ENTREVISTA: OLIVIER CHAGAS
“Itabaiana não pode se conformar e precisa de muito mais”
Marcos Cardoso
Agora parece um caminho sem volta. O nome do advogado Olivier Chagas cresce na disposição do Partido dos Trabalhadores de ter candidato próprio a prefeito de Itabaiana. O ex-vereador e ex-secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos está convencido de que pode fazer o seu partido finalmente chegar ao poder local, quebrando um histórico de revezamento entre os Teles de Mendonça — grupo de onde nasceu politicamente o ainda prefeito e hoje dissidente Valmir de Francisquinho — e os Bispo de Lima.
Na última terça-feira, 17, Olivier promoveu uma expressiva reunião com os petistas de Itabaiana na sua casa, no aprazível Condomínio Chiara Lubich, para ampliar o debate sobre candidaturas a prefeito e vereadores, onde se definiu que o PT de Itabaiana está aberto a discutir projetos com outros grupos, mas sem abrir mão da candidatura própria a prefeito. Conseguirá? Pelo que se sabe o PT de Sergipe se mantém aliado do MDB do presidente da Assembleia Legislativa, Luciano Bispo de Lima — com o qual o próprio Olivier compôs numa chapa como candidato a vice-prefeito sete anos atrás.
Olivier Chagas tem planos de modernizar Itabaiana a partir das potencialidades que o município oferece, principalmente no comércio e no turismo, que ele vê abandonado. “A gente vê os turistas passando na esquina e não param em Itabaiana”, diz, na entrevista que segue.
Nascido em São Paulo há 50 anos, embora filho de um itabaianense e morador da cidade desde os seis anos, Olivier é advogado há mais de 25 anos, foi presidente do Centro Acadêmico Sílvio Romero, do curso de Direito da UFS, e milita no PT desde os 16 anos. Foi presidente da Adema e depois do cargo de secretário de Estado, foi superintendente Especial do Meio Ambiente e Recursos Hídricos até abril deste ano.
É casado com a enfermeira Adeilma Barreto, com quem tem três filhos: Ícaro, Gabriel e Lucas.
MC – As candidaturas já estão sendo postas em Itabaiana, Luciano Bispo já se definiu pelo empresário Edson Passos e o prefeito Valmir de Francisquinho lançou o seu ex-secretário Adailton Souza, enquanto Maria Mendonça ainda não se definiu. O PT está esperando o que para decidir se terá mesmo candidato próprio?
OLIVIER – O PT tem indicado o meu nome para ser candidato a prefeito. É uma discussão que a cada dia cresce e se consolida, porque há um entendimento de 90% dos filiados do partido de que nós devemos ter candidatura própria. No nível estadual também temos apoio, porque o partido tem uma política de lançar candidaturas majoritárias nas principais cidades. É o caso de Aracaju, de Nossa Senhora do Socorro, de Nossa Senhora da Glória, onde já temos prefeito, e Propriá, dentre outros municípios.
MC – E o que falta para o partido confirmar o seu nome como pré-candidato? Tem uma data prevista para essa definição?
OLIVIER – Acredito que no começo do ano. Agora já em janeiro deveremos ter essa definição. A pré-candidatura será colocada para ser homologada posteriormente no período das convenções.
MC – A oportunidade cresce sabendo que os caciques de Itabaiana não deverão disputar a eleição? Luciano Bispo não vai, Valmir não pode disputar porque já está no segundo mandato, embora Maria ainda não tenha se definido. Isso facilita seus planos? Quais suas reais possibilidades de se eleger prefeito?
OLIVIVER – Itabaiana é uma cidade grande, uma cidade que se desenvolveu muito nos últimos anos, especialmente com obras que têm tudo a ver com o meu partido. Por exemplo: quem levou a Universidade Federal de Sergipe para Itabaiana? Foi o PT. Quem levou o Instituto Federal? Foi o PT. As obras estruturantes e de saneamento realizadas pelo governo do Estado também têm a participação do PT. E as principais lideranças não devem concorrer à eleição. Valmir porque não pode, Luciano tem dito que não rem interesse e a Maria até agora não se manifestou e quando fala publicamente diz que não tem interesse de ser candidata. Por tudo isso, o momento é de renovação. Acho que é o momento oportuno de apresentar um novo projeto para Itabaiana, pensando numa Itabaiana grande, pensando numa Itabaiana que precisa voltar a protagonizar no agreste e no Estado. Temos condições para isso.
MC – Como advogado reconhecido e até querido na sua cidade, ex-vereador do município e secretário estadual do Meio Ambiente que foi bastante atuante, segundo a opinião de pessoas da área, você se considera credenciado a ser prefeito de Itabaiana?
OLIVIER – Modéstia à parte, acho que sim. Tanto pelo que meu partido já realizou pelo município, como vereador que honrei o meu mandato, participei das discussões importantes, me apresentei para o debate, fiz propostas, apresentei projetos marcantes, então meu mandato de vereador acho que foi importante. Como secretário, Deus me deu a oportunidade de estar na Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, onde tem o programa Águas de Sergipe, que investiu mais de R$ 100 milhões em obras estruturantes e no saneamento básico do município de Itabaiana: rede de esgotos, estação de tratamento de esgotos, macrodrenagem, recuperação de perímetros irrigados, política de combate ao uso inadequado de agrotóxicos, fizemos educação ambiental. Então eu acho que tudo isso nos dá o credenciamento para podermos disputar a eleição, a pleitear o cargo de prefeito de Itabaiana.
MC – O que Itabaiana precisa que o prefeito faça pelo município, pela cidade?
OLIVIER – Eu tenho dito que todos os grupos de Itabaiana contribuíram na sua época. Chico de Miguel fez coisas que na sua época eram importantes, depois veio Luciano Bispo, que fez realizações, agora estamos no governo de Valmir, que está conseguindo manter a folha em dia, que mantém a cidade limpa, tem um calendário festivo, que paga os fornecedores e toca algumas obras. Mas Itabaiana precisa de muito mais, Itabaiana não pode se conformar com isso. Se você perguntar qual é a política voltada para a mobilidade urbana, numa cidade de 100 mil habitantes, onde as pessoas têm dificuldade de se deslocar e não se consegue estacionar um carro no centro, não tem nada voltado para isso. Se você perguntar o que está sendo feito pelo turismo, a reposta é zero.
MC – E qual o tamanho do potencial de Itabaiana para o turismo?
OLIVIER – Itabaiana é uma cidade que está no centro do Estado, vê todos os dias os turistas passando na sua esquina – porque os turistas chegam em Aracaju, passeiam na Orla, no litoral, e descem para Canindé – e não param em Itabaiana. E nós temos um Parque dos Falcões extraordinário, único no mundo com aquelas características. Temos a Serra de Itabaiana, que tem um potencial de negócio fantástico, que é um Parque Nacional. Temos um comércio muito bom, um comércio de joias e semijoias, a feira livre mais bonita e melhor de Sergipe. Temos condição de fazer um turismo cultural extraordinário, temos a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, que é a mais antiga do Brasil, onde ninguém menos que Tobias Barreto estudou e foi professor. Veja que referências. Se você souber agregar valor vai chamar a atenção do turista para querer entrar na cidade. Em Itabaiana morou Antonio Conselheiro. As casas onde moraram Antonio Conselheiro e Tobias Barreto deveriam ser tombadas, reformadas para readequá-las à época. Existe a possibilidade de desenvolver um roteiro religioso também. Lembro que o primeiro milagre de Irmã Dulce foi em Itabaiana. Também podemos explorar as potencialidades para o esporte. Além disso tudo, temos também uma rede de churrascarias e restaurantes extraordinária, que não deixa a desejar a nenhum lugar do Brasil. E o município não consegue atender a essa nova realidade de mercado nem para enfrentar o problema do desemprego.
MC – E como um prefeito pode melhorar o ambiente comercial, uma área vital de Itabaiana, que é um município reconhecido pelo empreendedorismo?
OLIVIER – O prefeito tem que ser parceiro e entender que a gestão pública e o setor privado precisam trabalhar ombreados, dialogando sempre. Por exemplo: nós precisamos fazer um processo de revitalização do centro de Itabaiana. Tem que acontecer, mas tem que ser conversado com o CDL, com a Associação Comercial. Temos que pensar essencialmente na questão da mobilidade, para viabilizar o acesso das pessoas ao centro da cidade, àquelas que têm seu transporte particular e essencialmente pensar naquelas que precisam de um transporte público. Na nossa cidade nós não temos um sistema de transporte público eficaz. Nós não temos uma linha de ônibus. Mas temos bairros longínquos, como o bairro Miguel Teles, o bairro Queimada, como o Bananeira, de onde, se uma pessoa precisar chegar ao centro da cidade ela vai ter que ir a pé, ou utilizar um sistema que nem sempre é adequado, como o mototáxi. Temos que pensar na senhora que quer ir ao centro acompanhada do seu filho. Os segmentos organizados são participativos e podem colaborar