JOÃO OLIVA E JORGE AMADO

Dois eventos encerram o mês de setembro, de um ano rico de promoções culturais sergipanas: o lançamento do livro Sobretudo a Imprensa, de João Oliva Alves, e a inauguração da Sala de Leitura Jorge Amado, no Centro de Estudos da Fundação São Lucas, à rua D. José Tomás, em Aracaju. Sergipe, nos últimos anos, tem sido colocado em evidência, com sua múltipla manifestação de arte e de cultura. Ganha visibilidade, principalmente na capital, uma mobilização que valoriza a criação local, nas variadas linguagens culturais. E há público para todas as promoções, demolindo o preconceito que vigorou, por tanto tempo, contra a arte sergipana.

 

O jornalismo é primo próximo da literatura. No Brasil e no mundo escritores consagrados tiveram iniciação nas páginas dos jornais, convivendo com a celeridade da notícia, mais prosaica que poética, no registro do cotidiano. O jornalista é, em essência, um crítico, porque deve aliar os elementos intrínsecos da notícia, com a responsabilidade ética de interpretar os fatos e colocá-los, como água, ao alcance de qualquer leitura. Para tanto precisa dominar a escritura, em toda a sua mágica abrangência.

 

Sergipe tem sido pátria de grandes jornalistas, mestres da arte de escrever e senhores da formação da opinião pública. No passado, Clodomir Silva, Artur Fortes, Prado Sampaio, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Gonçalo Rollemberg Leite, Ávila Lima, Orlando Dantas, Nunes Mendonça, Seixas Dória, Paulo Costa eram luminares do jornalismo sergipano e foram, muitos deles, homens de letras, com assento nas Cadeiras da Academia Sergipana de Letras. Carlos Oliveira, Antonio Garcia Filho, Alberto Carvalho, José Rosa de Oliveira Neto, Ivan Valença, José Carlos Monteiro, Stefânio de Faria Alves, Ariosvaldo Figueiredo, Luiz Eduardo Costa, Fernando Sávio, Jorge Carvalho do Nascimento integram uma geração intermediária, de rara sensibilidade e inclinações artísticas indisfarçáveis.

 

Ainda hoje estão no batente Ivan Valença, com sua verve, Luiz Eduardo Costa, com seus textos antológicos, ao lado dos mais novos como Gilvan Manoel, Luciano Correia, Jozailto Lima, Antonio Vieira, Marcos Cardoso, Adiberto de Souza, Giovani Alievi, Diógenes Brayner que são dos melhores construtores de textos da atualidade, ainda que os meios de comunicação tenham mudado os seus papéis, com a cobertura em tempo real dos fatos do mundo.

 

João Oliva é um jornalista consagrado pelos textos de fundo – editoriais,  que escreveu na Gazeta de Sergipe, no Diário de Aracaju, A Cruzada, e na crônica, opinativa, Nossa Opinião, da Rádio Cultura. Foram anos dedicados à imprensa, no registro do dia-a-dia das comunidades sergipanas, suas carências e anseios, com textos permeados de um tipo especial de magistério, com fortes ingredientes morais, legais, retirados do lastro de valores que presidem a convivência social. Sobretudo a Imprensa é um livro de recortes, destinado a reviver tempos vencidos, fatos marcantes, lutas titânicas em defesa dos direitos difusos da sociedade sergipana.

 

João Oliva Alves tem um currículo extenso de militância jornalística e intelectual e a publicação do livro apenas abre uma estante de excelentes colaborações, onde se inclui a série de Monografias dos Municípios sergipanos, da grande Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (Rio de Janeiro: IBGE, 1959). E mais as suas atividades no Governo Seixas Dória, como Secretário de Imprensa, nos Governos Augusto Franco e Djenal Queiroz, como redator da correspondência palaciana, na Universidade Federal de Sergipe, na Assessoria de Comunicação, no sistema FIES, em outras paragens onde exerceu, com brilho, a profissão.

 

A Fundação São Lucas, presidida pelo médico Dietrich Wielhelm Todt associou-se a White Martins e ao Grupo Editorial RECORD, do Rio de Janeiro, para implantar o projeto Sala de Leitura, numa dependência da sua sede. A Sala de Leitura, ou a pequena biblioteca recebe o nome do escritor Jorge Amado e estará aberta e à disposição dos leitores, não apenas os do Centro de Estudos da FSL.

 

A homenagem a Jorge Amado é merecida. O escritor nascido na Bahia, filho de sergipano, tem raízes e vivências em Itaporanga e em Estância, cidades sergipanas que ocupam lugar destacado na sua biografia. Na primeira morava o seu avô José Amado, para a casa de quem fugiu, aos 12 anos, do Colégio Antonio Vieira, de Salvador, na Bahia. Uma fuga transformada numa aventura de dois meses, terminada com a intervenção do seu tio Álvaro, que o levou de volta ao pai – João Amado de Faria – na fazenda de Itajuípe, no sul da Bahia, região povoada por sergipanos, onde floresceu a chamada nação grapiúna. Em Estância, onde moravam alguns parentes, Jorge Amado buscou refúgio nos tempos difíceis dos patrulhamentos políticos, fazendo amizades que guardou no lado esquerdo do peito e algumas vezes as transformou em personagens de seus livros, alguns ambientados em cenários sergipanos, como Tiêta da Agreste.

 

Em Estancia Jorge Amado casou, com Matilde Mendonça Garcia Rosa, e com ela teve uma filha – Eulália Dalila Rosa, que viveu apenas 14 anos. Também naquela cidade sergipana escreveu, em parceira com a mulher, um pequeno livro de literatura infanto – juvenil A Descoberta do Mundo (1933). Publica, mais tarde, o livro de poesia A Estrada do Mar, edição fora do comércio (1938), distribuindo-o com seus amigos estancianos, dentre eles João Nascimento, poeta, jornalista, proprietário da Papelaria Modelo, espécie de livraria popular, ponto de encontro e de conversa, para onde Jorge Amado acorria, diariamente. Em Estancia começou a escrever Capitães de Areia (março de 1937, concluindo o romance a bordo do navio Rakuvo Maru, que o levava ao México).

 

Em 1963, quando Estância tinha como prefeito Pascoal Nabuco (atual presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe), Jorge Amado recebeu o título de Cidadão Estanciano e em agosto de 1973 mereceu da Assembléia Legislativa, o título de Cidadão Sergipano. Jorge Amado tem, portanto, todos os merecimentos para ter o seu nome afixado como Patrono da Sala de Leitura da Fundação São Lucas, centro destinado a promover a leitura e a literatura.

 

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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