Manoel Salustino Neto

O ano de 2007, embora rico de efemérides, não reuniu os sergipanos em torno de nomes ilustres, que aniversariaram. Poucos, como Leite Neto e João Bosco de Andrade Lima, no Tribunal de Justiça mereceram vozes de aplauso, evocação de méritos, outros foram homenageados em recintos ainda mais fechados, como Severiano Cardoso, no Conselho Estadual de Cultura, José da Silva Ribeiro Filho, na Academia Sergipana de Letras. Enock Santiago Filho, professor, poeta, desembargador (50 anos de morte), Pelino Nobre, bacharel do Recife, vice presidente do Estado (100 anos de morte), João José do Monte, advogado no Rio de Janeiro, editor da Revista Direito, pensador católico (100 anos de morte), Apulcro Mota, jornalista, vice presidente do Estado, que assumiu com o afastamento de Martinho Garcez (150 anos de nascido) Augusto Maynard Gomes, militar revolucionário em 1924 e 1926, Interventor do Estado, senador da República (50 anos de morte), dentre outros, não mereceram os louvores públicos, justos, que significassem o reconhecimento pela contribuição de cada um, num dado momento da história.

 

Uma pequena comunidade sergipana, contudo, deu um belíssimo exemplo, evocando, recentemente, os serviços prestados pelo Dr. Manoel Salustino Neto, médico que deu a Simão Dias grande parte da sua vida, e que completaria 100 anos de nascido, em 2007. Familiares e amigos tornaram público o carinho, o respeito, o afeto nutridos ao longo dos contatos com o médico querido em toda a região, considerando-o “um homem à frente do seu tempo”, ao sabor “da lembrança, do passado e da vida.”

 

Dr. Salustino não é único em sua missão de curar enfermos em Sergipe. Em muitos municípios sergipanos jovens médicos, muitos deles procedentes de outros Estados, fixaram residência e deram uma contribuição inexcedível, ligando-se à vida comunitária por laços definitivos de amor à vida. Bernardino Mitidieri, em Boquim, Hilton Brasil, em Itaporanga, Evandro Mendes e Humberto Mourão, em Lagarto, Pedro Garcia Moreno, em Itabaiana, José Leitão e Alcides Pereira, em Maroim, são alguns poucos nomes, dos muitos que podem ser sempre citados, evocados pelas melhores lembranças dos gestos solidários, impagáveis. Desde que Sergipe emancipou-se da Bahia que chegaram por aqui médicos dispostos ao exercício de uma cidadania qualificada, que constituiriam famílias e viveriam entre os sergipanos, para o resto da vida.

 

Há casos destacáveis, como o de José Cândido Faria, formado em Montpellier, na França, e que veio morar em Laranjeiras, fundando com o célebre Dr. Bragança o Hospital de Caridade, e que morreu de cólera, deixando viúva a espanhola Josefa Aragonêz e filhos, dentre eles Cândido Aragonez de Faria, que tornou-se, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Buenos Aires e em Paris um dos maiores artistas plástico do seu tempo, sendo autor de mais de trezentos cartazes de cinema, da Casa Pathê, pioneira da arte cinematográfica. Francisco Sabino Coelho, baiano, casado com uma tia do poeta Castro Alves, mudou-se para Sergipe e exerceu a medicina, tanto como a serviço do Governo provincial, como clínico particular, vendo crescer sua família, e dentro dela se destacar Gustavo Sampaio Coelho, um dos desembargadores do primeiro Tribunal de Relação instalado em 1892. Domingos Guedes Cabral, também baiano, foi outro que trocou Salvador por Laranjeiras, onde clinicou e ocupou posição intelectual ilustre, como livre pensador, como autor de textos filosóficos e científicos atualizados, sendo, ainda, Orador do Gabinete de Leitura de Maroim, voltando à sua terra, depois de oito anos, para logo morrer.

 

Dr. Manoel Salustino Neto, nascido em Currais Novos, no Rio Grande do Norte, em 4 de outubro de 1907, era um entre os dez filhos do casal Tomás Salustino Gomes de Melo e Teresa Bazerra Salustino. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, na turma de 1933, clinicou em Penedo, Alagoas, e em Lagarto, Sergipe, onde já estava Evandro Mendes da Silva, e de Lagarto foi para Simão Dias, onde montou consultório, na praça Barão de Santa Rosa nº 35, casou, em 1940, com Ana Carmem de Carvalho, filha do Dr. João Matos de Carvalho e de Rosa de Andrade Carvalho, neta da baronesa de Santa Rosa, uma de suas primeiras clientes em Simão Dias, constituiu família e se tornou referência como médico, como cidadão, como chefe de família, como figura venerável pelo aplauso público. O Dr. Manoel Salustino Neto morreu em Simão Dias, em 27 de junho de 1989, rodeado dos familiares e dos amigos, unânimes no mesmo sentimento de perda e de saudade.

 

 Ao publicar um livro comemorativo do Centenário de Nascimento, a família numerosa do Dr. Manoel Salustino Neto legou aos sergipanos um testemunho que além da importância própria, como crônica de uma vida, é também um documento da ação de muitas décadas, de um médico do interior, climatizado no ambiente, enturmado pelas ligações de família e pelos amigos que fez, ao longo de sua vida exemplar.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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