Paulo Lobo tem sido um dos artistas mais engajados na vida de Aracaju, com seu programa de TV mostrando partes especiais da cidade, onde a memória flui como um adjetivo do passado, com sua coluna de crítica e noticiário musical, como o fagueiro Apolônio Lisboa todas as segundas, no Portal InfoNet. Agora vai adiante, como editor de uma revista dedicada a capital sergipana, e que emplaca o título forte de Ruas de Ará, imortalizado, já, pela música do mesmo nome, composição rara de um criador singular, cuja relação de intimidade com as ruas aracajuanas não tem precedentes.
Ao longo do tempo Aracaju teve bons cronistas, memorialistas, escritores de fina pena, como Mário Cabral, e em todos encontrou intérpretes sinceros, competentes para o elogio da beleza e da simplicidade, partes de um mesmo perfil. Vários nomes podem ser citados, uns pelo gosto da pesquisa história, desvendando os fatos, como José Calasans, Fernando Porto, Sebrão, sobrinho, outros pelo sotaque leve da crônica, como Garcia Moreno, Santos Santana, Santos Mendonça, sem esquecer os poetas – Freire Ribeiro, Jacinto Figueiredo, José Sampaio -, cada um com sua visão da cidade e da sua gente. Há uma bibliografia formal, de livros, mas há, também, uma imensa lista de artigos, conferências, crônicas anônimas, deixadas nos jornais e nas revistas, tratando da capital de Sergipe.
Agora chega Ruas de Ará, dirigida por Paulo Lobo, para ocupar uma lacuna que, pelo menos neste ano do Sesquicentenário, aprofundou-se. O compositor promete manter mensalmente a nova publicação, contando com o suporte de colaboradores e dessa forma colocar no debate os temas da atualidade, mas não apenas estes, mas todos os caminhos que pela discussão elevem o conhecimento e ordenem a compreensão dos fatos. A idéia da revista vale como presente de aniversário, a uma cidade que não foi devida e merecidamente festejada.
Os 150 anos de Aracaju, que prometiam festa e estudos, passaram pobres, salvo por umas poucas promoções. O ano está descambando para o seu final, restando 100 dias. A oportunidade perdida tem conseqüências, causa danos e expõe o quadro de indiferença dos poderes constituídos. O que há de estudo está registrado na revista de Paulo Lobo, é a discussão em torno da revisão do Plano Diretor de Aracaju. Na 4ª capa da revista está dito que mais de 100 entidades da sociedade civil – é bom saber que existem tantas entidades atentas aos problemas da cidade – e cerca de mil e quinhentos cidadãos representaram, como delegados, a comunidade. Propaganda típica, assembleística, posta na suficiência para legitimar um processo amplo de debates, ressaltado pela Secretária Lúcia Falcon, uma das vozes mais competentes do planejamento, com ampla folha de serviços prestados a Aracaju e a Sergipe. Na sua entrevista a Paulo Lobo – Como será o amanhã? – ela deixa escapar algumas idéias e intenções do Poder Público municipal, enquanto dois outros estudiosos – Rogério Proença e Genival Nunes – esquentam o debate apresentando alternativas para sanar velhos problemas que o tempo acumulou, sob as vistas distantes das autoridades. Tarcísio Teixeira, que fala pela Norcon e pela entidade que une as empresas incorporadoras, também apresenta seus projetos, abonados pelas experiências do bairro 13 de Julho, que também atende pela denominação de Norcolândia, e do novíssimo bairro Jardins, ainda em expansão.
Idéias não faltam, nunca faltaram. O que é preciso, então, é tornar o conhecimento sobre a cidade uma referência, ampliar os horizontes da cidade para suas relações com os municípios limítrofes e próximos, enfrentando questões que se arrastam sem solução, como a do lixo, a do esgotamento sanitário, a do saneamento, a das construções ilegais, dentre muitas outras. Tudo poderia ser diferente, caso os 150 anos da mudança da capital patrocinassem pesquisas, estudos, discussões, publicações, organização de arquivos, como se esperava. O açodamento de decisões é tão grave quanto a descontinuidade administrativa, para uma cidade que ainda não foi bem compreendida em seu plano original e em seu desenvolvimento urbano e social. A atual administração também anda, velozmente, para o seu esgotamento. Sendo o prefeito Marcelo Deda candidato a governador, como pretende, ele dispõe de pouco mais de seis meses de comando da gestão, passando para o vice Edvaldo Nogueira, um aliado leal, sem dúvida, mas uma individualidade, com experiência pessoal e política, que não vai perder a oportunidade de oferecer uma contribuição própria a Aracaju que ele tanto estima. Tais fatos, do âmbito político, interferem no “pra onde vai à cidade”.
Por enquanto Paulo Lobo dá a lição da pertinência, do bom senso, e reúne suas andorinhas para fazer o verão do ocaso do Sesquicentenário da capital sergipana.
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