Imprudências, Tolices e Estultices.

Meu caminhar sempre foi norteado na prudência. Nunca tergiversei por experimentos alucinógenos, nem persegui trajetórias ilusórias.

Sou e sempre serei um homem comum, alguém que passa despercebido e parece transparecer indiferenças, tal a desambição que me acompanha.

Fui e persisto no mesmo ensimesmar casmurro e descrente.

À parte isso; por obstinação profusa, difusa e jamais confusa, luto por um mundo melhor, confiante tão-somente em mim mesmo, arrimado no esforço e na disciplina para a compreensão da ciência e melhor aburilar o ser.

Animam-me os velhos valores que nestes tempos opiniáticos de internet vêm sendo desprezados por excedente canalhice em imaturidade e ignorância, verdadeiros atentados à gramática, à matemática e até à simples, por singela, axiomática.

Sem falar que a despeito da excessiva ausência temática, o vale tudo impera, sobretudo para o palavrão cuspido ao céu e a ofensa anônima escarrada ao léu, em coragem digna a invejar ideais cagaços.

Um desafio a arregaços de censuras, porque no afã medíocre da exaltação do politicamente correto, por anárquico, embusteiro e rasteiro, é muito feio censurar o vulgo que deve permanecer asinino, menos fescenino que alvar.

E eu os censuro e os desprezo sem qualquer comiseração ou condescendência, sobremodo por pedagogia necessária.

Mas, se há tantos ignorantes na internet que dirá de tantos formadores de opinião a criar mitos por equívocos preconcebidos ou a soldo de benesses?

Veja-se, por exemplo, o vigente noticiário. “O Governo de Sergipe por sua Comissão de Verdade não deixará violações no esquecimento”, e, para tanto, encaminhou expediente aos altos escaninhos da nação, para que sejam apuradas as torturas acontecidas, salvo engano, no período momesco de 1976, nas dependências do “outrora glorioso” 28º Batalhão dos Caçadores.

Digo “outrora glorioso”, porque se antes o batalhão altaneiro da colina era pensado e louvado assim, agora vem sendo detratado e vilipendiado sem defensores, nem públicos, nem privados.

Acusado de abrigar entre seus muros ecos e rastros de feitos considerados tão sinistros quão mais sinistramente insinuados, o altivo regimento da colina está sendo intimado a renegar a sua História, denunciado por abrigar entre seus tijolos uma espécie de esteira de estrume, acoimada e aludida pelo queixume, azedume e pelo mau costume, como é comum entre os que vencidos e rendidos ingloriamente em todas as guerras e batalhas, ensarilham suas armas oportunisticamente para novos embates.

E neste convite de renegar o passado, quanto vale a História de ontem, perante a de hoje e a que virá?

A História por acaso pede perdão, ao sabor do lume, do gume e da acritude urdume das facções?

E nesse assacar de acusações deletérias, convém relembrar o escritor Julio Jose Chiavenato em Genocídio Americano – A Guerra do Paraguai, livro que li e perdi, mas não esqueci, sobretudo pelo ataque covardemente desferido contra a figura do Duque de Caxias, acusando-o de exterminar inocentes guaranis, por contaminação biológica, infectando os mananciais paraguaios com os cadáveres dos soldados brasileiros ceifados pela cólera-morbo.

Ontem, como hoje, sempre invocando os frutuosos crimes imprescritíveis.

Já que, prescritíveis para muitos, só o são os crimes ditados pela ideologia. Agora reverberando Kenneth Mingue, afinal por ideologia se compreende “qualquer doutrina que apresenta a verdade salvífica e oculta do mundo sob a forma de análise social”.

E assim, enquanto etapa de salvação, a ideologia pode cometer os mais execráveis delitos tudo com um salvo-conduto preventivo de compreensão e absolvição.

Porque quando se fala da ideologia como “verdade salvífica do mundo”, é decadente e retrógrado imaginá-la como “uma fraude, um complexo de mitos artificiais e falsos, disfarçado de história”, como bem denunciara Raymond Aron em L’Opium des Intellectuels, publicado em 1955, obra rejeitada por toda a esquerda marxista, leninista e buquinista, irradiadas a partir da Rive Gauche, da Sorbonne, num tempo encantatório de tantos indivíduos doces e ternos como Pol Pot, e outros tiranetes menores espalhados pelo globo.

Não era vista globalmente assim a ideologia marxiana, como vero ópio de intelectuais, ao refutar as ideias como mera expressão de interesses de classe, definidas apenas em relação a simples demandas econômicas?

O homem não iria se realizar em felicidade plena mediante a revolução, com o triunfo do proletariado, e por fim com o comunismo, tudo o que tais perseguidos queriam e lutavam, alguns até com armas na mão, crendo-se fiéis depositários da liderança popular, que felizmente não vingou?

E não vingou porque uns nascem para Kerensky, inocente útil, que salvou a pele, em arroubos de perus, outros, como Rosa Luxemburgo e Trotsky, grandes águias, ambas derrubadas em pleno voo, e outros em voejos tão medíocres de galinha, que não merecem o abate, nem por canja.

Lamentação válida só por Rosa, a Vermelha, martirizada a paulada pela reação antagônica e sanguinária, e por Trotsky, o barbicha idealista da revolução permanente, não menos covardemente caçado, e em pior circunstância ainda, atingido a machadadas na sua toca no México distante por um sicário que foi louvado e enaltecido por Stalin o grande líder dos povos.

E o que dizer dos que localmente se arvoram posando de heróis em seus voos rasteiros? Algum deles resistiria a um Béria, se o descaso dos brasileiros permitisse-lhes a vitória, enquanto líderes?

Por acaso essa turma quer convencer agora que lutava pela liberdade e democracia?

Se fora assim, por que louvavam tanto a ditadura do proletariado com a classe trabalhadora atingindo o paraíso? Louvação que eu ouvira adolescente como todos eles, empolgado também, sem perceber que estávamos entusiasmados, excitados pelas causas fáceis de serem gritadas ao vento, sem lenço e sem documento, querendo mudar o mundo só no grito?

Pois é! Felizmente, no meio de tantos imprudentes e inconsequentes, muitos em expressiva maioria abafamos o grito que era tolo, só por prudência e moderação. E o regime militar imposto mostrou que aquelas gargantas estridentes e incongruentes não lideravam ninguém, com o seu eco perdendo-se sem reverbero.

E uma coisa notável do regime militar inaugurado em 1964 foi ter se alongado o suficiente para vencer os diversos golpes, à direita e à esquerda, porque muita gente desejou que o caldo engrossasse.

Um alongamento que se fez bênção de Deus único, por brasileiro, pois permitiu uma providencial transição para a democracia em passagem suave, moderada e segura. Uma tradição sensata e madura da política brasileira, onde as elites têm conseguido evitar as aventuras dos sempre insatisfeitos radicais.

Tanto isso é verdade que ao levante da nova república, e sob os auspícios da “constituição cidadã”, a promulgação se deu quando o mundo já havia mudado; devidamente imunizado das ideologias totalitárias, em pleno regime de “fim da história”, derradeiro golpe dialético iniciado por Georg Wilhelm Friedrich Hegel, desferido então pelo japona estadunidense, Francis Fukuyama, ainda hoje ereto e inabalado.

Porque a queda do muro de Berlim, e com ele toda a derrubada das paradisíacas ditaduras do proletariado, que mataram tanto, aos milhões, incontáveis à moderna estatística, deixou muita gente envergonhada, mundo afora, sobretudo daqueles marxistas e leninistas da minha geração, tão lupinos e carnívoros em ganidos de mau, que se travestiram angelicais e românticos, lobos encantadores, não só em pele e balido, como até em dieta de carneiros.

Uma percuciência aqui esboçada e explicitada só para lhes confirmar, que ainda não fizeram uma suficiente autocrítica, pois lutavam para nos tolher a liberdade.

Tanto é assim que estamos a ouvir em terra pátria a rotineira edição deste balir, tão carpido, quão fingido e desesperadamente explicitado para bem entronizar o “memoricídio”, um recorrido expediente das esquerdas, sejam elas simplórias, totalitárias e sanguinárias, para a criação de mitos e heróis, e sobretudo no processo de varrição de seus erros em demanda ao esquecimento, enquanto cisco incômodo por debaixo do carpete da História.

Neste particular, recomendo a leitura de Vendée – Du Génocide au Mémoricide (www.editionscerf.fr), excelente trabalho em que Reynald Sercher, ainda não traduzido em português, porque até as editoras contribuem para o esquecimento destes genocídios sempre presentes na história, mas criminosamente relegados ao esquecimento, via memoricídio, esta palavra ainda incomum aos dicionários.

Mas, por que falar dos grandes massacres perpetrados pelos igualitaristas jacobinos franceses contra a Revolta Vendeana, e outros genocídios como os dos jovens turcos de Talaat Pacha contra os Armênios, os de Lenin, Stalin, Mao, Hitler, Pol Pot e outros como os da África; de Angola, Moçambique, Ruanda, etc, mesmo quando os abatidos atingem milhões, definitivamente perdidos até contabilmente?

Um excelente livro que trata do Memoricídio, tema incômodo para as esquerdas que sempre gostam de matar, aos milhares e até milhões, e tudo é convenientemente esquecido, para que lhes sobre a fama de suavidade e tolerância.

Por que falar até mesmo dos assassinatos exemplarmente conferidos por Fidel Castro, em mais de cinco décadas de arbítrio no paraíso cubano, se a imprensa sergipana prefere não deixar “violações no esquecimento”, bem aqui no 28º BC, em excessos ditos bem mais cruéis e imprescritíveis?

Logo aqui em Sergipe, terra de poucos santos e heróis e cujos mártires são contados a dedo!?

Do tribuno Fausto Cardoso, junto ao saveirista Nicolau do Nascimento, isso em 1906.

Do operário Anísio Dário em 1947, martírio que as autoridades da época afirmaram ter sido perpetrado por “esbirros de Moscou”, segundo relato histriônico da imprensa oficial.

E do último, salvo engano, do sindicalista, Lídio Paixão, morto pelo populacho enfurecido com o suicídio de Getúlio Vargas, só porque em pleno comício na Praça Fausto Cardoso invocara a calma, tão necessária aos espíritos suasórios!

Ora, por uma ideologia mata-se e se aceita morrer e,… o papel dos jornais aceita tudo!

Ali não se fala de mártires como Zinoviev, Kamenev, Sedov, Bukharin e Elza Fernandes, ceifados por descaminhos revolucionários.

Nem de outros como Rosa Luxemburgo e Trotsky, grandes águias, abatidas em pleno voo.

Dela, a Rosa Vermelha, só se fala por intolerância de uma ideologia antagônica, embora não lhe faltassem denúncias de promiscuidade coletiva em contaminação sifilítica.

De Trotsky, caçado no México distante como a um inimigo a ser perseguido e eliminado, teve seu martírio comemorado em muitas loas escritas, sendo louvada e enaltecida até mesmo a machadada que lhe fendeu o cérebro.

Ou não foi homenageado assim o sicário contratado por Stalin para mata-lo, ele Trotsky, um leão que não legou camiseta temática como o assassino Guevara?

Felizmente somos brandos e aqui a louvação só atinge aves de arribação de baixa cota. Só temos a lamentar o esgoelar por lesões mais leves, o que não as torna justificáveis nem merecidas.

Infelizmente, porém, em terras brasílicas, o imerecido e injustificável se faz bem mais dorido para assim obter compensações, afinal a seriedade dos homens é epidérmica, nossa peste vem de outra cepa, daquela que só as burras da nação suportam em indenizações esbórnias.

Trata-se de um desregramento quotidiano, espécie de endemia recorrente, que se não mata ninguém, erige tantos heróis em feitos, que as burras da nação serão, mais e mais, insolventes, para pagar tanta indenização requerida.

E porque nenhuma indenização é suficiente para absolver tanta dor dos incondicionalmente derrotados e vencidos na luta armada assumida ou arrotada, eis que está vigente o momento de renegar oportunisticamente a rendição aceita na guerra perdida, poupados e remidos, insubmissos mal convencidos, esboçando novos embates de vendeta, agora por conta das bodas douradas do 31 de Março que passou.

Mas, “modus et rebus”, não exageremos tanto! Esta louvação desmedida já rendeu demais! Tem muita gente ainda vivendo na punga daqueles malfeitos vencidos, que já deveriam até por lei, estar remidos.

Todavia, não é assim que norteia o revanchismo dos espíritos empedernidos que permanecem sedentos em reafirmar a sua atuação ainda imprudente.

Mas, quem contempla tudo de fora vê que esta querela adubou tanto, em tantas carreiras medíocres, de 1964 para cá, em benesses de reparações pelo Estado. Ou não exibem assim os seus curricula vitae, acarinhados em quase todos os governos, sobretudo os da ARENA, ou siglas outras sucessoras, onde estavam em mando e comando os que hoje não se conseguem enxergar, enquanto ditos e outrora malditos, sucessores e “filhotes da ditadura”?

Porque esses governantes, a bem da verdade, sempre atuaram para conter os excessos, embora os “torturados” amplificassem suas próprias dores a ponto de bem se servirem, desta fama sofrida de violentamente perseguidos, para angariar, alguns mandatos eletivos, cargos em comissão vantajosa, a ponto de apresentarem lautos currículos, pródigos em rala competência e vasto parasitismo, sem a exibição de nem mesmo um reles mérito aferido em concursos de prova e título. Tudo conseguido por mérito de compadrios e favoritismos renegados.

Mas, para a imprensa sergipana, o governo entrou nessa lorota de “não deixar impunes violações de esquecimento”.

Poder-se-ia bem cantar agora – “Oh! Que mentira! Que lorota boa!” – pois segundo o nosso noticiário local, durante o carnaval de 1976, nos calabouços do 28º BC, cometiam-se tormentos tão impiedosos que comoveriam não só Torquemada como Béria e até os carcereiros de Guantánamo.

Quanta tolice dos nossos atuais dirigentes que deveriam mirar o porvir e não futricar o heroísmo que não conseguirão pipetar!

Sou, neste particular, um homem independente para possuir as minhas escolhas e contemplar tanta bobagem dos nossos políticos, que quanto mais sobem ao pedestal, se apequenam e menores ficam.

Felizmente eu, na minha insignificância, continuo a ser o herói que reside em mim, em fraquezas rotineiramente descobertas, e limitações a estender e superar.

Nunca serei, como tais, um super-homem. Prosseguirei apenas um herói tolo, um tolo herói que ainda não morreu no trailer.

Anima-me, todavia, aquele que prossegue tentando legar exemplo, sem ousar deixar tanto rastro.

De modo que estou sempre repetindo o poeta: “Passa, ave, passa e ajude-me a passar”. Um responso bem difícil, perante a minha decepcionante circunstância.

Circunstâncias à parte, em minha cota insignificante tão térrea quão rasteira, sou, talvez, por meu pensar dissonante, um homem sem qualidade.

Não me vejo, porém, tão desqualificado assim. Sou, quiçá, um herói tolo, por entender que devo pouco a outrem, o escasso e tosco que construí.

E por ser assim, os homens da minha circunstância pouco despertam o meu aplauso. O que parece não os incomodar, profundamente, espero.

Alguém já disse e vale repetir por conquista universal do saber, que “a influência pela palavra pressupõe estudo, conhecimento, aprendizado e pensamento”.

Não é o caso da internet, onde parece cumprir-se aquela mal-aventurança não pregada por Cristo de que os despreparados unidos herdarão a terra.

No entanto não devemos deixar campear, sem peias nem limites, os incapazes aos montes e a tantos bem capazes de tudo.

É preciso refutar os discursos encantatórios a serviço de descaminhos de miséria e sofrimento para o Brasil. Tudo aquilo que nem Moisés pensara como praga do Egito.

Sendo um teísta converso, confesso-me um homem de pouca ou nenhuma fé. Pelo menos esta fé medrosa e capciosa de tantos que a usam e abusam para melhor explicitar seus planos, desejos e álibis.

Creio apenas no esforço que, mesmo sem contar com Deus, Deus ajuda e nunca atrapalha.

Creio somente na ciência. Não porque seja a ciência a perfeita definidora das certezas.

Não, a ciência não é assim. A ciência é humilde por imperfeita. Por estar sempre a se descobrir e se renegar, sem suscitar mártires, nem despertar santos.

Ninguém se imola por uma verdade científica: “Eppur si muove”, como dissera Galileu Galilei perante a autoridade curial.

E por pensar assim, o noticiário só me faz suscitar lamentos em tanta imprudência cometida por tolices e estultices dos homens.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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