Final da década de 80 eu fazia reportagem especial para o saudoso Jornal de Sergipe, quando escrevi ampla matéria (de página inteira) focando o contraste social e econômico de uma região aracajuana: o bairro Coroa do Meio, onde contrastavam com mansões e prédios de luxos, palafitas de madeira nos manguezais da região. Consciente ou não, nestas palafitas, governo e sociedade, construíam o futuro excludente e marginal de nossa cidade. No transcurso destes 20 anos, famílias integras e trabalhadoras que vinham à grande cidade em busca de sobrevivência, viam muitos de seus filhos morrer por falta de assistência médica ou por envolvimento com a marginalidade. Essas famílias só conheciam a “justiça” quando a polícia desempenhava seu papel repressor, fosse no combate a criminalidade infiltrada na região ou quando cumpriam ordens superiores para retirar os “invasores” do mangue. Esse é um exemplo claro de exclusão social vivenciada por milhares de famílias neste pequeno pedaço de terra, ou melhor, de mangue. Pessoas amontoadas em barracos sub humanos, largadas à própria sorte. Sorte, que sorte? Que esperar de crianças que crescem em ambiente tão adverso? Não deu outra, até bem pouco tempo, a conhecida “invasão da Coroa do Meio”, era uma das regiões mais violentes de Aracaju. O que tem mudado nesta região e quais foram as ações desenvolvidas? Teriam colocado um quartel general da PM para reprimir ainda mais a crescente violência da área? Endureceram as leis para punir os infratores ali residentes? Criaram uma milícia para executar os infratores ali residentes? Não, nada disso foi feito. Isso era exatamente o que se fazia, mas que só trazia efeitos contrários. A violência aumentava cada vez mais. Foi preciso o estado se fazer presente com ações sociais de inclusão. Tornando cada pessoa residente naquelas palafitas num cidadão ou uma cidadã, lhes dando a dignidade almejada tão ansiosamente. A julgar pela pouca publicidade que foi e é dada até hoje àquela grandiosa obra de inclusão social pela ex e atual administração municipal, talvez nem mesmo seus executores (Marcelo Déda e Edvaldo Nogueira) tenham clareza plena do seu real alcance. A obra de saneamento, esgotamento sanitário e construção de casas para os “palafiteiros” lhes devolveu o que de mais sagrado deseja todo ser humano. Estas famílias foram incluídas socialmente, saíram da condição marginal a que eram relegadas, passaram a dispor de condições sanitárias mais dignas e pasmem os descrentes, os índices de violência na velha “invasão” da Coroa do Meio, foram reduzidos a números quase imperceptíveis. Esse é um exemplo de como se combater a crescente violência no Brasil. Não é apenas aumentando o poder repressivo do Estado. Se o aumento da repressão fosse a única e mais significativa solução para combater a crescente violência, ainda hoje estaríamos vivendo em plena ditadura militar e não numa democracia cada vez mais participativa. Ações sociais de inclusão fortes associadas com ações de segurança surtem mais efeitos positivos que a simples repressão. Em tempo: se o estado se fizer presente nos “grotões” das exclusões sociais com obras significativas, certamente em médio prazo, a violência, muito provavelmente, já não será mais a principal preocupação da sociedade brasileira. Leia Mais
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