Quem assistiu ao debate sobre a transposição do rio São Francisco, promovido, ontem, pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Brasília, com um mínimo de bom senso, pôde perceber claramente que tudo não passou de uma grande encenação política, onde interesses eleitorais – todo mundo de olho em 2006 – eram disfarçados com doses generosas do mais puro sentimento “nacionalista”.
É possível até que incautos no jogo do poder tenham se convencido das boas intenções dos debatedores, mas quem conhece os políticos brasileiros – sem exceção – sabe muito bem que o grande show de ufanismo visto ontem não passou de um simples jogo de cena para a platéia. Imagine você, caro leitor, qual não foi o grau de interesse de nossos queridos políticos num debate como esse. Um tema controverso, ou porque não dizer polêmico, capaz de alavancar muitos votos nas eleições do ano que vem. Ainda mais quando se sabia que o debate seria transmitido em cadeia de rádio e TV para emissoras da região. Humm! Imperdível. Um verdadeiro campeão de audiência… E de simpatias.
Numa análise simplória podemos, inclusive, afirmar que foi um debate onde ninguém saiu perdendo. Só houve vencedores. O ministro Ciro Gomes, enfático nos números, fez o dever de casa. Garanto que no Ceará – e naqueles Estados que serão “beneficiados” com a transposição do Velho Chico – todos gostaram de sua performance. E isso, sem dúvida alguma, vai lhe render dividendos. O governador de Sergipe, João Alves Filho, por sua vez, mostrou-se à altura do embate. Preparou-se mais do que quando enfrentou o então candidato ao governo, José Eduardo Dutra, no debate promovido pela Rede Globo, em 2002. E, a exemplo de Ciro Gomes, também espera faturar muito em termos eleitorais com a sua atuação de ontem. Imagine você, caro leitor, que até a platéia, composta por deputados federais, senadores e deputados estaduais conseguiu tirar a sua casquinha na audiência e, com toda a certeza, computa, desde já, resultados pra lá de positivos no próximo pleito. Nada como se mostrar “preocupado” com um tema tão importante, não é mesmo? Afinal, só um louco perderia uma chance dessas.
Na realidade, a transposição, todos já sabem, é fato consumado. O edital de licitação já está para sair e o Governo Federal disponibilizou R$ 1 bilhão para o início das obras no Orçamento da União de 2005. O resto é mero discurso. Ou você acha que o presidente Lula, candidatíssimo à reeleição, iria abrir mão de tirar a sua casquinha?