JESUS, Office Boy

A corrida às igrejas evangélicas deve-se muito, hoje, a ideologia da posse material que os pastores prometem a seus fiéis. Tome posse do carro, da casa, do apartamento, da fazenda, suas dívidas serão todas pagas. Consequentemente existem cultos que viram uma verdadeira esquizofrenia coletiva de possuídos por coisas que não possuem. No Brás, onde estive pessoalmente no culto do pastor Valdomiro, pude perceber que só se pede, quase nunca se agradece.

Mas como ter tantas coisas, tantas dádivas, se a pessoa não se programa, se projeta para tal? Alguns pastores chegam a dizer que algo está errado se você não conseguiu alcançar o esperado. De repente, tudo vira Jesus: foi  Jesus que quis, é Jesus que vai prover, é Jesus que vai abrir as portas. Naturalmente, as pessoas se colocam diante de um poder sobrenatural que vai dar a elas tudo: saúde, amor, riqueza, filhos bem criados e muito sucesso.. O fato é que o homem não entende que Jesus não é funcionário de ninguém, não é office-boy.

Ele é um exemplo. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei’. Toda a trajetória de Cristo é o caminho do abandono, –  ‘Pai, por que me abandonaste?”. O abandonaste aqui é superado apenas pela fé. Se a fé remove montanhas, creiamos na cura, no casamento perfeito, na riqueza e que todas as coisas serão resolvidas em nome de Jesus. E pecado crer assim? Não. Mas é preciso discernimento. Jesus não é um chip à espera de alguém quer quer uma casa no Tivoli residence.

Jesus é um mestre a ser seguido, andava de sandálias e túnica puída e  pedia para ficar sozinho, também no monte das oliveiras. Crer que Jesus vai montar numa moto e entregar a Deus os seus pedidos, só porque você se julga fiel é extremamente presunçoso da parte de alguns religiosos. Depois do advento dos livros de auto-ajuda, febre editorial no mundo todo, as pessoas passaram a colocar Jesus no carro, no celular, na havaiana, – tudo dizendo que foi  Jesus quem quis, é Jesus quem deu, este celular é de Jesus. Jesus virou superstar mesmo antes da peça famosa, mas Jesus não está nem aí para virar Beatles, Jesus quer o coração aquebrantado  do homem, apenas isso, com ou sem sucesso financeiro. O que vemos é que possuídos de misérias pequenas, aclamamos nos templos um Jesus que vai nos dar tudo, sem que mudemos nosso pensar, nosso agir, nosso caminho.

Pede-se a Jesus tudo, mas esquece-se de pedir para nos tornarmos melhores pessoas, melhores almas em busca de ver a sua face. Poucos verão. Metafísica, física quântica, mercúrio, transmutação fora do corpo, incorporação ou o que quer que seja, Jesus não pode virar um depósito de pedidos, embora ele possa abrir o mar e andar sobre as águas. Antes das nossa intenções secundárias, Ele já sabe de todas as nossas necessidades e merecimentos. “Muitos serão convidados, poucos escolhidos”.

É fato. Colocar Jesus como agiota de nossas ambições não só nos desvirtua do amor de Deus, como supomos que podemos enganar Aquele que tudo sabe, porque a tudo vê. Jesus não é o responsável pela fome, pelo tsunami, nem pelo acidente fatal com nosso único filho, nós é que precisamos pela dor, entender os mistérios de estarmos aqui , numa carne perecível e finita. Não dá mais para dar um capacete a Jesus e pedir para que ele entregue uma correspondência e atenda nossos pedidos. O tempo, a morte, o mistério e a fé nos levam a crer num mundo de dimensões bem maiores, – de amor.  Jesus não é Office-boy.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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