a má vontade de Augusto Luz, arrendatário da Rádio Difusora, Pinduca estudou, buscou aperfeiçoar-se, no País e no exterior, exercendo longo tempo de maestria em orquestras nacionais, estúdios de gravação, programas de rádio e de televisão, construindo uma biografia de sucesso, desdobrada, nas últimas décadas, em estudos e publicações que revelam as qualidades e as singularidades dos instrumentos populares, de percussão, identificando os sotaques diferenciados, que têm maravilhado os ouvidos do mundo.

O Pandeiro e o Berimbau, dentre outros, são os instrumentos que o maestro Pinduca estuda, como atesta o seu mais novo livro – Os instrumentos típicos brasileiros na Obra de Villa-Lobos (Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Música, 2006), edição bilíngüe, português-francês, acompanhada de um CD do músico, com o mesmo título.

Na sua vinda a Sergipe, para receber a homenagem da SOFISE, o maestro Pinduca apresentou seu novo livro, encontrou velhos amigos, e ficou feliz pelas horas que a festa permitiu evocar do passado, povoadas por muitas lembranças.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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