J. INÁCIO Há quinze dias Inácio se foi. Ainda posso ver seus cabelos brancos, qual floquinhos de algodão, agora, mais uma estrela a brilhar na imensidão do universo. J. Inácio dos verdes e amarelos, das bananeiras e dos quintais dourados repletos de jaqueiras. Sem dúvida nenhuma um dos grandes gênios da pintura. Na despedida todos enalteceram o seu caráter irreverente e desapegado. Mas se isso confere charme a vida artística no fundo esconde uma lógica perversa: a de que artista tem de ser pobre e desregrado. E emblemático na vida dos nossos pintores que, apesar de serem tantos e tão bons, quase sempre amargam longas dificuldades financeiras com efêmeros momentos de glória. Adoecem, geralmente morrem pobres e magoados com essa nossa incapacidade de reconhecê-los monetariamente. Um desses grandes, Otaviano Canuto, conheci de perto. Seu sonho era conhecer um mecenas, qual no Renascimento, que lhe garantisse grandes trabalhos, murais artísticos onde , finalmente, pudesse exercitar o seu talento. Costumávamos brincar sobre sua tendência para Picasso que viveu em castelos, patrocinado por milionários, cercado de inteligências e pintando mulheres bonitas. Canuto morreu aos 74 anos ainda desenhando, todo dia, para sobreviver! Bispo do Rosário, se aqui tivesse vivido, seria, literalmente, taxado de louco e sua obra talvez nem existisse. O desgosto é grande e desesperança não é bom alimento para a alma criativa. O artista é saudavelmente vaidoso e precisa de alimento espiritual. Sorte é ser a arte libertadora e, apesar da indiferença, vai brotando, aqui e acolá.
Redescobrindo Sergipe-Sao Cristovao-Foto Ana Liborio
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