Depois de curta e acidentada passagem, como Promotor nomeado, mas não empossado, de Neópolis, Manoel Cabral Machado ingressou na vida administrativa sergipana, no Gabinete do Prefeito José Garcez Vieira, passando depois a atuar no Departamento do Serviço Público, atual Secretaria de Estado da Administração, levado pelo Secretário Geral Francisco Leite Neto, que viria a ser um dos seus grandes amigos e correligionário político. Com a redemocratização de 1945 ajudou a fundar o PSD – Partido Social Democrático, candidatando-se, sem êxito, à Assembléia Estadual Constituinte. Derrotado nas urnas, foi convidado para compor a equipe de Governo do Dr. José Rollemberg Leite, eleito em princípios de 1947, assumindo a Secretaria da Fazenda, onde implantou um sistema austero de gastos, fez uma revisão das propriedades e cobrou impostos de todos os contribuintes, fossem ou não correligionários. Sua atuação, conquanto servisse ao Estado e aos interesses públicos, provocou reações de aliados políticos e ele terminou substituído, passando posteriormente a ocupar a Secretaria de Governo. Mais tarde, por concurso público, foi Procurador do Instituto do Açúcar e do Álcool, em Sergipe. Dedicando-se à política, sem prejuízo de outras atividades, principalmente as do magistério, que abraçou também na década de 1940, Manoel Cabral Machado foi eleito três vezes deputado estadual, aumentando em cada eleição o número de votos: 1950, 1.460 votos; 1954, 1824 votos; 1958, 2.012 votos. Na Assembléia Legislativa exerceu a liderança do seu partido e do Governo, e foi uma das vozes mais acreditadas, com uma oratória fluente, rica intelectualmente, e de forte radicalismo partidário. Sua presença na vida do PSD e nos mandatos que galgou pelo seu partido não interferiram nas suas atividades intelectuais, ou no conceito que sempre gozou no magistério secundário e superior do Estado. Com o movimento militar de 1964 que prendeu e depôs o governador Seixas Dória, levando o vice Celso de Carvalho a assumir o Governo, Manoel Cabral Machado foi nomeado Secretário da Educação, em substituição a Luiz Rabelo Leite. Em 1966 compôs com Lourival Baptista a chapa para Governo do Estado, por via indireta, sendo eleito vice governador. Em 1970 renunciou, juntamente com o governador, sendo nomeado Conselheiro do recém criado Tribunal de Contas do Estado, onde foi três vezes presidente, aposentando-se em 1986, aos 70 anos. Foi, ainda, Consultor do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe e Procurador Geral do Estado.
Sergipe sente o golpe certeiro da morte, que vitimou o professor, intelectual e homem público Manoel Cabral Machado, um dos maiores vultos do século XX, que marcou com sua presença décadas seguidas com atividades inovadoras. Filho do médico Odilon Ferreira Machado e de Maria Evangelina Cabral Machado, neto do bacharel Manoel de Lemos de Souza Machado, Manoel Cabral Machado nasceu em Rosário do Catete, em 30 de outubro de 1916, onde seu pai fixou residência como clinico, em 1915. Criado na Capela, cidade onde seu pai voltou a fixar-se como médico, Manoel Cabral Machado adquiriu uma cidadania capelense, afetiva, presente em sua vida de 92 anos. Depois de desarnar nas primeiras letras, no interior, foi aluno dos colégios Salesiano e Ateneu, em Aracaju, iniciando-se nos movimentos de agitação política estudantil, escrevendo e pronunciando discursos, o primeiro deles diante do corpo morto do jovem Lises Campos, e filiando-se ao movimento integralista e a outras mobilizações dos jovens sergipanos da sua época. Mudando-se para Salvador e ingressando na Faculdade de Direito da Bahia, bacharelou-se na turma de 1942. Entre os convites para advogar na Bahia, ou em outro Estado, Manoel Cabral Machado preferiu retornar a Sergipe, engajando-se na vida local, já como um liberal. Manoel Cabral Machado
No magistério, Manoel Cabral Machado construiu uma extensa e ilustre participação, como professor de História do Brasil e História Universal do Colégio Ateneu; de Noções de Direito e Economia Política da Escola de Comércio Conselheiro Orlando; de História do Brasil e Sociologia da Educação do Colégio Nossa Senhora de Lourdes; de História do Brasil e História Universal do Colégio Tobias Barreto; de Administração e Finanças, Direito Financeiro e Direito Internacional no Curso de Administração e Finanças, da Escola de Comércio Conselheiro Orlando, que precedeu a Faculdade de Ciências Econômicas; de Valor e Formação de Preço na Faculdade de Ciências Econômicas; de Direito do Trabalho, Direito Civil e Economia Política da Faculdade de Direito de Sergipe; de Filosofia Antiga, Filosofia Medieval e Sociologia Geral; e de Sociologia da Escola de Serviço Social.
Membro da Academia Sergipana de Letras desde 1963,, ocupante da Cadeira 25, substituindo a Antonio Manoel de Carvalho Neto, falecido em 1954, Manoel Cabral Machado teve profícua atividade jornalística, no Diário de Sergipe e noutros jornais, colaborou com revistas, especialmente a da Academia Sergipana de Letras e publicou diversos livros, destacando-se: Brava gente sergipana e outros bravos (1999), Elegias a Elohim, Poemas à mãe de Deus, Aproximações Críticas (todos de 2002), Baladas de bem-querer à Bahia (2003) e O aprendiz de oboé (2005). Manoel Cabral Machado presidiu a Academia Sergipana de Letras, e freqüentou, permanentemente, as suas sessões, como um dos mais atuantes debatedores. Foi, ainda, por muitos anos, Orador do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Figura, também, como membro de outras entidades culturais e sociais, como a Associação Franco-Brasileira (Aliança Francesa), destacando-se, nacionalmente, como integrante da Academia Brasileira de Ciências Sociais, com sede no Rio de Janeiro.
Casado, desde 1944, com sua prima Maria de Lourdes, falecida em 2001, Manoel Cabral Machado é pai de 6 filhos: Nina Maria, advogada, já falecida, Odilon, professor e intelectual, Manoel Félix, Administrador de Empresas, Maria de Fátima, professora, Ascendina Maria, Odontóloga e Bacharela em Direito, e Antonia Lúcia. E avô de muitos netos, entre eles o Promotor de Justiça Manoel Cabral Machado Neto.
Manoel Cabral Machado faleceu em Aracaju, na noite de 13 de janeiro de 2009, de falência múltipla de órgãos, recebendo homenagens dos parentes, amigos, admiradores, ex-alunos, de companheiros rotarianos, do Tribunal de Contas do Estado, e da Academia Sergipana de Letras, onde o corpo foi velado no dia 14, sendo sepultado em Capela, no chão que tinha adotado como seu. O Governo do Estado, pelo governador interino deputado Ulices Andrade, decretou Luto Oficial, em homenagem ao ilustre professor, intelectual e homem público sergipano.
Clique aqui e confira a canção Luar de Capela, com versos de Manoel Cabral Machado, música do maestro Leozírio Guimarães, na voz de Marília Teixeira.
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