Marcos Cardoso*
Eleição não é jogo que se ganhe ou se perca matematicamente apenas, há sempre fatores imponderáveis e adversos a apreciar. Não há um vencedor ou perdedor absoluto. Por exemplo: o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) e o governador Fábio Mitidieri (PSD), mesmo no comando de máquinas poderosas, não fizeram o seu candidato Luiz Roberto (PDT) o mais bem votado, mas conseguiram levá-lo ao segundo turno. Da mesma forma, a vereadora Emília Corrêa (PL) confirmou o favoritismo, mas não conseguiu vencer a eleição de Aracaju no primeiro turno.
Edvaldo já deve ter superado o trauma de 2012, quando também indicou o seu candidato a sucessor na Prefeitura, Valadares Filho (PSB), que foi derrotado por João Alves Filho (DEM) ainda no primeiro turno. Ali foi uma exceção na recente história política da capital.
Esta eleição de 2024 é atípica porque começou sem um candidato favorito e, talvez por isso mesmo, sem um forte candidato da esquerda. Desde 1985, quando foram retomadas as eleições nas capitais e Jackson Barreto (PMDB) foi eleito prefeito, sempre houve nas disputas pela Prefeitura de Aracaju um nome forte identificado com a esquerda: Wellington Paixão, João Augusto Gama, Marcelo Déda e Edvaldo Nogueira. A exceção foi 2012, quando o ganhador foi João Alves, um político da direita.
Agora pode se repetir a eleição de alguém da direita. Pior, da direita bolsonarista, já que a evangélica Emília Corrêa se orgulha de ser ligada ao ex-presidente politicamente cassado.
Voltando às perdas e ganhos, o PDT do prefeito Edvaldo repetiu o resultado de quatro anos atrás e fez três vereadores, menos que o União Brasil de André Moura, que fez quatro, e o PSD de Mitidieri, que fez cinco vereadores. Inclusive, o mais votado dos 26 eleitos, Ricardo Vasconcelos (PSD), com surpreendentes 11.120 votos. O PT repetiu o pleito passado e só elegeu um vereador.
Aliás, André Moura (União Brasil) fincou com força um pé na eleição de 2026, quando pretende disputar cargo majoritário, Governo ou Senado, confirmando-se elegível. Além de ratificar a filha Yandra como candidata com potencial eleitoral em Aracaju, terceira colocada na disputa pela prefeitura, o seu partido conquistou 23 prefeituras no interior. Duas prefeituras a menos que o PSD do governador Mitidieri, o maior vencedor no âmbito estadual.
Não se deve desprezar a força do senador Rogério Carvalho (PT), que insistiu com a candidatura de Candisse Carvalho, uma neófita na política, e fez dela a quarta mais bem votada para a Prefeitura de Aracaju, superando candidaturas aparentemente mais promissoras. Além disso, o PT de Rogério e do ministro Márcio Macedo conseguiu eleger 6 prefeitos no interior. O PL de Bolsonaro fez 5 prefeitos, o PP do senador Laércio Oliveira também fez 5 e o PDT fez um, em Japoatã.
Solenemente derrotado foi o ex-governador Belivaldo Chagas, vice na chapa de Yandra, que deve ter assinado a aposentadoria na política. Outro derrotado foi o senador Alessandro Vieira (MDB). A sua candidata a prefeita de Aracaju, Danielle Garcia, ficou na quinta colocação, perdendo para Candisse, com menos de 17 mil votos. Em 2020, disputando o mesmo cargo, Danielle conseguiu quase 56 mil votos no primeiro turno, sendo derrotada no segundo turno por Edvaldo Nogueira, quando obteve quase 110 mil votos. Ainda assim, o MDB de Alessandro fez 3 prefeitos em Sergipe.
Em 2020, Edvaldo obteve quase 120 mil votos no primeiro turno, menos que os 126 mil obtidos por Emília Correa e muito acima dos 72 mil votos conquistados por Luiz Roberto agora. O candidato da situação vai precisar do máximo apoio de Edvaldo, Mitidieri e da experiente equipe do marqueteiro Carlos Cauê para conseguir reverter esse quadro.
*É jornalista.