Sempre que falamos em inovação uma pergunta mental é feita automaticamente: “Para que?” Até alguns anos atrás poderíamos afirmar que era porque quando alguém falava nesse assunto era uma pessoa moderna, atualizada. Lamentavelmente, quando analisamos o íntimo do cenário da inovação dentro de uma empresa sabemos que não é tão simples assim porque para instalarmos um processo de inovação precisaremos antes de qualquer coisa pensar em criatividade, quebra de modelos mentais, paradigmas e avançarmos além da nossa zona de conforto. Sempre que escuto falar sobre inovação presto bastante atenção, no entanto, na maior parte das vezes, percebo que as pessoas falam superficialmente, porque me parece é que não conhecem a fundo o seu significado e até mesmo confundem inovação com criatividade. Recentemente li um artigo interessantíssimo do Steven Prokesch[1], no qual ele apresenta um gráfico da empresa de consultoria CPSB[2] onde são apresentadas as características essenciais que diferenciam 10 organizações inovadoras de 5 organizações estagnadas. As características essenciais apontadas são: Desafio/envolvimento, Liberdade, Confiança/abertura, Tempo para Idéias, Descontração/humor, Conflito baixo, Apoio às idéias, Debate e Riscos. Portanto, como se pode constatar o ambiente criativo é uma condição essencial para se gerar inovação e não um fato casual. Escuto falar muito em inovação, como já afirmei acima; todavia, mas quase sempre se trata de inovação em produtos e serviços e quando estamos no cenário empresarial precisamos pensar em, pelo menos, quatro tipos de inovação[3], para que um clima favorável à mesma se instale. Vamos imaginar uma pirâmide, vamos construí-la de baixo para cima: 1º- A inovação operacional é encontrada na base da pirâmide, todavia raramente produz vantagem competitiva. Para esse tipo de inovação acontecer é necessário que se tenha uma excelente qualidade de infra-estrutura de TI, por outro lado, sabe-se que as vantagens de TI conseguidas pelas empresas dificilmente são suficientemente protegidas. O que se está percebendo, hoje em dia, é que muitas empresas abrem mão do segredo do negócio e terceirizam muitas atividades importantes. É justamente ai que mora o perigo, porque, por outro lado, como as empresas terceirizadas geralmente prestam serviços a várias outras empresas similares terminam por não ter condições ou tempo suficiente para investir e ajudar a um único cliente a construir uma vantagem superior aos seus concorrentes. Por outro lado, se constata também que se encontra uma gama elevada de consultores que terminam por transferir as melhores práticas de organizações de sucesso para organizações muitas vezes medianas que não conseguem enxergar essas vantagens ou muito menos tirar proveito delas. São esses movimentos espontâneos ou não que tendem por deixar no mesmo nível as vantagens operacionais que as empresas podem adquirir. 2º – A inovação de produtos/serviços é encontrada num patamar acima. Essa é uma questão extremamente importante e delicada. Até alguns anos atrás a inovação de um produto ou serviço levava uma empresa para um patamar de sucesso na qual a mesma poderia se instalar por muitos e muitos anos. No entanto, isso hoje não é mais uma realidade, os produtos ou serviços inovadores na maioria das vezes são rapidamente copiados e, até mesmo, muitas vezes superados com uma velocidade fantástica. A explicação é muito simples, como a empresa que copia o produto/serviço não precisa mais investir na geração do mesmo, geralmente, já começa por trabalhar em cima do protótipo que poderá ser melhorado, por este motivo, muitas vezes, consegue dar saltos que não haviam sido pensados para o produto original. 3º – A inovação estratégica é encontrada no terceiro patamar. Dela são originados os novos e arrojados modelos de negócios. Os exemplos clássicos desses modelos são encontrados nas empresas aéreas de baixo custo, na alta-costura chique levada à grande massa da população a preços baixos e acessíveis. 4º – A inovação em gestão no topo da pirâmide. Uma coisa é certa, nem todos os tipos de inovação são originados da mesma forma, cada um tem o seu caminho a depender do cenário em que se está envolvido e das pessoas que estão gerando essa inovação. Quando a equipe que está envolvida nesse processo está atenta poderá criar uma capacidade inigualável de criar vantagens que são difíceis de copiar. Todavia, vale salientar que nem sempre a inovação em gestão cria vantagem competitiva, e algumas vezes até mesmo pode dar errado. Todavia, esse é um campo em expansão, falam-se muito nos outros tipos de inovação, encontramos centenas de artigos sobre inovação técnica, de produtos, de serviços, mas há inda muito pouco apresentando sobre inovação em gestão. Talvez, porque seja esse um grande caminho e que aqueles que o descobriram, por estar usando-o como uma vantagem competitiva certamente não irão apresentar nada no mercado. Na verdade se percebe que são poucas as empresas que possuem um processo de inovação contínua. O mais constatado é que apenas quando os tempos estão difíceis, ou seja, quando os mares estão infestados de concorrentes, os quais por sua vez, atuam como ferozes tubarões famintos e predadores é que as empresas começam a pensar em alternativas e modelos de gestão inovadores. Muitas vezes, se apresentam como se estivessem utilizando modelos de gestão inovadores, mas quando se vai observar a fundo não são mais do que cópias de modelos de sucesso, os quais por não apresentaram a “alma organizacional”, verdadeiramente falando, são rapidamente copiados por outros e por ai vai. Na verdade o que se pode afirmar é que enquanto os executivos do mundo organizacional não entenderem que precisam deixar de pensar como se fossem essencialmente do “mundo lógico” no qual tudo é certo, definido e programado e começarem a entender que precisam pensar e enxergar suas empresas fazendo parte do “mundo biológico” que possui transformação contínua e que é mutante as dificuldades continuarão por existir e, para isto acontecer com sucesso, nada mais necessário do que se disseminar o pensamento criativo e inovador dentro da organização. Em suma, eles precisarão olhar para o ordinário e enxergar o extraordinário, o que não foi pensado e o que não está sendo visto ainda. (*) Fernando Viana [1] Harvard Business Review, Número 1, volume 87, janeiro 2009, p. 77 [2] The Creative Problem Solving Group [3] Hamel Gary, 2007 – The Future of Management
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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