A escalada da violência no município de Aracaju não é uma surpresa para quem acompanha a cidade e se debruça sobre seus indicadores. A maioria dos bairros não tem nenhuma biblioteca pública, não tem nenhum equipamento esportivo público, os postos de saúde não têm, na sua maioria, medicamentos; as delegacias, fim de semana, estão fechadas e não há nenhum centro cultural. Em todo o município, há proliferação de favelas, enquanto centenas de jovens entre 15 e 19 anos estão fora da escola, metade da população jovem, entre 15 a 24 anos, está desempregada e milhares de crianças (170 mil) necessitam de vaga em creche pública. Para se deslocar na cidade, o aracajuano passa em média 2 horas e 23 minutos por dia no trânsito (o equivalente a um mês por ano) e o transporte público, nos horários de pico, oferece condições sub-humanas. Para serem atendidas por um médico no posto de saúde público, as pessoas esperam em média 66 dias; para fazerem exames em laboratório, mais 86 dias; e, para procedimentos mais complexos, mais 178 dias.
Este é um cenário perfeito para que prosperem a criminalidade e a violência: extremas carências, enorme desigualdade gerando frustração e revolta pela injustiça, ausência do poder público e falta de oportunidades de trabalho, educação, cultura e lazer para jovens de baixa renda, além de serviços públicos de educação, saúde e transporte de baixa qualidade (as pessoas de maior poder aquisitivo e até os responsáveis pelas políticas públicas pagam para usar serviços). Para combater a violência, é claro que precisamos de uma polícia competente, amiga da comunidade, bem capacitada para exercer mais a prevenção do que a repressão, de policiais bem remunerados e honestos, de um sistema prisional que recupere as pessoas para o convívio social, de uma justiça ágil e honesta. No entanto, enquanto não mudarmos o quadro social e econômico e pensarmos apenas em aumentar a repressão, enquanto não atacarmos as raízes dos problemas, estaremos apenas realimentando a espiral da violência.
No bairro Industrial várias vidas estão sendo ceifadas e quer ver coisa é na Terra Dura, bairro América, Manoel Preto, e na grande Aracaju também como Marcos Freire, Eduardo Gomes, Fernando Collor de Melo e etc. Não podemos nos calar diante dessa barbárie, muitos vítimas de latrocínio, outros por porte de drogas e tráfico, quase sempre justificado pela dita sociedade, como “marginal, drogado, desocupado, ladrão”. Como se ali não tivesse uma pessoa, uma família. Nós queremos nossos jovens felizes. Tomando sorvete com a namorada sem medo, andando no bairro com orgulho do lugar que mora, queremos nossos jovens VIVOS E NÃO MORTOS, queremos nossos jovens livres de balas, humilhação, tristeza. Queremos políticas públicas efetivas para nossos jovens, queremos chorar de alegria por termos passado nossos filhos no vestibular, e não por terem morrido no silêncio das balas por uma pedra de crack de 10 reais.
Precisamos urgente Incentivar a aplicação de penas alternativas à prisão e a descriminalização de condutas, de modo a romper com a lógica do encarceramento em massa e combater a superlotação prisional. Aprimorar a apuração da responsabilidade de agentes públicos acusados de praticar atos de violência e de violar direitos humanos. Investir no acesso à justiça, estimulando o fortalecimento e a autonomia da Defensoria Pública. Precisamos desmontar redes de corrupção e criminalidade, identificar as lideranças dessas redes e combater a corrupção e os grupos de extermínio. São medidas de curto prazo que devem ser tomadas, levando-se em conta a situação de guerra civil que vivemos em Aracaju, a qual atinge principalmente a população mais pobre e vulnerável das periferias da cidade. Conclamamos igualmente aos cidadãos e cidadãs, as entidades da sociedade civil, as empresas a empunhar estas bandeiras e se empenhar em colaborar dentro de suas possibilidades e de sua esfera de poder e de influência, ajudando nossa cidade a tornar-se uma cidade de paz, justa e sustentável, uma cidade que ofereça qualidade de vida para todos os seus habitantes.
Precisamos estimular a criação de espaços comunitários destinados ao fortalecimento de vínculos de solidariedade entre os membros da comunidade, bem como para a mediação e solução de conflitos interpessoais, com a participação dos serviços públicos essenciais. Queremos que todas as religiões somem-se ao nosso projeto. Que O Ministério Público Estadual e Federal una-se no combate à violência e puna os culpados pelos seus gestos, suas atitudes criminosas, muitas vezes impune. Rogamos, pois a Deus, força e coragem para que este Manifesto seja recebido pela sociedade, e que, possamos tomar parte desta realidade que assola principalmente nossos jovens como o Elvis, homenageado hoje com um painel, pintado por um grafiteiro de nome Feik do bairro e Joões, Antonios, Paulos e recentemente também o Samurai, um ser que meditava na orlinha do bairro Industrial, barbaramente assassinado sob os olhos do sol.
Fica então, aqui, o nosso Manifesto: das mães, das famílias, daqueles que não têm voz, órfãos do poder constituído e institucionalizado, fica aqui a nossa dor. Que possamos construir uma sociedade de inclusão, mais humana, mais justa e mais pacífica. Obrigado a todos!