Moncho Rodrigues, diretor de teatro, agente de cultura, que estava no CumpliCidades e na base da Ópera do Milho, está, agora, participando do I Encontro Ibérico em Sergipe, troca de experiências, mediadas pelo SEBRAE, vinculando arte, cultura e turismo como áreas inseparáveis a futuros projetos de aproximação do Estado com os países ibéricos. A junção de interesses garante, de logo, o êxito da promoção. Agrega-se o apoio dado, pessoalmente, pelo governador João Alves Filho, que tem consciência do papel do turismo e das manifestações artísticas e culturais nas parcerias internacionais. A fala do governador, na abertura do evento, tanto pelo conteúdo, como pela demonstração clara do seu interesse, vale por um aval a futuros projetos. O temário do I Encontro Ibérico propõe a dinâmica de estudar, em palestras e mesas, em Aracaju, e de oferecer ao conhecimento dos convidados e participantes, os exemplos gerados nas cidades históricas sergipanas – Laranjeiras, com suas tradições, São Cristóvão, com sua arquitetura -, que integram a potencialidade turística do Estado. Tais cidades estão relacionadas com a formação sergipana e contaram com a contribuição dos dois países europeus, dos quais descendemos. O chamamento Da Tradição à Modernidade não poderia ser melhor, quando se pensa em ampliar e aprofundar os contatos, visando investimentos, promoções, conhecimento pleno dos parceiros. Há um atraso, sob todos os aspectos prejudicial ao Brasil, nas relações do nosso País com a Espanha e com Portugal. Os brasileiros, nem sempre bem informados, rejeitam a ancestralidade portuguesa, quase nada conhecem da civilização ibérica, e pouco sabem do papel histórico que teve a Espanha, nos primeiros tempos da colonização brasileira. A ignorância não está restrita ao dois países, mas se estende até a Holanda, que viveu alguns anos no nordeste brasileiro, propondo outro tipo de colonização, e a África, útero do braço que pelo trabalho viabilizou o projeto colonizador português. O atraso não tem sido apenas resultado da indiferença das pessoas, mas e principalmente como opção política, que tem isolado do Brasil das suas origens. O I Encontro Ibérico em Sergipe pode, muito bem, recuperar o desenho da rota atlântica, viagens, feitorias, capitanias, Governo Geral, tudo enfim que ateste a presença lusa em terras brasileiras, como um feito epopéico, cientificamente atualizado pelo domínio das navegações, e principalmente pelas conseqüências. O Brasil que hoje goza de conceito e de prestígio entre as nações do mundo, em todos os continentes, é um projeto que deu certo, a partir da audácia dos descobridores e colonizadores portugueses. Não há, portanto, como negar tais evidências, nem esconder o sangue mestiço que corre nas veias dos brasileiros, como se fosse uma fusão das muitas pátrias de aventureiros, nas circunstâncias que dilataram a cartografia do mundo. A arte e a cultura brasileira, mais precisamente no nordeste e em Sergipe, fornecem os mais diferentes sotaques, com os quais as tradições ibéricas têm sido mantidas. Recorrer a elas é progredir.
Não é a primeira vez que o Estado de Sergipe, pelos seus organismos de cultura, se movimenta para harmonizar interesses com Portugal e Espanha. Nos anos de 1990 o Projeto CumpliCidades, coordenado no Recife pela Fundação Joaquim Nabuco, reuniu artistas, escritores, grupos teatrais, em eventos em Aracaju, em algumas cidades nordestinas, em cidades portuguesas e espanholas. Vários produtos atestam o acerto da iniciativa: a edição de uma antologia poética nordestina, apresentação de espetáculos, formação de atores, dentre outros. A Ópera do Milho é um bom exemplo, pois nasceu da presença em Sergipe do grupo Guirigai, da Espanha, de uma oficina de teatro – atores e figurinos -, enriquecida com uma pesquisa sobre as tradições ibéricas presentes no ciclo junino, resultando na montagem do espetáculo, que sem dúvida foi o ponto alto da história da dramaturgia em Sergipe.
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