INOVAÇÃO: QUE CAMINHOS SEGUIR? (*)
È impossível negarmos hoje em dia que inovação é a palavra chave para o sucesso no mundo dos negócios. Todavia, lamentavelmente, percebemos também que: 1º – na maioria das vezes, o conceito de inovação está deturpado; 2º – que empresas pressionadas pela cultura do resultado imediato terminam por concentrar-se em pequenas melhorias nos seus produtos ou serviços que poderão dar um crescimento rápido, mas logo levam à diminuição dos retornos. No entanto o que constatamos é que os mercados estão cheios de novos produtos e os clientes estão cheios e se cansam rápidos desses “novos” produtos que apenas dizem serem novos, mas na verdade não são.
No primeiro caso, mais por desconhecimento profundo do processo, os líderes organizacionais não entendem que a inovação é a parte final de um processo criativo, que se inicia com o estabelecimento na organização de um clima favorável à geração de ideias e, consequentemente à criatividade. E, como isso não existe, numa maioria expressiva de organizações, as possíveis ideias que poderão gerar a inovação são mortas ainda nos seus nascedouros. Isso acontece porque não existe na organização a cultura do adiar o julgamento, de buscar o novo, o inusitado, o ousado. E, aquelas ideias mais interessantes que se fossem trabalhadas com mais cuidado e técnica gerariam certamente processos, produtos ou serviços inovadores, lamentavelmente são mortas já no seu nascedouro.
O que acontece é que o nosso padrão de julgamento está fundamentado em experiências anteriores que já foram consideradas certas ou erradas, ou seja, sempre trabalhamos focados nos modelos e experiências que deram certo ou errado no passado. Todavia no mundo atual, não podemos trabalhar mais focados nas experiências do passado; vivemos num mundo de evolução tão rápida que é impossível pensar quais as profissões de futuro dos próximos dez anos. Num mundo em que o que os estudantes aprendem hoje no primeiro ano de sua faculdade certamente estará obsoleto quando terminarem o seu curso de graduação.
Portanto, esta é a realidade e não pudemos de forma alguma mudar o contexto atual em que vivemos, pois o mundo globalizou-se de forma tão intensa que vivemos no momento do “local e global“ simultaneamente.
No segundo caso, como a maioria dos líderes empresariais são implementadores, por esse motivo querem andar rápido sem parar para pensar, pois pensar, segundo a sua ótica, é perder tempo e, por este motivo, ficam imersos no mundo operacional das suas empresas, daí, como resultado, percebem pouco ou quase nada do que acontece no mundo globalizado lá fora. Para entendermos isto, é só observamos a quantidade de empresas sejam micro, pequenas ou médias que não possuem um planejamento estratégico, mesmo o mais simples possível. Na maioria dos casos, essas empresas vivem centradas no ciclo da sobrevivência: vender um produto ou serviço x receber o dinheiro e ter um bom lucro. Nessa linha de pensamento predomina a escassez, competição, controle e repetição. O que significa isto? Na verdade, na maioria das vezes, os gestores acreditam que há pouco disponível no mercado e, por conta disto, competem indiscriminadamente, centralizam as decisões e, como consequência, erra-se demais nas mais diferentes atividades, pois não existe o hábito de pensar, planejar, ousar, buscar o novo, o inusitado. Como não se pensa, não planeja e trabalha-se muito com uma “receita” já elaborada, os colaboradores vivem no “piloto automático”, trabalham como robôs sem saber verdadeiramente o que estão fazendo, erram muito e repetem os mesmos erros constantemente. Os exemplos são muitos no mundo organizacional centrado na sobrevivência e, um fato comum é o despreparo do corpo dos colaboradores, não sabem atender, não se animam por encantar o cliente, por outro lado, também não recebem cursos, pois muitas empresas acreditam que se prepararem os seus funcionários estão preparando-os para os concorrentes; e isso acontece porque não entendem que ao se desenvolver uma equipe isso é incorporado à cultura da organização e esse conhecimento começa a fazer parte da cultura.
Portanto, existem três caminhos a serem seguidos quando se entende que a inovação precisa fazer parte do DNA da organização ou instituição: 1 – a inovação básica ou incremental que são pequenas melhorias em produtos ou serviços, como por exemplo, a Coca-Cola com limão; 2 – inovação relativa: inovações que se baseiam em produtos ou serviços existentes, voltados para novos mercados. Por exemplo, Gillette Sensor para mulheres; 3 – Inovação Conceitual: produtos ou serviços com novo conceito, propostas de valor e modelos de negócios revolucionários. Exemplo: as livrarias com sofás, cafeterias e música clássica ambiente estimulando à leitura.
Vale considerar, todavia, que tanto a inovação básica como a relativa geram retornos em curto prazo; todavia, rapidamente saturam o mercado. Ao passo que a inovação conceitual gera maiores retornos em longo prazo, mas o risco é maior.
A solução ideal é que a empresa tenha uma carteira de inovação que contemple os três caminhos; no entanto é fundamental lembrar que para se desenvolver um efetivo processo de inovação em uma organização é necessário antes de qualquer coisa preparar a ambiência para os colaboradores saber lidar e trabalhar com o pensamento criativo. Essa parece ser a maior dificuldade até agora, muito embora, exista solução.
(*) Fernando Viana
Fundação Brasil Criativo
www.fbcriativo.org.br