Na década de 70, as grandes empresas brasileiras iam até as universidades à busca de bons alunos para contratá-los. Era a época na qual as pessoas sabiam que ao fazer um bom curso universitário teriam como certo e garantido um emprego no qual trabalhariam até a sua aposentadoria. Com o passar dos anos isso foi modificando. Hoje em dia, não só no Brasil, como em outros países do mundo a estratégia mudou muito. Os empregos não são mais tão abundantes e os jovens, por sua vez, começaram a escolher em que empresa querem trabalhar e se não gostarem simplesmente vão embora com a maior naturalidade, seja em que empresa for: uma estatal super poderosa, uma multinacional famosa ou um emprego público.
O que aconteceu ao longo desses anos que fez essa mudança radical acontecer? Os jovens da atualidade acreditam que para se candidatarem a um emprego o seu currículo universitário – apenas – não deve ser considerado em primeiro plano, mas, principalmente, a sua vontade de evoluir, a sua criatividade, o seu dinamismo e a sua capacidade de produzir bons resultados. Por outro lado, grande parte das empresas ainda está focada no modelo do passado no qual um bom currículo deve ser a primeira coisa a ser validada e, por esse motivo entram em choques com os jovens cheios de idéias, energia e vontade de crescer rapidamente na empresa.
Acredito que não se trata de se considerar se essas atitudes estão certas ou erradas, ou que é preciso cortar toda a energia dos jovens para que enquadrem no processo empresarial muitas vezes rígido e pesado. Algumas empresas mundiais de sucesso estão adotando modelos muito diferentes fundamentadas essencialmente na mudança dos modelos mentais, na flexibilidade e no contrato por resultados. Não estão presas aos modelos do passado, não são enquadras, mas faturam milhões e milhões de dólares.
Na realidade, todos precisaram entender que o mundo mudou e que as salas de aula não são mais os únicos locais onde os jovens aprendem. Por outro lado, sabemos também que não são os melhores currículos que apontam para os melhores profissionais. A história está cheia de exemplos de gênios que foram péssimos alunos.
Para serem atraídos para uma determinada empresa os jovens precisam estar certos que conceitos como criatividade, estrutura horizontal fluida, democracia, flexibilidade e grandes desafios serão conceitos que estarão presentes e vivenciados no seu dia a dia e não apenas emoldurados nos quadros de regras das empresas.
Outro aspecto bastante importante a ser considerado nos jovens da atualidade é que, hoje em dia, a relação dos jovens com as empresas que trabalham é estritamente profissional; portanto, estarão nelas enquanto as mesmas permitirem que os seus projetos profissionais possam ser atendidos e quando isso não acontecer mudarão de empresa como quem muda de camisa. Esse é um comportamento totalmente diferente dos seus pais e avos, que eram fiéis às empresas nas quais trabalhavam e buscavam o tempo todo a estabilidade no trabalho.
Portanto, trabalhar toda uma vida em uma única empresa é uma coisa que não passa de forma alguma pela cabeça dos jovens atualmente, pois a fidelidade deles é com o seu projeto de vida e nunca com a empresa. Quando percebem que a empresa na qual estão trabalhando não irá lhes permitir crescer profissionalmente, pois não está lhes oferecendo os desafios que esperam encontrar não irão pensar duas vezes em mudar de emprego, sem o menor constrangimento. Por este motivo, estão mais atraídos por empresas jovens, ou que tenham espírito jovem que nasceram na mesma época que eles e por isso têm os mesmos valores.
Assim sendo, percebemos que estamos à frente de dois gigantescos pontos de vista; por um lado, os jovens que chegam querendo que tudo aconteça na maior velocidade; por outro lado, o mundo empresarial, que tem um tempo ótimo para tudo e que ainda está – em grande parte – focado no modelo de negócio piramidal: “As ordens vêem de cima.”
Na verdade, as empresas precisam começar a repensar os seus modelos formais e entender que essa é uma nova realidade que chegou para ficar e, certamente, não será possível moldar esses jovens ao modelo empresarial vivido por seus pais, simplesmente porque o mundo mudou, e nessa mudança tornou o mundo muito pequeno e interconectado à velocidade da luz.
(*) Fernando Viana