(Foto: Arquivo Férias Tur) |
A celebração muito festiva do Centenário da Emancipação Política de Sergipe, na presidência de Pereira Lobo, mostrou aos sergipanos, e aos brasileiros, o quadro econômico, cultural e social do Estado. 1920 passou a ser uma referência informativa, consolidando dados que a estatística colocavam como resultados alcançados pelo esforço produtivo da terra.
O Positivismo tinha já popularizado as Exposições, reunindo o que as comunidades podiam fazer, como esforço coletivo, sem prejuízo de tudo o que poderiam sonhar em realizar. Dois autores nascidos em Itabaiana – Francisco Carvalho Lima Júnior e Sebrão, sobrinho – abriram caminho para fixar, quase como uma revelação, as informações colhidas nos Relatórios da administração estadual, refletindo sobre a vida das comunidades sergipanas.
Itabaiana Grande, como popularizou-se, não era mais o útero das minas de prata, era um quinhão, bem repartido de terras, nas quais produzia mandioca, cereais, e tinha rebanho de gado, guardando uma tradição de antigos curraleiros, espécie de classe formada como uma riqueza ancestral, que rivalizaria, mais tarde, com o comércio das feiras, cada uma com sua potencialidade e exigência. O território não era grande – 628 propriedades, num universo de 8.202, espalhadas por 34 municípios – o que permitia alcançar a 5ª posição no Estado, perdendo apenas para Lagarto, Aquidabã, Nossa Senhora das Dores e Simão Dias (então Anápolis), ganhando de Frei Paulo (então São Paulo), Gararu, Propriá, Tobias Barreto (então Campos) e Riachão do Dantas.
De acordo com Clodomir Silva, autor incógnito do ALBUM DE SERGIPE (Rio de Janeiro: Pongetti, 1920) prosperavam aquele tempo 16 povoados: Caenda, Cajueiro, Capunga, Flechas, Gameleira, Gandú, Matapoã (grifado Matapoan), Moita, Olhos d’água, Pé do Veado, Rapas, Saco do Ribeiro, Taboleiro Largo, Tijupeba e Várzea do Gama, e 2 arraiás: Catinga Redonda e Olhos d’água do Cavalho. Já chamava a atenção o Saco do Ribeiro, “encravado na Sesmaria do Oratório, com movimentado comércio.” No mesmo ano de 1920, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio realizou, em 1º de setembro, o Recenseamento dos Proprietários dos Estabelecimentos Rurais no Estado de Sergipe (Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, 1928), atestando a vocação e o esforço itabaianeiro de progresso, mais tarde reconhecido nos descendentes de João Teixeira, morador do Subúrbio, depois do Sítio Santa Cruz, perto da Igreja Matriz, com mais de uma dezena de filhos, dentre eles Oviêdo Teixeira, e de Eliziário Paes, da Serra do Machado, com seus 12 descendentes, dentre eles Mamede, Pedro e Euclides Paes Mendonça.
Naquele ano de 1920, Itabaiana distribuía suas 628 propriedades rurais nos lugares conhecidos como Candeia, Figueiras, Pedras, Zanguê, Saco do Ribeiro, Salgado, Lagoa da Mata, Serra do Machado, Campo Grande, Serra, Caraíbas, Flechas (então o mais densamente povoado) Várzea do Gama, Sítio Novo, Subúrbio, Riachão, Bernardo, Pé do Veado, Terra Vermelha, Matapoã, Boqueirão, Moita, Arrombado (?), Cova da Onça, Piabas, Congo, Sambaiba, Batinga, Fgueiras, Lagoa Seca, Serra, Serra de Itabaiana, Lagoa, João Gomes, Salgado, Serra Gandú, Igreja Velha, Capunga, Riachinho, Porto, Queimadas, além de outras propriedades, por onde se espalhava a população rural. Nas décadas seguintes, Itabaiana Grande continuou com grande parte da sua população na zona rural, antes de mudar para o centro urbano e crescer, sempre, como testemunho de sua pujança produtiva.
Um indicador, porém, chama a atenção em 1920, o de que entre os 34 municípios do Estado de Sergipe, Itabaiana lidera no número de escolas públicas – 10 – e muitas particulares, rivalizando-se com Laranjeiras e Maroim, cidades ricas de açúcar, que também possuíam 10 escolas públicas. Esta estatística, básica para o conhecimento cultural sergipano, foi registrada por Clodomir Silva com os seguintes números: Simão Dias (Anápolis) 9, Aquidabã 7, Arauá 2, Boquim 4, Campo do Brito 7, Tobias Barreto (Campos) 6, Capela 9, sendo 1 Grupo Escolar, Cristinápolis (Cristina) 4, Divina Pastora 5, Indiaroba (Espírito Santos) 2, Estancia 9, Gararu 5, Itabaianinha 3, Itaporanga 7, Lagarto 9, Nossa Senhora das Dores 9, Pacatuba 6, Porto da Folha 6, Propriá 3 e mais uma dezena de escolas particulares, Riachão do Dantas 5. Riachuelo não tem registro.
O alto índice de escolarização anotado em 1920, com 10 escolas públicas e outras tantas particulares, parece ter ficado no imaginário itabaianense, como um compromisso coletivo, muitas vezes refletido na estatística do ensino universitário, antes da Universidade Federal de Sergipe e da Universidade Tiradentes fixarem seus campus na terra serrana. Como parece explicar o título popular Itabaiana Grande, agora tomado como marca de um site na itanet, para exibir o talento, a pesquisa, os estudos de uma nova geração de estudiosos, que seguem o risco do chão das pegadas de Lima Júnior, Sebrão, sobrinho, Maria Thetis Nunes, Vladimir Souza Carvalho, anunciando outros nomes: Almeida, Wanderley, Robério, Baldock, Antonio Francisco, Riva, Samarone, sem citar todos.