Limites democráticos do Brasil – Abelardo Romero e a visão crítica do Brasil

Abelardo Romero Dantas, nascido em Lagarto em 1907, na família de Silvio Romero, construiu uma biobibliografia rica, desde que rompeu com os cânones poéticos dominantes, do poema de forma fixa, estrofe definida, rimado e metrificado, para aderir ao Modernismo de Felipo Marineti, cujo Manifesto atraía os jovens intelectuais brasileiros. Ele publicou, nos jornais de Estância e de Aracaju,  alguns poemas experimentais e promoveu, com o amigo e parceiro José Maria Fontes, uma Noite da Poesia Modernista, no cinema Guarany, em Aracaju, em 1928, perante um público nada amistoso para com as novidades literárias. Abelardo Romero foi embora para o Rio de Janeiro, onde moravam muitos dos seus parentes, e passou a integrar os Diários Associados, realizando, com sucesso, uma biografia de intelectual.


A ação jornalística, cotidiana, que em certa medida garantiu a sobrevivência familiar (ele também era funcionário público do Estado do Rio de Janeiro), não destruiu, contudo, o talento do poeta. Ao contrário, circulando no meio intelectual carioca, galgou fama e admiração com seus artigos e com seus livros de poesia, ouvindo aplausos por Trem Noturno, A Musa Armada,Exílio em Casa, O Alegre Cativo, e por outros livros, como O Passado Adiante, Visita ao Rio, que atestam as qualidades da sua poesia, e sua contribuição à literatura brasileira.


Nos anos de 1960, Abelardo Romero enveredou pela prosa, editando na coleção da Editora Conquista,  livros com interpretações do Brasil, como A Origem da Imoralidade do Brasil e Heróis de Batina, deixando inédito  Limites Democráticos do Brasil, com o qual pretendia fechar a trilogia da análise histórica. Limites Democráticos do Brasil é uma releitura de obras nacionais e estrangeiras, que ajudam a fixar o tipo brasileiro, no curso da história do Brasil. Ainda que sejam sentidas as ausências de Silvio Romero, Manoel Bonfim, Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, com suas contribuições esclarecedoras, o livro de Abelardo Romero passa a formação brasileira a limpo, ajudando a compreensão dos fatos. É um livro sério, direto, profundo, inflexível com as mentiras que ficaram em grande parte da bibliografia nacional. Mesmo sendo póstumo, com cerca de 30 anos de escrito, Limites Democráticos do Brasil é um livro da atualidade, que vigora hoje e promete ficar para o futuro, como um alerta aos ufanismos demagógicos de ocasião.


Deve-se a Abelardo Romero, ainda, uma biografia, bem humorada, de Assis Chateaubriand – Chatô – a verdade como anedota, que abriu caminho a outras abordagens sobre a vida do fundador dos Diários Associados. É também de sua autoria o livro Silvio Romero em família, que recupera traços dos seus ancestrais, revive a memória lagartense e destaca o parente afamado. Aposentado, Abelardo Romero retornou a Sergipe, fixando-se na terra berço – Lagarto – dedicando-se a leitura e a redação de textos, na sua casa no Santo Antonio, região da velha Catita. Recebeu as homenagens locais  com o ingresso na Academia Sergipana de Letras, para ocupar a Cadeira nº 15, um lugar de poetas, que tem como Patrono Pedro de Calasans, como primeiro ocupante ou fundador Hermes Fontes, substituindo a Exupero Monteiro e passa a conviver com a elite intelectual do Estado, até morrer, há 30 anos,  cercado de amigos, em 1979, sendo sepultado, entre pêsames e discursos de elogios, no Cemitério de Lagarto.


Limites democráticos do Brasil
, em boa edição da J. Andrade, vem a lume graças aos esforços de Patrícia Romero Dantas, filha e admiradora, que resgata um texto que certamente enriquecerá a bibliografia da história do Brasil.

Lançamento: dia 5, segunda feira, na Academia Sergipana de Letras (Rua Pacatuba, 288) a partir das 16 horas.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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