Marcos Prado e a Medicina

Era como se um existisse para o outro e vice-versa. Desde a infância sonhava ser médico. No entanto, não foi fácil. Criado numa

Marcos Prado Dias

cidade pequena, interiorana, com poucos recursos, ainda criança foi colocada pelos pais para estudar em Aracaju, interno, longe da família. Estudou posteriormente sempre em escolas públicas, sem a proteção direta da família. Cresceu e amadureceu com a vida. Fez vestibular para Medicina em Aracaju e Maceió. Passou em Maceió e dois anos depois, regressou para Aracaju, concluindo o curso médico na nossa Faculdade de Medicina.

Ainda como estudante, foi o primeiro estagiário do Hospital Santa Isabel admitido por um inédito concurso, na administração do Dr. Gileno Lima e logo caiu nas graças dos futuros colegas, como Francisco Rollemberg, Moacir Freitas, Everton Oliveira, Carlos Muricy, José Sobral, Orlado Pinto, entre outros. Por isso, teve atuação importante para a realização do Primeiro Congresso Médico de Sergipe, ocorrido em 1966, sob a  presidência do Professor Paulo Freire de Carvalho. Consolidando depois a sua técnica operatória, ajudou na formação de outros futuros médicos, entre eles, Roberto e Genival Ferreira, Sérgio Lopes, Manoel Marcos e José Luiz Sandes.

Médico em 1969, Marcos foi plural. Jornalista, professor, desportista, compositor, músico, cineasta, gestor público e humanista. Uma liderança destacada na vida médica e social de Sergipe.  Iniciou a pratica médica como cirurgião-geral no Pronto Socorro do Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite, graças aos ensinamentos fundamentais do professor Fernando Felizola e do cirurgião Djenal Gonçalves, em uma época onde o plantonista operava tudo, de laparotomias a fraturas e politraumatismos.

Exerceu em seguida a coloproctologia, fundando em Sergipe a sociedade da especialidade, promovendo diversos eventos na área, ajudando na formação de mais especialistas. Foi professor de Anatomia e Cirurgia na Faculdade de Medicina de Sergipe. Comandou o Instituto Parreiras Horta, a Fundação Hospitalar de Sergipe, a Secretaria de Estado de Administração e por duas vezes Secretário de Estado da Educação, deixando um legado importante na área educacional, registrado no livro 2003 – O ano da Educação, publicado pela Editora ArtNer. Com o lema “Educação do Futuro”, Marcos Prado implantou em nosso estado, em apenas um ano, programas importantes e pioneiros para o desenvolvimento educacional, entre eles o Programa Sergipe Cidadão, para erradicação do analfabetismo, que chegou a receber o primeiro premio nacional do Alfabetização Solidária e que foi implantado antes mesmo do programa federal Brasil Alfabetizado, com reconhecimento pela Unesco.

Toda segunda-feira, antes de ir para o trabalho burocrático, visitava logo cedo as escolas públicas, indo de sala em sala conversar com os alunos e professores, para solicitar deles apoio para conservar a escola, dedicação aos estudos e principalmente orgulhar-se de sua escola. Aos surpresos alunos e professores com as visitas inesperadas, dizia: “Fiz toda a minha formação em escola pública e hoje estou no comando da secretaria. Todos vocês podem vencer pela educação, pois é ela que quem liberta, transforma e prepara para os desafios do mundo.

No ano 2000, incentivado por colegas de outros estados, funda em Sergipe a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, ficando no seu comando até se afastar pela doença que o acometeu, de forma avassaladora, em 2008. A entidade somente retomou suas atividades em 2014, dois anos após a sua morte, por iniciativa da Academia Sergipana de Medicina. Em reconhecimento à sua luta e dedicação à causa médico-literária, foi distinguido como o título de Presidente de Honra da Sobrames Sergipe.

No dia que se reverencia o médico, nunca é demais lembrar do aniversariante do dia: Marcos nasceu em 18 de outubro (de 1944), dia do apóstolo Lucas e Dia do Médico. Reverenciar a Medicina e os seus vultos, todo ano, era celebrar a vida e as conquistas de Marcos Prado Dias. Logo cedo, os colegas ligavam para a sua casa para parabenizá-lo. Um deles era o psiquiatra José Hamilton Maciel Silva, que foi um grande amigo e companheiro de jornadas médico-associativas importantes. Em 1985, juntos, retomaram a Somese para os médicos, em campanha memorável. Um divisor de águas na entidade, fundada em 1937 e àquela época em franco processo de declínio. A Sociedade Médica de Sergipe transmudou-se e passou, a partir dali, a experimentar momentos de destaque na história médica de Sergipe.

Hoje, quando a Sobrames lança a sua quinta antologia – Prescrições – em solenidade que vai acontecer no final da tarde no Museu da Gente Sergipana, a sua presença espiritual certamente será lembrada, reforçada e reverenciada, pelo legado que ele nos deixou.

Dias atrás, recebi uma ligação pelo celular do médico endocrinologista João Antônio Macedo Santana, que sucedeu  Marcos Prado na Academia Sergipana de Medicina, na  Cadeira 39, que tem como patrono o inesquecível João Gilvan Rocha. Emocionado, vinha sentindo a forte presença dele ao seu lado, sem saber explicar como e o porquê! Era como se ele estivesse querendo contar histórias e lembrar de fatos vividos. Motivado, escreveu uma crônica, relembrando fatos de sua linda biografia e concluindo assim: “Marcos Aurélio Prado Dias era uma figura humana singular, um brilhante colega médico e professor, solidário, generoso, um amigo leal, um nobre amigo, por sua natureza e atitudes, sendo desnecessário fazer jus à sua descendência nobiliárquico. Um romântico e apaixonado por tudo que a vida lhe ofereceu!”

Marcos Prado, enquanto viveu, foi um ser de luz radiante, esplendorosa, sempre com as mãos estendidas para ajudar ao próximo, os amigos, os familiares, os pacientes e os colegas. Viveu para servir e por isso deve ser sempre lembrado e reverenciado.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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