Hospital Dr. Jessé de Andrade Fontes

          O Governo de Sergipe inaugura nesta quinta-feira, 24 de novembro, o Hospital Regional “Dr. Jessé de Andrade Fontes”, na cidade de

Dr. Jessé  Fontes

Estância. Que agradável notícia. Justa homenagem a  valoroso sergipano, médico humanitário que atuou com destaque em nosso estado na primeira metade do século XX.  O ato contempla  também o anseio da classe médica  através de suas entidades representativas, que iniciaram uma salutar campanha para que o nome do inolvidável esculápio fosse escolhido para denominar o novo hospital da cidade.
         Recordo-me com satisfação da tarefa que me foi incumbida  de articular  uma ação visando sensibilizar o  Governo de Sergipe para que esta nova unidade hospitalar,  em construção  na cidade de Estância, pudesse receber o nome do Dr. Jessé de Andrade Fontes.  Cumpri  a tarefa com rapidez e satisfação. Consegui das entidades médicas por unanimidade o apoio para a causa. Publiquei anda na imprensa escrita e neste  mesmo blog uma crônica sobre o Dr. Jessé.
        Nada  mais oportuno pois do que rememorar o que escrevi há dois anos, no dia presente em que se concretiza a homenagem a este grande sergipano.
Escrevi assim, à época:
      Incumbiu-me o ilustre presidente da Sociedade Médica de Sergipe Petrônio Gomes, de articular  uma ação conjunta das entidades médicas do estado visando promover gestão junto ao Governo de Sergipe para que a nova unidade hospitalar,  que está sendo construída na cidade de Estância, possa receber o nome do Dr. Jessé de Andrade Fontes. Nada mais justo e oportuno.
     Homenagear o Dr. Jessé Fontes é preciso. Médico de reconhecida competência, teve destacada atuação para o desenvolvimento da ciência médica no sul do estado, especialmente em Estância, onde exerceu a profissão com humanismo e dedicação, como clínico e cirurgião. Até 1950, a medicina era una, indivisível, não havia especialidades médicas bem definidas como se verifica ( até exageradamente) hoje. Vigorava o princípio da medicina generalista, completa, dentro do conceito da integral humana: um só órgão, que é o corpo, e uma só função, que é a vida, como dizia Garcia Moreno, na crônica “Strip-tease médico”, escrita em 1960, denunciando a  superespecialização e a segmentação exagerada da medicina.
       Jessé exercia a prática médica global, “da cabeça aos pés”, utilizando os precários meios de transporte de então para atender aos mais necessitados, não só em Estância, como também em Santa Luzia, Arauá, Itabaianinha e outras cidades do sul de Sergipe.
        Nasceu Jessé Fontes no antigo engenho Mãe de Deus do Amparo d’Areia, em Arauá, em 29 de novembro de 1881, filho do Capitão Felisberto Fontes de Melo e D. Anna de Andrade Fontes (Donana), sua segunda esposa. Ambos eram viúvos. Com a tenra idade de 22 anos, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 22 de dezembro de 1903, defendendo a tese “Estudo da síndrome da porção espinhal do feixe piramidal”. A partir de 1904 estabeleceu sua clínica em Estância, atuando ao lado de Josaphat  Brandão, continuando a obra de João Vieira Leite, outro médico de muita importância na vida de Estância, mas que teve morte prematura, com apenas 35 anos de idade. Exerceu a arte médica no Hospital Amparo de Maria, do qual foi diretor.  Na epidemia de gripe espanhola, acontecida em 1918, teve destacada atuação bem como no atendimento aos náufragos  vítimas do torpedeamento dos navios brasileiros pelos submarinos alemães na Segunda Guerra.
         Sua atuação no entanto foi além da ciência de Hipócrates. Católico convicto, nutria ainda  a paixão pela educação. Ensinou em vários estabelecimentos, em completo devotamento ao ensino. Assim, assumiu posteriormente funções administrativas como Delegado de Ensino, Inspetor Escolar e Diretor do Grupo Escolar Gumercindo Bessa. De formação erudita, lia, escrevia e falava fluentemente o inglês e o francês.
        O intelectual Urbano Neto, na oração proferida por ocasião das comemorações alusivas ao primeiro centenário de nascimento do nosso enfocado, revela um episódio interessante.  Lia Jessé  um determinado texto durante uma aula na vetusta Faculdade de Medicina da Bahia, a pedido do professor da cadeira, quando este o interpelou: “Sr. Jessé, eu não sabia da existência deste livro em português”, ao que ele retrucou: “Eu também não sei se existe, este mesmo é em francês.” “O senhor então fez uma tradução primorosa”, afirmou o titular da cátedra. Disse-lhe por fim, Jessé: “Aprendi na minha terra.” Segundo ainda Urbano Neto, era comum na Bahia falar-se mal da instrução em Sergipe.
        Jessé era um homem muito festeiro, orador contumaz, um grande dançarino. Promovia inúmeras festas e espetáculos culturais. Destacou-se como orador oficial da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe, da qual foi um dos seus fundadores, em 1911, entidade precursora da atual Somese, ao lado do médico e intelectual Helvécio de Andrade.
       Faleceu em 31 de agosto de 1961, com 79 anos, assistido pelo professor Antonio Garcia, nas dependências do Hospital de Cirurgia, sendo sepultado na sua querida cidade de Estância
         Denominar o novo hospital de Estância com o nome do Dr. Jessé de Andrade Fontes é, portanto, uma homenagem justa e oportuna do Governo de Sergipe, apoiada por todas as entidades médicas locais que, irmanadas na Federação recém-instalada, esperam  a consecução desse desiderato.
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        A luta, pois, valeu a pena. Graças a sensibilidade do governador Marcelo Déda e de sua equipe, e a campanha meritória da Somese e da Academia de Medicina, em especial, o nome de Jessé de Andrade Fontes permanecerá “vivo” na memória de todos os sergipanos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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