Intelectuais da Educação

O Brasil não atualizou o conhecimento universal, não conheceu as vanguardas artísticas, literárias, nem participou de movimento científico através das cátedras, ainda que contasse com grandes mestres, alguns dos quais sintonizados com a discussão mais nova. Foram os corredores das faculdades, os jornais e as revistas, os grupos de jovens engajados nas causas do dia que produziram uma bibliografia crítica, contribuindo para a formação da cultura nacional. Sergipe compareceu aos debates com muitos dos seus filhos ilustres e participou do movimento em favor da fundação da cultura brasileira. Não que as escolas pudessem ser dispensadas de suas colaborações, mas um tipo de saber sacralizado, os preconceitos arraigados e a desconfiança de tudo o que era novidade colocou a sala de aula como um lugar de reprodução do modelo dominante.

 

 

Nas últimas décadas as universidades têm tentado reduzir a distância entre as cátedras e tudo o que de fora dela influi na vida acadêmica e na produção do saber. A Universidade Federal de Sergipe é um bom exemplo a ser citado, graças aos esforços de professores que aderem à militância cultural. Tomando apenas a educação, que é área funcional da cultura, têm-se a mais nítida impressão de quanto tem sido fluente a produção intelectual e científica dos docentes sergipanos, pautando temas essenciais, transformados em objetos de estudos na conclusão dos cursos, no Mestrado e, dentro em breve, no Doutorado, já anunciado.

 

 

Dentre os pesquisadores o nome de Jorge Carvalho do Nascimento cresce na admiração e no reconhecimento, por conta de um labor intenso, e de uma obra que ganha contornos e relevos singulares. Contando com o patrocínio da Universidade Federal de Alagoas, que considerou Intelectuais da educação – Sílvio Romero, José Calasans e outros professores, um livro correto, sob o ponto de vista da academia, diferentemente do que julgou a UFS, Jorge Carvalho do Nascimento anuncia o lançamento dessa nova obra, convidando a todos para o lançamento próximo (dia 17, segunda-feira, 19 horas, no Teatro da UNIT). O novo livro de Jorge Carvalho do Nascimento recupera textos vários, apresentados em congressos e publicados em revistas especializadas e em jornais, ampliando o trabalho cotidiano das cátedras, como a fazer transbordar um conhecimento que não pode, nem deve, ficar restrito às salas de aulas.

 

 

Ao todo são 9 ensaios, sobre pessoas de mestres – Silvio Romero, José Calasans, Maria Thetis Nunes, Abdias Bezerra, Alfredo Montes, Possidônia Bragança -, e sobre temáticas educacionais abordando, principalmente, concursos, remuneração e política interna de escolas, notadamente a Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão. Os mestres valem pelos seus nomes, e pelo acervo de cada um, no serviço duro do ensino. Silvio Romero, que ficou conhecido e aplaudido em todo o País pela sua obra cíclica, de crítico e de historiador da literatura, da filosofia, do direito, da sociologia, passou 30 longos anos como professor do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, desde que concursou-se com a tese Interpretação filosófica dos fatos históricos, em 1880. José Calasans, conhecido da crítica e do público pelos seus ensaios de história, com especialidade seus estudos sobre Canudos e sobre Antonio Conselheiro, foi professor em Aracaju, no Ateneu e na Escola Normal, mudando para Salvador, na Bahia, onde ingressou na carreira acadêmica, fazendo nome de grande mestre e administrador na Universidade Federal da Bahia. Maria Thetis Nunes, patrimônio vivo da historiografia de Sergipe, tem também uma obra referencial, muito além da cátedra. Abdias Bezerra, diretor da Instrução Pública, foi interlocutor em São Paulo, em nome do Governo do Estado, na gestão de Graccho Cardoso, para trazer para  as escolas sergipanas o que de mais novo a pedagogia oferecia. Alfredo Montes, modelo de professor, no Ateneu, na Escola Normal e no Ginásio Sergipense, que fundou e dirigiu por onze anos, atuou  minimizando as diferenças entre o ensino público e o ensino privado. E Possidônia Bragança, que por 50 anos, de 1848 a 1898, manteve uma escola em Laranjeiras, para ensinar às novas gerações, até ser substituída por Quintina Diniz, que mudou o Colégio Sant’Ana para Aracaju, levando-o a quase um século de existência ( o colégio fechou em 1942, com a morte da sua diretora), como uma casa de devotamento à educação. São estes os nomes tratados em Os intelectuais da educação.

 

 

Dos demais ensaios destaca-se o dedicado à Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão, o mais encorpado e o que revela o íntimo de um instituição antiga, que cumpre um papel técnico e substituiu, de algum modo e por muito tempo, uma escola agronômica, que foi um sonho de Sebastião José de Carvalho, nos meados do século XIX, evocado por outros, antes que a UFS instalasse o seu curso. Os bastidores das disputas pela direção da escola, a intromissão política, dão densidade ao ensaio, firmando um rico capítulo da história da instituição – o velho Aprendizado -, à qual o próprio Jorge Carvalho do Nascimento dedicou um livro, todo um livro. As entrevistas de diretores e professores, que revelam o cotidiano das correntes de Poder, engrossam o caldo do conhecimento, dando ao ensaio um relevo esclarecedor.

 

 

O livro do professor doutor Jorge Carvalho do Nascimento tem, enfim, os elementos indispensáveis à compreensão dos fatos e vai cumprir, na academia e fora dela, um uso essencialmente didático, ao lado das práticas diárias das cátedras.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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