Eugênio Nascimento, um grande do jornalismo político

Marcos Cardoso*

Era impossível não notar quando Eugênio Nascimento chegava à redação do Jornal da Cidade. Entre o vozeirão inconfundível e a pressa de escrever logo o texto político sempre haveria as inevitáveis chacotas. Uma vez ele se levantou e se dirigiu ao amigo Osmário Santos:

— Osmário, seu nome tem um erro de concordância. O grande colunista de variedades e memorialista ficou sem entender. A redação também não entendeu. Ele emendou: — É que seu nome devia ser Os Mários.

E saía dando gargalhadas, chamando Adiberto de Souza de “Qualha” e Cleomar Brandi de “Breti”. Um por causa de um personagem de Chico Anysio chamado Qualhada, apelido que foi dado por Paulo Serra, também emérito piadista, e o outro numa alusão a Bertolt Brecht. Todos éramos muito amigos e sempre ríamos das palhaçadas de Eugênio, mesmo quando já sabíamos do desfecho da piada.

Estávamos no velho Jornal da Cidade da avenida Antônio Cabral, respirando o ar do rio Sergipe e os eflúvios do Mercado Municipal e a poucas quadras da orlinha do Bairro Industrial. Ali fazíamos o principal jornal impresso e um dos melhores veículos de comunicação de Sergipe. Trabalhávamos no jornal de Antônio Carlos Franco, um homem rico, conservador, filho de Augusto Franco e que vibrava junto de todos nós, os “malucos”, nunca permitindo qualquer forma de censura.

A morte de Eugênio Nascimento encerra uma era romântica e importante do jornalismo sergipano. Ainda mais para o Jornal da Cidade, que já vinha de duas perdas fundamentais também acontecidas neste ano de 2024. Thaís Bezerra morreu em abril e Osmário Santos em maio, deixando lacunas que jamais serão preenchidas.

Thaís Bezerra produziu um colunismo social rentável e imbatível, iniciado na Gazeta de Sergipe de Orlando Dantas e que se tornou referência no Jornal da Cidade. Osmário Santos inovou no colunismo de variedades e nas entrevistas semanais, que renderam dois livros também referenciados: “Memórias de políticos de Sergipe no Século XX”, organizado pelo professor Afonso Nascimento, irmão de Eugênio, e “Oxente, essa é a nossa gente”, sobre vultos populares, prefaciado e revisado por este que vos escreve.

Eugênio Nascimento passou por muitas redações e por vários anos foi correspondente da Folha de São Paulo, quando os grandes jornais do país ainda mantinham representantes em quase todos os estados. Adiberto era correspondente do Jornal do Brasil, Milton Alves de O Globo, José Andrade de O Estado de São Paulo e Ofélia Onias do Correio Braziliense.

Através da Folha, Eugênio levou ao conhecimento do Brasil a atuação criminosa do grupo autointitulado A Missão, uma milícia criada no segundo governo de João Alves Filho para supostamente combater a bandidagem no interior de Sergipe.

Ele também trabalhou na Universidade Federal de Sergipe, onde ingressou no início dos anos 90 nos quadros do Centro Editorial e Audiovisual – Ceav, gestão do reitor Luiz Hermínio e a convite do diretor Jorge Aragão, assessorando seguidamente os reitores José Fernandes de Lima, Josué Modesto dos Passos Subrinho e Angelo Antoniolli.

Há 14 anos, Eugênio e o colega jornalista Kleber Santos criaram o blog Primeira Mão, onde ele mantinha uma coluna política semanal. A última coluna foi postada no dia 29 de junho, pouco antes de iniciar a batalha concluída agora, aos 67 anos.

Mas seu grande momento no jornalismo foi o Jornal da Cidade, onde ingressou definitivamente em meados dos anos 90, passando pela reportagem e editoria Política, antes de se tornar diretor de Redação.

Eugênio foi, fundamentalmente, um dos grandes repórteres de política de Sergipe. Era um homem de esquerda, um dos pioneiros do Partido dos Trabalhadores e da CUT, mas sempre respeitado por todos com quem conviveu, com acesso fácil a cada um que passou pelo poder. Porque não falseava a verdade, não trabalhava com subterfúgios, era ético e íntegro.

Em tempo: substituindo José Araújo, eu fui diretor de Redação do Jornal da Cidade por 10 anos, de 1999 a 2009, quando saí para assumir a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Aracaju, gestão Edvaldo Nogueira. Acácia Trindade foi a editora seguinte, depois Andréa Moura e, por fim, Eugênio Nascimento, que assumiu a direção do JC em 2015. O bastão agora está merecidamente nas mãos de Dilson Ramos.

*É jornalista.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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