José Menezes ou Muniz Santa Fé

Um dos livros de sua autoria
JOSÉ MENEZES OU MUNIZ SANTA FÉ

A vida cultural do interior já foi muito melhor do que atualmente. Esta afirmação alcança todos os cenários, desde os ciclos de festas religiosas e populares, incluindo a celebração do Orago, até a circulação de jornais locais, serviços de alto falante, magistério, clero e justiça esclarecidos, intelectuais e leitores atualizados, estimulando a vida local. Algumas cidades sergipanas tiveram, na Segunda metade do século XIX, apogeu cultural, como Maroim que fez, em 1877, seu Gabinete de Leitura e na mesma década de 1870 fazia funcionar um Museu de História Natural; Laranjeiras, com sua imprensa republicana, suas escolas, sua prole de intelectuais; Estancia, com a Lira Carlos Gomes, as edições dos seus autores, como Constantino José Gomes de Souza e José Maria Gomes de Souza.

Em Capela, em Rosário do Catete, em Maroim, em Propriá, em Estancia, em São Cristovão, funcionaram jornais com contribuição poética local. A imprensa, nascida  em Estancia, na Tipografia Silveira, do Monsenhor Antonio Fernandes da Silveira, em 1832, há exatos 170 anos, multiplicou-se por toda a Província, fortalecendo-se na velha capital e em Aracaju, depois de 1855. Enquanto velhos jornais eram mudados com a capital, novas folhas surgiam em Aracaju, mantendo uma indústria tipográfica permanente, atualizada tecnologicamente para atender aos leitores, cada vez em maior número.

Nas edições locais dos jornais sergipanos foram tratados muitos temas relevantes, da mais próxima atualidade, engajando a imprensa às causas do dia. Também nos jornais eram editados poemas, contos, crônicas, revelando autores ou mantendo a presença consagrada de alguns fiéis colaboradores. Assim, Silvio Romero, Fausto Cardoso e Felisbelo Freire tanto escreveram nos jornais da Corte, como nos jornais laranjeirenses, com artigos do mesmo tom, em prol da República.

A vila de Campos, da Freguesia de Nossa Senhora da Imperatriz dos Campos do Sertão do Rio Real, entrou na história pela contribuição intelectual de Antonio Moniz de Souza, (1782-1857), cognominado O Homem da Natureza, por conta dos seus trabalhos de investigação da flora, da fauna e dos costumes dos indígenas e dos negros, e, mais tarde, por servir de berço a Tobias Barreto de Menezes (1839-1889). O parentesco, pelo Moniz, não é único entre intelectuais nascidos em Campos. Abelardo Barreto do Rosário, como José Barreto Filho, pelo Barreto, e José Francisco de Menezes, pelo Menezes, são outros intelectuais, transversalmente descendentes da mesma grande família de Tobias Barreto.

Abelardo Barreto do Rosário viveu e morreu no Rio de Janeiro, mas manteve um contato próximo com a terra natal, contribuindo para a organização de acervo de uma biblioteca, para a promoção de eventos, que evocassem a vida e a obra de Tobias Barreto, alimentando nas novas gerações a admiração pela obra genial do pensador patrício. José Barreto Filho, cujo Centenário de nascimento foi celebrado, no Rio de Janeiro, em janeiro último e José Francisco de Menezes, que nasceu e viveu, sempre, na terra de Tobias, tem uma trajetória mais ligada ao cotidiano da cidade.

Filho de um prestigioso chefe político –  Francisco Sales  Menezes -, José Francisco de Menezes, nascido em 1º de outubro de 1917, experimentou a administração pública, foi prefeito municipal, mas definiu sua vida intelectual cuidando, com sua palavra e sua escritura, da memória do parente ilustre. Em 1955 publicou, pela Livraria Regina, de saudosa memória, a plaqueta Casa de Tobias, texto com o qual ingressa no grupo de estudiosos da vida e da obra de Tobias Barreto.

Em 1988, volta a escrever sobre Tobias Barreto, no jornal Stylo, editado na cidade, chamando atenção para a dupla efeméride tobiática: o sesquicentenário de nascimento e o centenário de morte. E continuou dando as suas opiniões, publicando poemas, colaborando para manter o nome da terra e do vulto ilustre em evidência.

José Francisco de Menezes não ficou, intelectualmente, apenas no grupo de admiradores e de críticos da obra de Tobias Barreto. Poeta, publicou poemas em vários jornais e revistas, como colaborador assíduo da mídia sergipana e sob o pseudônimo de Moniz Santa Fé publicou livro de poesia, mostrando sua sensibilidade e seu engajamento, pela força da palavra e do verso.

José Francisdo de Menezes recebeu, na sua cidade, Miguel Reale, Antonio Paim, Paulo Mercadante, Vamireh Chacon, Nelson Saldanha, Rosa Mendonça de Brito, e outros estudiosos do pensamento brasileiro, que acompanhados de Jackson da Silva Lima, LAB e outros intelectuais sergipanos, revisitaram a terra e a casa de Tobias Barreto, na data natalícia do filósofo. Com o joelho direito no chão, em reverência, José Menezes abriu os braços em nome dos seus conterrâneos, para receber a caravana que homenageava a terra e seu grande filho. Coube a ele, também, falar em nome dos tobienses, na saudação amiga e solidária, que ouviu de Miguel Reale a resposta emocionada, como se naquele momento a terra de Tobias Barreto recebesse o abraço do Brasil.

Pois José Francisco de Menezes fez festa, forte e lúcido, para comemorar 85 anos, em 2002. Forte, lúcido, antenado com o que há de novo sobre Tobias Barreto,- a cidade e o gênio -, o intelectual reafirmou seu compromisso de sempre, pelo qual pode ser reconhecido e admirado por todos os sergipanos. Está aí um exemplo de intelectual que jamais abandonou a terra onde nasceu, jamais abdicou de suas idéias, ou deixou de cultivar a leitura e a escritura, na prosa jornalística ou nos versos dos seus poemas, como um sergipano típico, fiel a Sergipe e aos sergipanos. No ambiente da família e dos amigos, José Menezes parecia um jovem disponível, a espera de uma causa para novamente se apaixonar, como viveu apaixonado por Tobias Barreto, a cidade e o patrono.  Nos últimos anos, contudo, adoeceu, foi hospitalizado algumas vezes, até morrer, na madrugada do dia 29 de fevereiro de 2008, aos 91 anos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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