Quando falamos de criatividade e inovação é de se esperar que ao final do processo constatemos que está acontecendo uma efetiva transformação seja em pessoas, em serviços, produtos, processos ou resultados empresariais e, certamente, um efetivo aumento do registro de patentes. Este último é considerado o mais claro indicador para o mundo civilizado que o processo criativo está acontecendo verdadeiramente, embora nem sempre tudo o que acontece possa vir a ser patenteado e registrado.
Tal qual aconteceu com a palavra qualidade nos anos 80, a palavra da moda agora nos mais diversos cenários da sociedade brasileira é inovação. São milhares de cursos, editais, congressos e ações as mais diferenciadas visando gerar inovação.
Muito bem, estes são fatos e dados. Mas… o que temos de concreto na verdade? Com tanto dinheiro, com tanto edital, tanto concurso e com tanta ação para a inovação o que se observa é que os resultados medidos oficialmente pelos indicadores formais é ainda fraco.
Segundo Roberto Nicolsky (físico e diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica – Protec), em artigo postado na HSM Online (06/07/2009), “na soma do quatriênio 2005-2008, que compensa os efeitos das oscilações anuais, verifica-se que tivemos 389 patentes concedidas, contra 511 para a Malásia, 2.046 para a Índia e 4.321 para a China”.
E agora? Como explicamos isto? Na verdade como bons brasileiros que somos continuamos querendo colocar o “carro à frente dos bois”. Queremos inovar, isto é a mais absoluta verdade! Mas esquecemos que não adianta apenas ter leis, incentivos e uma lista de prerrequisitos se não começarmos a verdadeiramente atuar no sentido de resgatar e desenvolver o potencial criativo das pessoas nas organizações e instituições. Esse é o primeiro passo. A inovação é o resultado de um processo criativo. Como vamos inovar com pessoas engessadas? Que têm dificuldade em pensar, em criar, em imaginar soluções ainda não pensadas? O processo na verdade é tanto cultural como educacional, portanto muito mais complexo do que imaginamos.
Em 2008, após uma série de pesquisas a Comunidade Europeia constatou que não seria possível tornar a Europa moderna se não fosse feito um trabalho de base com o atitudinal do cidadão europeu, fechado, resiste à mudança e tradicionalista. O que foi feito? Para começar o Parlamento Europeu declarou 2009 como Ano Europeu da Criatividade e Inovação (http://criar2009.gov.pt e 30 países se juntaram para conjunta e simultaneamente ao longo de 2009 disseminarem maciçamente esse conhecimento na Europa. Assim sendo, este ano centenas de palestras, oficinas, congressos, e seminários sobre criatividade e inovação estão acontecendo. Cases estão sendo divulgados e por ai vai… Mas, uma coisa vale lembrar, a ação não foi idealizada apenas com editais, prêmios e dinheiro para inovação e sim através de um processo cooperação intensa e disseminação dos conceitos sobre criatividade e inovação. Porque como já afirmamos anteriormente criatividade e inovação são irmãs siamesas e não podem viver separadas, sem uma a outra não existe.
Esse é o caminho correto, quem gera idéias, cria e imagina são verdadeiramente as pessoas, não podemos ter um processo inovador bem desenvolvido se as fontes de geração de idéias, ou seja, as pessoas estão travadas, não sabem pensar, não estão preparadas para o novo, para a ousadia e para a genialidade.
Não adianta lei, não adianta decreto, não adianta incentivo, não adianta nada porque se não resgatarmos o potencial criativo dos indivíduos inovação – verdadeiramente – não acontece e ponto final.
Essa não é uma decisão nossa é uma decisão do processo criativo, para chegarmos à inovação precisaremos, antes de tudo, aprendermos efetivamente a criar, a ver as coisas sobre vários ângulos, a ver o visível e enxergar o invisível, a entender que a criatividade não é um dom e sim uma questão de atitude.
(*) Fernando Viana