Uns dizem que política é cachaça, tamanho é o sabor. Outros dizem que política é o diabo, pelo poder que se impõe até às acertas e traições. Mas triste fim do político que não sabe a hora de parar. Um dia, todo orgulho e presunção se desfazem na derrota inevitável e na rejeição quase absoluta. Até os todo-poderosos hão de sucumbir.
O engenheiro civil Leandro Maynard Maciel foi um dos políticos mais influentes de Sergipe no século 20, capaz de dividir as paixões estaduais entre as décadas de 30 e 70. Foi o nome que melhor se identificou com a poderosa União Democrática Nacional, a UDN. Deputado federal em três mandatos, governador de 1955 a 1959, era senador em segundo mandato, em 1974, quando não soube parar e queria se perpetuar no poder.
Contava já quase 77 anos quando se submeteu ao último pleito, agora pela Arena, sendo derrotado pelo jovem médico propriaense João Gilvan Rocha, do MDB, então com 42 anos. Uma surpresa até para o regime militar naqueles tempos de campanha eleitoral restrita e vigiada e censura à Lei Falcão.
Vinte anos depois, o vexame se repetiu. Desta vez com Lourival Baptista, que em 1994 queria ir para o quarto mandato senatorial seguido. Ele tinha sido deputado estadual, prefeito de São Cristóvão e deputado federal duas vezes, mas chegou ao topo da carreira quando foi governador, cargo que ocupou de 1967 a 70.
Primeiro governador sergipano indicado pelo regime militar, graças à relação de proximidade com Brasília e ao bom momento econômico vivido pelo Brasil no período, conseguiu fazer um governo operoso, realizador de obras importantes.
Lourival governou até o dia 14 de maio de 1970, quando se afastou para disputar o Senado. Ocupou a câmara alta por três mandatos, de 1971 a 1994, sendo que o segundo mandato de senador não foi conquistado nas urnas, mas por indicação. Foi um dos senadores biônicos pós Pacote de Abril de 1977, uma resposta dos militares ao resultado daquela eleição de 1974.
Marcelo Déda reconheceu suas contribuições para o desenvolvimento de Sergipe. E Jackson Barreto contou para este colunista que Lourival Baptista foi de tentar apaziguar. “Ele juntava gregos e troianos, PSD e UDN, que antes não se uniam”, exemplificou, lembrando do slogan daquele governo: “Pacificação e desenvolvimento”.
“Não conheço perseguição, embora ele não precisasse se desgastar com isso, porque os militares já perseguiam. Jugurta (irmão) fez concurso para promotor e os militares da 6ª Região não queriam a posse dele. E o sogro de Jugurta, que era político no interior, pediu a Lourival. E ele sabia que Jugurta era ligado à UNE”, declarou o governador, que já era um importante inimigo político. “Era um bonachão, não era um homem ruim”.
Em suma, Lourival foi um político relevante, o governador sergipano mais poderoso durante o regime. Mas no derradeiro pleito eleitoral que disputou, em 1994, perdeu o bonde da história para o petista José Eduardo Dutra. O velho político já contava com 79 anos, contra os 37 anos do jovem geólogo do PT.
Agora é João. O atual prefeito de Aracaju fez 75 anos no dia 3 de julho. É de longe o político sergipano com mais rodagem em cargos no executivo. Ninguém governou Sergipe e nem administrou Aracaju por mais tempo do que ele.
Foi governador em três mandatos distintos (1983-87, 1991-95, 2003-07) e prefeito da capital por oito anos, a primeira vez em 1975-79, por indicação do governador José Rollemberg Leite e anuência dos generais que comandavam o país. A segunda gestão é esta iniciada em 2013 e que conclui agora.
Por comparação, Edvaldo Nogueira era até então o prefeito mais longevo, com seis anos e nove meses de gestão.
João Alves também foi ministro do Interior no governo José Sarney, permanecendo no cargo de agosto de 1987 a março de 1990. Nunca disputou um cargo legislativo, tarefa da qual incumbiu sua mulher, Maria do Carmo Alves, agora no terceiro mandato de senadora.
Mas o velho político, visionário e realizador de obras importantes em Sergipe, como o sistema de abastecimento de água no sertão, a orla da Atalaia e a ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros, já não tem fôlego para repetir performances anteriores.
Realiza uma gestão sofrível à frente de Aracaju, na qual se destaca uma praça construída à beira mar na praia Formosa, e faz uma campanha que beira o escárnio, que tem como apelo mais forte o piedoso pedido da senadora para que o aracajuano dê uma nova oportunidade para o marido.
Já devia ter parado quando o “menino” Marcelo Déda o venceu em 2006, em pleno mandato governamental. Agora, patina nas pesquisas eleitorais e, como Leandro e Lourival, acabará finalmente tendo que admitir que está derrotado.
Poderia estar viajando com a sua Maria ou brincando com os netos, mas preferiu o destino mais cruel para o político: sair compulsoriamente da vida pública, rejeitado até por aqueles que um dia o amaram.