Para presidente, quem lidera sempre ganha

Marcos Cardoso*

Pesquisa eleitoral importa e a história comprova isso. Desde que o Brasil se livrou da ditadura militar, os três presidentes da República que disputaram a reeleição e venceram lideraram desde sempre as pesquisas eleitorais.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB), reeleito presidente em 1998, em junho de 1997 já aparecia liderando na aferição do Datafolha, com 33,6% das preferências. O mesmo aconteceu com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reeleito em 2006, que em janeiro de 2005 já era disparado o candidato favorito, com 43%, segundo o mesmo instituto. E com Dilma Rousseff (PT), reeleita em 2014, que em junho de 2013 já mostrava larga vantagem em relação aos adversários, 49%, pesquisa também do Datafolha.

O fenômeno não se repete com Jair Bolsonaro (PL), que poderá ser o primeiro presidente da República a perder a reeleição, a se confirmar o que apontam todas as pesquisas eleitorais realizadas de um ano para cá. Desta vez, é Lula que desde o ano passado lidera os números apurados pelos institutos.

A três meses da eleição, como agora, os candidatos a presidente que se reelegeram mantiveram a dianteira. E desta vez não é o candidato que tenta se reeleger que aparece na frente, mas quem continua sem perder a liderança e sempre guardando boa distância em relação a ele é o principal adversário, Lula.

O Datafolha mais recente aponta Lula com 47% das preferências e Bolsonaro com 28%. O ex-presidente, que nunca ficou abaixo dos 43% na média dos institutos, aparece agora com 54% dos votos válidos, quando se descontam os indecisos e os que pretendem anular o voto, um forte indicativo de que poderá decidir a eleição já no dia 2 de outubro, sem necessidade de segundo turno.

Aviso aos exaltados: é claro que ainda faltando 90 dias a parada não está decidida. Eleição só se comemora depois de contabilizados os votos registrados no confiável sistema desenvolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral e o líder nas pesquisas está enfrentando um adversário capaz de usar de todas as armas para se manter no poder.

Se ele venceu em 2018 manipulando as redes sociais e conquistando adeptos à base de notícias falsas, mamadeiras de piroca e kits gays, agora Bolsonaro é o presidente da República, é o homem que tem a Bic na mão e sempre deixou claro sua falta de escrúpulo no uso da caneta em defesa dos seus interesses.

Bolsonaro e o Congresso Nacional desenvolveram uma estranha simbiose, na qual ele dependente dos parasitas para sobreviver, enquanto aqueles sugam cada vez mais em troca de manter o hospedeiro vivo. Só que o sangue que os parasitas sugam não é necessariamente do presidente, mas o sangue do povo, que o mandatário injeta nas suas articulações vitais.

O exemplo recente mais gritante é a chamada PEC Kamikaze aprovada na quinta-feira no Senado e que agora vai a votação na Câmara dos Deputados. A título de aliviar o bolso do brasileiro, aumentando o Auxílio Brasil para R$ 600 e garantindo um troco para os caminhoneiros de R$ 1 mil, ambos os benefícios até o final do ano, o projeto comete a heresia de mexer na Constituição para tentar salvar a reeleição de Bolsonaro.

O presidente acredita que a ajudinha financeira, que custará aos cofres públicos R$ 41,2 bilhões, lhe garantirá a volta dos votos que o elegeram quatro anos atrás, mas o tiro pode sair pela culatra. O mercado que ele diz tanto prezar não gostou nada da manobra eleitoreira.

A tendência, segundo os especialistas, é que os juros que já estão altos se mantenham elevados por mais tempo, freando os investimentos privados, reduzindo as perspectivas de criação de novos empregos e mantendo a inflação nos níveis insuportáveis atuais.

Além disso, o câmbio ficou mais nervoso, o dólar já subiu de novo, desvalorizando o real, o que deve voltar a pressionar os preços dos combustíveis e empurrar a inflação ainda mais para cima.

É uma aposta cara demais. Se der certo, Bolsonaro ganha alguns votos. O que muitos já nem acreditam, diante do descalabro que é o governo. Há quem fale até que vai receber de bom grado o dinheirinho extra, mas vai votar no Lula.

Sendo assim mesmo, a tendência de o ex-presidente ser eleito no primeiro turno confirma-se como uma certeza. E Bolsonaro será o primeiro da história a perder a reeleição. Todo castigo para presidente autoritário é pouco.

* É jornalista e escritor. Foi diretor de Redação do Jornal da Cidade, secretário de Comunicação da Prefeitura de Aracaju, diretor de Comunicação do Tribunal de Contas de Sergipe e é servidor de carreira da UFS, onde dirige a Rádio UFS e coordena a TV UFS. É autor dos livros “Sempre aos Domingos – Antologia de textos jornalísticos” e do romance “O Anofelino Solerte”.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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