A biografia do médico José Augusto Barreto, que no último dia 16 de julho completou 80 anos, tem alguma coisa próxima com a vida de Lucas, o médico que seguiu a Paulo e de tal modo dedicou-se que o seu Evangelho bem poderia ser intitulado de Evangelho de Paulo. É que assim como Lucas, sírio da antiga Antioquia (cidade turca, antes de ser Síria, sede da primeira comunidade cristã, fora da Palestina) José Augusto Barreto teve, além de sua profissão, uma causa para viver, seu Hospital. Nascido no município de Nossa Senhora do Socorro, filho de José Barreto Góes e de Olga Soares Barreto, sobrinho de Jacomildes Barreto, chefe político udenista de Boquim, José Augusto Barreto estudou Medicina na Bahia, na velha Faculdade por onde passaram grandes médicos sergipanos, na cátedra, como Aranha Dantas e Dr. Cotias, na sala de aula, como Felisbelo Freire, José Rodrigues da Costa Dória, que governaram Sergipe com a República. Formado na turma de 1952, iniciou-se na clínica e logo tornou-se um clínico geral e cardiologista, tendo seu consultório do Ed. Aliança um dos locais mais freqüentados de Aracaju. Naquele mesmo local da rua Laranjeiras, e já com clientela certa, atendia Lauro Porto, especializado em otorrinolaringologia. Era também famosos os consultórios do Dr. Francisco Fonseca, tisiologista, que mantinha próximo o aparelho de Raio X, o do Dr. José Machado de Souza, de pediatria, o do Dr. Carlos Melo, médico de mulher, todos na rua João Pessoa, dentre muitos outros, espalhados pelas ruas centrais da cidade. Fora do centro foram poucos, naqueles anos de 1940/1950/1960, os exemplos: Armando Domingues, vindo da Bahia, que elegeu-se Deputado Estadual pelo Partido Comunista Brasileiro, e, bem mais tarde, Alexandre Menezes, procedente de Pernambuco, sergipanizado como professor. Especializado em cardiologia pela Universidade de São Paulo, e na Associação Americana de Cardiologia, em pouco tempo José Augusto Barreto tornou-se médico da elite sergipana, responsável pelo ritmo cardíaco de homens e mulheres, referência que por volta de meio século marcou a história da medicina em Sergipe. Mesmo aqueles que buscavam tratamento fora do Estado e até fora do Brasil, tinham no acompanhamento do Dr. José Augusto Barreto uma esperança a mais para as suas aflições. Homem simples, educado para o diálogo, sabia que conquistara Aracaju com sua ciência, fazendo da sua casa na rua Campos um complemento do seu consultório, sempre aberta para atender a todos que buscassem o socorro de sua medicina. Médico renomado, com agenda cheia todos os dias, parecia ter a última palavra nos diagnósticos. Professor, tinha consciência do quanto poderia abrir caminho para renovar a Medicina sergipana, como o fez. E tudo isto daria, com sobras, para que ele pudesse fazer mais nome, ganhar dinheiro, orientar a família, de médicos, e viver em viagens e congressos, atualizando a sua ciência. Mas, foi muito além da realização pessoal, sonhou com uma obra magnífica, de feição moderna, em toda a amplitude do termo, que deu a Aracaju uma condição diferenciada, no cômputo da história dos hospitais, notadamente os dois mais conhecidos: o Santa Isabel e o Cirurgia (Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite), que foram e ainda são equipamentos essenciais de saúde pública. O Hospital São Lucas, antes uma clínica, que atendia urgências, passou a ser, e por muitos anos tem sido, uma referência singular, que consagra a idéia e o altruísmo do seu fundador. O Hospital São Lucas é um complexo de saúde que tem servido a Aracaju e a Sergipe com rara eficiência, oferecendo serviços especializados, muitos dos quais pioneiros, como os de transplantes, feitos pela equipe dos médicos Fernando Maynard e Ricardo Bragança, que elevaram a qualidade da Medicina praticada em Sergipe. O Hospital São Lucas é, assim, como um divisor de águas, que sem ofuscar o papel histórico que tiveram os velhos hospitais, atualizou os modos e as ofertas dos tratamentos, dos exames, das consultas, enfim criou um conceito diferenciado de trabalhar. Dedicado à sua obra, mas sem abandonar a sala de aula, o estudo, a atualização, José Augusto Barreto colocou seu nome no alto da galeria dos grandes médicos e benfeitores, ao lado de Augusto Leite, Lourival Bonfim, Antonio Garcia Filho, Nestor Piva, José Hamilton Maciel, e outros que marcaram avanços significativos no cotidiano da Medicina em Sergipe, cada um com um papel especial, meritório na história da saúde pública no Estado. O São Lucas não é apenas um hospital, é uma grife, uma reunião de produtos, que não descuida dos estudos e atualizações, um centro de diagnóstico, uma Fundação, promovendo a qualificação permanente dos serviços, espalhados no bairro São José, o que serviu para transformar aquela área num endereço de clínicas, consultórios, laboratórios, e outros que funcionam para atender, com qualidade, a população sergipana. Embora admirado e homenageado pelos poderes públicos, o Dr. José Augusto Soares Barreto continua credor do reconhecimento público, pela sua vida dedicada, há 56 anos, à Medicina, exercendo com sucesso a clínica geral e cardiológica, participando da formação dos jovens médicos, e realizando uma obra de investimentos e de modernização que ainda não tem similar no Estado de Sergipe. Certamente que com seu exemplo José Augusto Barreto acompanha o progresso de clínicas e hospitais, em várias especialidades, inspirados na mesma conduta, e que transformam Aracaju num centro de excelência médica, que nada fica a dever as grandes cidades e capitais do País. José Augusto Soares Barreto: um médico, um empreendedor, um cidadão, que completa 80 anos coberto pela glória do seu trabalho, e pelo exemplo da sua consciência de líder.
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