Os sonhos mais lindos

No alvorecer do primeiro dia de 2023, uma pessoa atinge o centenário de nascimento, cercada pelo carinho e admiração da família e

Natália Prado com os filhos Marcos (de saudosa memória, Magali e Lucio

dos amigos. Ela é Natália Prado Dias, minha mãe, fonte inspiradora para filhos, netos, bisnetos, demais familiares e amigos.

Naquele distante 1923, o mundo girava de ponta-cabeça, após uma violenta guerra que envolveu vários países, inclusive o Brasil. O final da Primeira Guerra Mundial foi catastrófico e não resolveu os problemas dos vencedores e muito menos do grande perdedor, a Alemanha. A década terminou com a quebra da Bolsa de New York, em 1929, e no final da década seguinte sobreveio uma guerra ainda maior, iniciada em 1º de setembro de 1939 – a Segunda Guerra Mundial.

Com apenas 16 anos de idade, mamãe viu a guerra começar, conflito que só terminou quando ela já estava com 22 anos, já casada e com um filho. Apesar do palco das ações estar distante, na Europa e Ásia, as repercussões de uma guerra desse porte foram sentidas no Brasil e no pequeno estado de Sergipe, que teve o conflito mundial bem próximo, com o torpedeamento de navios mercantes brasileiros por um submarino alemão em 1942, o U-507, que deixou um rastro de quase 600 mortos somente no nosso litoral sul e em apenas um dia, de 18 a 19 de agosto.

A menina nascida na histórica cidade de Laranjeiras, no primeiro dia de 1923, foi o segundo filho de uma prole extensa do proprietário rural Valentim Vasconcelos Prado (1884-1933), que faleceu muito precocemente, com apenas 49 anos de idade. Ele era proprietário do Engenho Pati. A minha avó materna, originalmente Maria Botto Sobral (1897-1961), que passaria a se chamar após o casamento de Maria Sobral Prado, era mais conhecida como vovó Maricas.

De tradicional família oriunda dos vales dos rios Cotinguiba, Sergipe e Japaratuba, seu pai era também um produtor rural, Francisco Botto Sobral, mais conhecido como Chiquinho do Cabral. Era costume de época o uso de pseudônimos com nomenclatura reduzida, diminutiva, mas em tom sempre carinhoso. Achava muito curioso o rosário de nomes dos irmãos e das irmãs de vovó Maricas: Rosinha, Mimosa, Neném, Maneca, Zazá, Donana, Faustinho, Tonico, Pombinha…

Alternando a vida no engenho Pati e na cidade de Laranjeiras, mamãe teve uma infância feliz ao lado dos irmãos Júlio, o mais velho, Iara, Lurdinha, Walter, José, Valentim e Edson. Com frequência, eles percorriam as terras vizinhas, em charretes e cavalos, de engenho em engenho, cruzando rios e riachos até chegar em Itaporanga d’Ajuda, onde moravam seus tios e primos.

Com a morte do patriarca em 1933, vó Maricas teve grande dificuldade para administrar o engenho e cuidar sozinha dos filhos. Foi então am

parada pelos irmãos Manoel Botto Sobral (Maneca) e Carolina Sobral Garcez (Zazá) e o esposo desta, Silvio Sobral Garcez, que adquiriu o engenho, com a família se transferindo para Aracaju, para residir na Rua Santo Amaro, no centro da cidade.

Recebendo uma pensão que se mostrou gradativamente insuficiente para cobrir as despesas de uma família grande, filhos pequenos, a permanência na capital não durou e ela resolveu aceitar os conselhos para uma nova mudança, agora para a cidade de Itaporanga, passando a residir em uma casa pertencente à família dos tios, bem em frente ao casarão dos Dias.

No casarão dos Dias, que quase tomava metade do quarteirão, vivia o ex-intendente municipal e proprietário rural Aurélio Dias Rezende – Aurelinho – casado com a minha avó Carmela (Carmelita) Conde Dias, a sogra dele, Theolinda Magalhães Conde e a irmã desta, Laurinda Magalhães Conde, mais conhecida na cidade como Dona Senhora, que

fora casada com o médico Aurélio de Mello Rezende, filho do também médico Manoel Simões de Mello, proprietário do Engenho Dira.

Nesse ambiente interiorano, de poucas oportunidades e de fortes laços parentescos, um jovem sente-se atraído por uma prima que morava em frente à casa dele. Antonio Conde Dias,  o jovem Tonico, assim era conhecido na cidade, apaixona-se então pela moça de olhos claros chamada de Natália. Alguns anos de namoro e em 1943 unem-se em casamento na Igreja de Nossa Senhora da d’Ajuda, padroeira da cidade. Dessa união, que perdurou por quase 50 anos, até a morte de papai, em 1992, vieram três filhos, na ordem, Marcos (1944), Magali (1947) e Lucio (1954).

Em 1961, a transferência para Aracaju, passando a residir na Avenida Ivo do Prado, 198, entre as ruas Estância e Maruim, torna-se imperiosa, para propiciar uma melhor educação aos filhos. Marcos já tinha pretensões em estudar Medicina. Magali era uma ginasiana e precisava de mais atenção dos pais, já hospedada na casa dos tios Iara e Arivaldo Carvalho e eu iniciando os estudos. A família enfrentou tempestades e dificuldades financeiras que pareciam intransponíveis. Com destemor, o casal enfrentou e superou tempos difíceis, deixando para todos nós um exemplo de tenacidade e determinação. Jovens, os dois já trabalhavam ainda morando em Itaporanga. Conseguiram a transferência dos empregos para Aracaju com muito esforço e labutaram muito para manter em bom nível a educação dos filhos.

Papai, em vida, foi um exemplo de conduta ética e cívica e de como se manter uma boa convivência; mamãe, amiga, companheira e

Capa do livro biográfico de Natália Prado Dias

incentivadora, sempre foi um forte rochedo que as ondas mais revoltas do mar não conseguiam abalar e, com essa determinação, chega aos 100 anos com um vigor incomum, mantendo acesa a vela da esperança, preservando seus costumes mais tradicionais, mas em dia com a tecnologia que a modernidade nos propicia, fazendo impressos no computador e navegando na Internet com destreza e habilidade, dando-nos exemplos permanentes de otimismo e disposição para as tarefas do dia a dia.

Vê-la centenária nos dias de hoje, com saúde, disposição, de bem com a vida, participando de todas as atividades do dia a dia, com entusiasmo e dedicação, mãe sempre presente na vida dos filhos, dos netos e dos bisnetos, dos sobrinhos e de toda a família, dos amigos, é extremamente gratificante. Tenho certeza de que traduzo o sentimento geral, como se todas as mãos estivessem pressionando o teclado do computador, com todos os corações batendo no compasso da emoção e as mentes iluminando o meu pensamento.

Para celebrar o Centenário de mamãe, que acontecerá em 1º de janeiro de 2023, toda a família reunida brindará o Ano Novo com o lançamento de Os Sonhos Mais Lindos, uma pequena resenha biográfica da família Prado Dias.

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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