LOURIVAL BOMFIM: UM SER REINANTE

Há exatos 100 anos, em 22 de outubro de 1909,  em Aracaju, nascia Lourival Bomfim, filho de Serafim Bomfim e Antonia Rosa de Melo. Cedo, aos 7 anos, tornou-se órfão. Iniciou os estudos na escola da Fábrica Sergipe Industrial, de Tales Ferreira, onde seu pai trabalhou como tecelão, funcionário qualificado que progrediu no emprego tornando-se chefe geral. Foi sua primeira professora Dona Cesartina Regis. O curso secundário foi feito no Colégio Atheneu. Depois seguiu para Salvador e com 25 anos tornou-se médico, em 1934, pela Faculdade de Medicina da Bahia.

Fez pós-graduação no Rio de Janeiro em 1935 no Sanatório de Correias, a convite do Dr. Valois Souto. No mesmo ano e na mesma cidade contraiu núpcias com Julieta, prima em segundo grau. Retornaram a Aracaju no ano seguinte, quando nasceu o primogênito Valmique. Passou a atuar no Hospital Cirurgia, na Fábrica Confiança e no Departamento de Saúde do Estado, com radiologista, pneumologista  e tisiologista.

Foi o primeiro professor de Biofísica da Faculdade de Medicina de Sergipe, exercendo grande fascínio entre os seus alunos, um dos quais com  grande influência e que o sucedeu no ensino da disciplina: o professor e ex-reitor da UFS  Eduardo Garcia.

Entusiasta da aviação, Lourival foi um dos fundadores do AeroClube de Aracaju em 1939. Ao lado de Walter Batista, pilotou do Rio até Aracaju o primeiro avião monomotor de Sergipe, adquirido com a ajuda do governador Eronides Carvalho. Os primeiros pilotos sergipanos, entre eles Lourival Bomfim, tiveram um destacado papel no patrulhamento do nosso litoral durante a 2ª Guerra Mundial, participando inclusive dos esforços para o resgate das vítimas dos torpedeamentos dos navios mercantes brasileiros ocorridos em 1942.

Depois vieram mais dois filhos, Zênia e Vollmer, a primeira casou-se com o médico Gilvan Rocha e o segundo tornou-se cirurgião cardíaco, formado em 1961 pela Faculdade de Medicina da Bahia e exercendo suas atividades primeiramente no Rio de Janeiro, onde realizou o primeiro transplante de coração daquele estado, depois se transferindo para Estocolmo, na Suécia, onde  trabalhou por mais de 30 anos.

Mas voltemos a Lourival, o homem. Pessoa simples, extremamente terna, doce, com larga bagagem científica e cultural, um ser místico. Seu livro de cabeceira era a Bíblia e mantinha com Deus uma relação extremamente afetiva. Praticava a caridade e amava a natureza, qual São Francisco de Assis.

Mas podemos falar de Lourival sobre vários ângulos, um ser plural, como médico, ou professor, ou como cientista e defensor do meio ambiente. Dedicou parte de sua vida às coisas do campo, quer na plantação de coqueiros, tal como fez na sua fazenda situada no município de Pirambu/SE, quer na pecuária, atividade que manteve na sua propriedade localizada na cidade de Paranavaí/PR.

Pela sua decisiva atuação na defesa do meio ambiente, Lourival Bomfim teve seu Curriculum Vitae analisado pelas Nações Unidas, sendo indicado para participar do I Fórum Mundial sobre Meio Ambiente em Estocolmo, Suécia. Foi um dos primeiros a alertar sobre o efeito estufa e o aquecimento global. Principal mentor da criação da ADEMA, na década de 1970, exerceu nesta entidade as funções de membro do Conselho de Controle da Poluição das Águas, membro do Conselho do Meio Ambiente e Consultor Permanente para assuntos científicos.

 

Finalmente, Lourival, o médico e professor, como grande colaborador de Antonio Garcia na fundação da Faculdade de Medicina de Sergipe. Para demonstrar o grau de envolvimento dos dois no objetivo de viabilizar a Faculdade passaram dois meses em Recife, pagando do próprio bolso todas as suas despesas para estudar ciências básicas, bioquímica e biofísica, e assim poder melhor transmitir aos jovens alunos conhecimentos mais abalizados. Quem mais se proporia a tamanho desprendimento?

 

Lourival faleceu em 14 de agosto de 1996, em sua  casa na Av. Beira Mar, sereno diante da morte, numa noite de quarta-feira.

 

Para celebrar o seu centenário de seu nascimento, a Academia Sergipana de Medicina, comandando outras entidades, promoveu magnífica solenidade na noite de 22 de outubro último, com elogiado sentido de organização e eficiência, com a presença de autoridades, médicos, familiares e convidados.

 

Coube à viúva do Dr. Lourival, fazer a intervenção inicial. Ela traçou um perfil de esposo, como homem de extrema sensibilidade e fé, segundo ela “um ser místico, que estabeleceu como o cerne do seu viver, um relacionamento muito íntimo, absolutamente pessoal e extremamente afetivo com Deus”. Foi aplaudida de pé, em sinal de respeito e reverência.

 

Em seguida, o ocupante da cadeira 36 da Academia, médico e acadêmico Gilmário Macedo proferiu o seu discurso focado na figura do professor Lourival  Bomfim, o fascínio que exercia sobre seus alunos com a sua inteligência e sabedoria, agradecendo “pela luminosa dialética que nos ensinou”, oferecendo-lhe uma mantra…”Ribbono shel olam (mestre do Universo), para que sua memória reverbere para sempre”.

 

          Prosseguindo as homenagens, foi a vez da professora Clotilde de Lourdes Branco Germiniani, que veio do Paraná especialmente para a sessão solene em homenagem a Lourival Bomfim. “Meu primeiro contato com a Faculdade de Medicina de Sergipe foi em 1965. Logo ao chegar fui recebida por dois expoentes da medicina sergipana e duas figuras basilares da então recém-criada faculdade, os doutores  Antonio Garcia e Lourival Bomfim”. Dedicou a Lourival versos da poetisa paranaense Helena Kolody que, segundo ela, se aplica a sua trajetória de vida. Disse: “Deus dá a todos uma estrela, uns fazem da estrela um sol. Outros, nem conseguem vê-la”.

          Ato contínuo, o professor Eduardo Garcia, da UFS, ex-reitor e sucessor de Lourival na cadeira de Biofísica fez  consistente pronunciamento abordando dados biográficos do homenageado, com ênfase na sua formação científica e cultural. Segundo ele, “Lourival era um homem fascinante. Tinha a segurança e a experiência atestadas por seus cabelos  brancos, mas também a curiosidade sobre as pessoas e as coisas, que se vê na criança que se debruça sobre o mundo.”

         Depois a acadêmica  Zulmira Freire Rezende revelou carinhosamente aspectos da família Bomfim, seu casamento com D. Julieta, os filhos, netos e bisnetos e a trajetória fascinante do homem, professor e médico. Disse: “Lembro aos mais jovens a importância da sua vida, sua força em atingir seus objetivos, o médico cientista que soube utilizar as ferramentas da ciência e da tecnologia, enquanto escutava, olhava nos olhos e segurava a mão do seu paciente”.

         O pronunciamento seguinte coube ao Sr. Luis Carlos Rezende, que abordou aspectos da vida do enfocado relacionados ao meio ambiente. “Incansavelmente, Dr. Lourival estimulava o apego ao estudo científico, ao conhecimento exato dos fenômenos naturais e as interferências da ação do ser humano sobre o ambiente”.  Rezende ressaltou  a grande produção científica do Dr. Lourival, que teve papel de destaque como coordenador do Conselho Executivo de Controle de Poluição das Águas, legítimo fórum de discussões e coordenação de pesquisas e de diagnósticos que embasaram leis, decretos, resoluções adotados pelo Governo de Sergipe.

         Por fim, o médico Vollmer Bomfim, filho do homenageado, agradeceu em nome da família às pessoas envolvidas na elaboração da programação do centenário e disse que seu pai por certo estará muito feliz por ter escutado nessa solenidade quem de fato gostaria de ouvir. “Meu pai mostrou-me a porta para três aspectos fundamentais da vida: Deus, sexo e amor. Ensinou-me o livre arbítrio, a liberdade de pensamento, o respeito ao pluralismo e a tolerância”. Foi muito aplaudido.

         Após os discursos, foi exibido um áudio-visual elaborado pela família, com fotografias do Dr. Lourival Bomfim nos seus mais variados momentos da vida e distribuído um livro com todos os pronunciamentos da noite, que contou com o apoio institucional da SAMAN Empresas. Ao final, a família ofereceu coquetel aos presentes.

        Está de parabens pois a Academia Sergipana de Medicina por esta maravilhosa realização, que homenageia uma figura basilar da medicina de Sergipe.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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