O bairro Siqueira Campos, que chamou-se Aribé e que cresceu por conta das Oficinas da Rede Ferroviária, que também lhe deu nome, abrigou, em épocas distintas, figuras cujas atividades atraiam centenas de pessoas, às suas ruas, em busca de curas e milagres. O mais famoso dos curadores foi o Irmão Fêgo – Elfego Nazário Gomes, funcionário das oficinas da Leste Brasileiro – nascido provavelmente em 1881,chegou com o trem, que desde 1913 corria nos trilhos desde a Bahia até Aracaju e que a partir de 1915 adiantou-se até Própria, – morava no Aribé desde 1925, começou a curar por volta de 1926, era casado, pai de 4 filhos, e em torno do seu nome e da sua figura mística foi criado o Grupo Espírita Irmão Fêgo, presidido por Osvaldo Martins Peralva e, mais tarde, por Lívio Pereira. A casa do Irmão Fêgo, na rua de Goiás 18, reunia multidões de “todas as classes sociais; cegos, aleijados, doentes físicos e morais”, como registrava o Sergipe-Jornal, que procuravam cura, ouvindo trechos da Bíblia, trechos espíritas de Alan Kardec e a pregação própria do “santo do Aribé”, como ficou conhecido em 1933, quando a água do quintal da sua casa, dada a beber aos doentes, realizava curas e atraia número cada vez maior de doentes e necessitados de ajuda. Modesto, discreto no que fazia, o Irmão Fêgo não cobrava nada pelo seu trabalho de curar doentes e salvar vidas. Nas suas prédicas chamava a atenção dos que lhe procuravam para que praticassem o bem, tivessem pena da humanidade sofredora e seguissem todos os bons ensinamentos de Jesus Cristo, passando depois a mão sobre o corpo dos pacientes, dizendo: “a dor já passou.” Os doentes diziam, agradecidos, “passou.” Irmão Fêgo dizia que começou a curar na sua própria casa, quando um dos seus filhos adoeceu e ele recorreu a Deus, para salvá-lo. Depois, na leitura do Novo Testamento, encontrou o estímulo para a cura, repetindo que “todo aquele que tem fé, sendo bom e praticando o bem, realizará milagres.” A vizinhança tomou conhecimento da cura e a partir de então transformou-se num “santo” no Aribé. Cavando um poço e colocando uma bomba para tirar água, no quintal da casa – antes trazia água para o gasto das oficinas da Leste – e distribuir com os vizinhos, levou o Irmão Fêgo a colocar os seus fluidos, que na sua opinião faziam a água milagrosa, quando tomada pelos doentes que procuravam a cura em sua casa. Certa feita, naquele mesmo ano de 1933, Irmão Fêgo curou um cidadão italiano, que procurara diversos médicos sem sucesso, e ouviu a oferta de uma casa, como pagamento pela cura. Ele não aceitou, dizendo que esperava receber a recompensa no céu, de Deus, não daqueles que ele curava com o poder de suas mãos e de sua água. Em agosto de 1933, no auge da fama do Irmão Fêgo, o Destacamento da Polícia prendeu, no Morro do Urubu, grupos negros que formavam Candoblés, chamando a atenção para terreiros, como o de Daniel, no mesmo bairro do Aribé, e o de Damiana, que rivalizava com Daniel nas práticas afro-brasileiras, cantando: “Caboclo do mato o que é que come? É “foia” verde É “foia” verde, hôme.” O nome e a memória do Irmão Fêgo sobreviveu em Aracaju e entre os aracajuanos, muito especialmente entre os espíritas. O bairro Aribé mudou, aterrou sua grande lagoa, saneou as ruas, recebeu um novo casario, ligou-se, pela rua de Laranjeiras, ao centro da cidade, recebeu o nome do militar e revolucionário paulista (Rio Claro, 1898, perto de Montevideo – Uruguai, 1930) Antonio de Siqueira Campos, um dos 18 do Forte e integrante da Coluna Prestes, que andou pelo Brasil em 1926, ganhou dois cinemas – Vera Cruz e Bonfim -, que não existem mais, ganhou uma grande praça e uma Igreja, viu ser construída e entrar em uso a nova Estação Ferroviária, e passou a ser caminho para o escoamento do trânsito de Aracaju para o interior do Estado.
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